Exclusivo: mãe que denunciou sequestro de filha no Instagram após esfaquear marido fala pela primeira vez e faz apelo
Exclusivo: mãe que denunciou sequestro de filha no Instagram após esfaquear marido fala pela primeira vez e faz apelo
Insônia, perda de peso decorrente da falta de apetite, choro excessivo, tristeza, uso de medicações para acalmar os nervos e sentimento de culpa. Essa é a realidade da jovem mãe Emile Bispo Nascimento, 24 anos. Ela está há 45 dias sem nenhuma notícia da filha, Aylla Sophia, de apenas 2 anos. O caso ficou conhecido após a jovem usar as redes sociais para comunicar o desaparecimento da bebê.
Nesta quinta-feira (3/9), Emile conversou pela primeira vez com uma equipe de reportagem. Quase dois meses depois da confusão, ela sustentou, ao Aratu On, que a última vez que viu a criança foi por volta das 17h do sábado, 18 de julho, na rua Doutor Aristides de Oliveira, no bairro de Santa Mônica, em Salvador, pouco antes de ter que sair às pressas da casa onde vivia com o com o companheiro, Antônio Oliveira Souza, 73.
Na ocasião, Emile deu uma facada no ombro do idoso. Ela argumenta que a tentativa de homicídio aconteceu após ele sacar uma arma e ameaçá-la de morte, movido pelo ciúmes depois de encontrar um vibrador entre os pertences da companheira. Emile revelou ao Aratu On que, nesse momento, assim como durante a discussão que antecedeu a facada, a pequena Aylla brincava em um cômodo do imóvel e não testemunhou as agressões.
Depois da briga, com medo, ela fugiu sem carregar consigo a menina. "Na hora do desespero eu realmente esfaqueei ele, mas em legítima defesa. Ele tinha uma arma e ameaçava atirar contra mim e eu fugi sem pegar minha filha. Quando eu voltei ao local, não encontrei Aylla. Cheguei a procurar na casa dos vizinhos. Depois foi provado que estavam com ela. Eles negaram na minha cara que ela estava lá. Me desesperei e busquei ajuda nas redes sociais para achar Aylla. Para mim, ela estava sim desaparecida. Não foi por seguidor! Eu já tinha muitos e esse nunca sequer foi meu foco".
O desabafo de Emile, que perdeu os empregos de operadora de telemarketing e técnica de enfermagem depois de toda a situação, tem um motivo. Depois que ela utilizou o Instagram para comunicar o sumiço, foi acusada por vizinhos e desconhecidos de mentir para ganhar engajamento na rede social. As suspeitas ficaram ainda mais forte depois de a Polícia Civil dizer que ela tinha tentado assassinar o pai da criança.
A jovem revelou, ainda, ao Aratu On que, inicialmente, omitiu nas redes sociais que havia trocado agressões com o marido porque ainda não tinha ido à uma delegacia. Além disso, ela nega que tenha sustentado, também no Instagram, a hipótese de que a criança havia sido sequestrada por quatro homens em um carro ou que ela tinha sido levada durante um assalto, porque o pai não estava com dinheiro. "Eu não sei de onde surgiu isso. Não consigo acreditar na maldade humana. Eu não disse nada disso", argumentou.
VIDA CONTURBADA
Desde aquele meados de julho, a vida da jovem virou de ponta cabeça. Além de perder os empregos, não teve sequer informações sobre o estado da bebê, que ainda mamava até ser separada da mãe. "É devastador passar um dia após o outro sem ter notícias de minha filha, sem saber se ela está se alimentando direitinho, dormindo direitinho. Eu só quero poder ver a minha filha e ele [o pai] não deixa".
Aylla Sophia é fruto de um relacionamento conturbado que teve início quando Emile tinha apenas 14 anos. Na ocasião, ela prestava serviços como diarista na casa de Antônio, quando acabou se apaixonando por ele. Ela, que cresceu sem a presença do pai, conta que se sentia segura com ele e foi se envolvendo cada vez mais na relação, que não era bem vista pelos familiares.
"Todos se manifestaram contra por conta da nossa diferença de idade. Acho que pensaram que eu queria me aproveitar dele", lembra Emile. Os anos de namoro prosseguiram e, ao engravidar, o comportamento do companheiro começou a mudar. "Ele duvidou que ela era filha dele. Minha pressão subiu, tive pré-eclâmpsia [uma complicação na gravidez] e Aylla nasceu prematura. Teve que ficar internada, na incubadora, até ganhar peso. Registrei ela sozinha, sem o nome dele no documento. Depois do resultado do exame de DNA comprovar a paternidade de Antônio, foi que fizemos um novo documento com o nome dele", destacou a jovem.
Após a volta, ele, que tem passagens pela polícia por porte ilegal de arma de fogo, levava e buscava a companheira para o trabalho e sentia ciúmes de qualquer um que tentava fazer amizade com ela. Emile diz que Antônio revelou ser agressivo e possessivo, até que fez a primeira ameaça de morte. Emile denunciou e conseguiu uma Medida Protetiva de Urgência (Lei Maria da Penha) em seu favor. Por conta disso, ela conquistou o direito à guarda unilateral da criança. Algum tempo depois, ela perdoou o aposentado e resolveu retirar a queixa para voltar a viver com ele. Até o fatídico dia 18.
"Toda a minha família ama minha filha e está sofrendo junto. Minha mãe liga pra ele, ele não atende e não responde. Xinga de p***, vagabunda e não dá nenhuma satisfação do estado da criança. Eu já prestei conta do erro que cometi ao esfaquear, o que fiz no desespero. Não estou, nem fui presa, então a própria Justiça entendeu que foi legítima defesa. Não tem justificativa para estarem me impedindo de ver minha filha. Eu tenho esse direito", lamentou.
JUSTIÇA E OUTRO LADO
Agora, com uma nova medida protetiva em mãos, Emile Bispo depende da assinatura de uma juíza da 69ª Vara de Substituições da Comarca de Salvador para conseguir reverter a situação criada pelo ex-companheiro.
O inquérito do caso começou a ser feito pela 2ª Delegacia Territorial (DT/Lapinha). Procurada pela reportagem do Aratu On, a titular da unidade, Ana Paula Gomes, disse que não há novidades nas investigações. Tanto Emile quanto Antônio foram ouvidos na unidade policial depois do crime.
A reportagem também ligou para Antônio Oliveira para ele apresentar sua versão sobre o caso. Agressivo, se alterou durante as duas tentativas e não conseguiu manter um diálogo sem xingamentos.
*Sob supervisão do editor, Jean Mendes
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