Caso Marielle: promotor diz que Lessa e Queiroz são 'sociopatas' e que arrependimento é uma farsa
Vieira traçou, ainda, o perfil dos sete jurados: todos são homens, de pele clara e de meia-idade. Todas as mulheres foram dispensadas pela defesa dos réus
No segundo dia de julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, assassinos confessos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, na manhã desta quinta-feira (31/10), o promotor de Justiça Fábio Vieira definiu os ex-PMs como "sociopatas" e afirmou que o arrependimento demonstrado pelos dois no depoimento de ontem "foi uma farsa".
"O que vocês viram ontem no interrogatório dos dois foi uma farsa. Na verdade, eles não estão com sentimento de arrependimento, eles estão com uma tristeza de terem sido pegos. [...] Isso só aconteceu quando as provas que existem no processo, através do trabalho árduo do Ministério Público, junto com seguimentos da polícia, e com Defensoria e tudo mais, chegou à conclusão absoluta de que os executores eram aqueles, não tinham como eles fugirem disso", disse.
Vieira traçou, ainda, o perfil dos sete jurados: todos são homens, de pele clara e de meia-idade. Todas as mulheres foram dispensadas pela defesa dos réus.
Em seguida, outro representante do Ministério Público, o promotor Eduardo Martins, também questionou o arrependimento dos dois, afirmando que o único interesse de Lessa e Queiroz é de reduzir a pena.
"Que arrependimento é esse pedindo algo em troca? Eles são réus colaboradores. Eles não vieram e se arrependeram. Eles vieram ao Ministério Público e pediram algo em troca para falar o que falaram. Até outro dia, estavam aqui negando todas as imputações: 'não estava no carro', 'não era eu', 'não tive motivo nenhum para matar', 'não conheço essas pessoas'. Que arrependimento é esse?", questionou.
Martins também falou sobre o acordo de colaboração premiada que os réus confessos fizeram. Ele destacou que esse é um dos acordos "mais rígidos feitos no Brasil" e afirmou que Lessa e Queiroz "continuarão presos por muito tempo".
"O Ministério Público fez um acordo e eles vão cumprir 30 anos de pena. Eles vão cumprir toda a pena máxima da legislação. A única diferença é que eles terão algumas progressões. Mas, é bastante tempo que eles ficarão no regime fechado. Esse é um dos acordos mais rígidos do Brasil", disse.
Os dois, junto com a promotora Audrey Marjorie Castro, sustentaram que os assassinos confessos assumiram o risco de matar as três pessoas que estavam dentro do carro em 14 de março de 2018 – além de Marielle e Anderson, a assessora Fernanda Chaves estava no banco do passageiro e é a única sobrevivente.
Segundo Martins, a análise dos disparos realizada pela perícia da Polícia Civil mostra que Lessa quis atingir todos que estavam dentro do veículo, "varrendo" o carro de tiros. A fala do promotor contraria o depoimento de Ronnie Lessa, que disse ontem que não queria atingir e matar o motorista Anderson.
O Ministério Público quer a condenação máxima para Lessa e Queiroz: 84 anos. Os promotores pedem aos jurados que eles condenem a dupla com todas as qualificadoras: os ex-PMs respondem por duplo homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe (moralmente reprovável), emboscada (recurso que dificultou a defesa das vítimas) e para assegurar a impunidade do crime – e pela tentativa de homicídio de Fernanda.
Os promotores tiveram 2h30 para falar no plenário e, pouco depois de 12h, a sessão foi interrompida para um intervalo. A defesa terá o mesmo tempo para se dirigir aos jurados. Depois, os sete integrantes do júri popular vão se reunir no Conselho de Sentença para responder a quesitos que serão votados e a decisão será tomada por maioria dos votos. A expectativa é de que a juíza Lucia Glioche dê a sentença no fim da tarde desta quinta.
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