CARONA SOLIDÁRIA: Viajar com desconhecidos é uma opção mais barata, mas vale a pena?
CARONA SOLIDÁRIA: Viajar com desconhecidos é uma opção mais barata, mas vale a pena?
Aplicativos de carona solidária já são uma realidade em diversos países espalhados pelo mundo. No Brasil, essa nova mania tem crescido nos últimos anos e ganhado cada vez mais adeptos. Para entendermos melhor como funciona esse sistema, conversamos com Daniela Schmid Marques, 30 anos, relações públicas da BlaBlaCar, empresa que está presente em 22 países, entre eles o Brasil.
A ideia de criação do aplicativo surgiu em 2003, quando o presidente da companhia, Frédéric Mazzella, precisava sair do interior da França para a capital, Paris. O problema era que ele não encontrava vagas nos trens que faziam o trajeto. ?Com toda essa dificuldade para se deslocar, ele percebeu que, no caminho, eram várias as pessoas que andavam sozinhas nos seus carros. Muitas indo para destinos semelhantes?, explica Marques.
Atualmente, são mais de 45 milhões de pessoas ao redor do mundo que já fizeram o cadastro no site da empresa ou baixaram o aplicativo, disponível para Android ou IOS. O usuário precisa definir data, local de origem e destino, além do valor da viagem, que é controlado pela empresa, com o poder de definir o número máximo a ser cobrado.
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?O objetivo das viagens é compartilhar custos. A gente não quer que as pessoas tenham lucro, mas que o aplicativo funcione, de fato, como um dispositivo de carona solidária?.
FUNCIONAMENTO
No Brasil, onde uma equipe de oito pessoas é responsável pela administração do sistema, foram compartilhados mais de um milhão de assentos, como a empresa costuma classificar a sua demanda, no ano de 2016, com custo médio de R$ 40,00. A ocupação dos veículos é de 2,8 pessoas por destino.
Uma conta simples indica algo em torno de 330 mil viagens neste período, com valores abaixo dos oferecidos pelos meios tradicionais. ?Acaba acontecendo uma espécie de autorregulação. Mesmo porque, todos sabemos que viagens muito caras são sinônimo de vantagem econômica?.
No primeiro semestre desse ano, em Salvador, foram 2.800 m, é de 250 em todo o país. Em Salvador, esse número sobe para 450 quilômetros. Os principais destinos escolhidos pelos baianos são Aracaju, Feira de Santana, Recife, Santo Antônio de Jesus e Itabuna.
?Inicialmente, os investimentos foram maiores nas regiões Sul e Sudeste, porque nesses locais já havia uma cultura de caronas mais difundida e também número maior de carros. No Nordeste, o nosso crescimento foi orgânico, muito na base do boca a boca?, explica Daniela, justificando o pequeno percentual apresentado pela região quando comparada a outras partes do país.
Esse conhecimento passado daqui para ali foi exatamente o que aconteceu com o biológo Marcelo dos Santos Silva e o economista Jonas Lima Vasconcelos, ambos de 30 anos. Namorando à distância, já que Marcelo mora em Salvador e Jonas em Aracaju, eles viram no aplicativo uma possibilidade de matar as saudades sem que isso pesasse tanto em seus bolsos.
VEJA UM COMPARATIVO DE PREÇOS DOS TRAJETO SALVADOR – ARACAJU
?A viagem é mais rápida. Ganho cerca de uma hora em relação ao ônibus. Geralmente, as pessoas são pegas e deixadas na porta de casa, sem qualquer custo adicional. Os motoristas não são obrigados a viajar mais sozinhos e ainda há um custo menor e economia para todos?, explica Jonas, que usa o aplicativo desde o ano passado e o apresentou a Marcelo, que alerta: ?o ponto negativo pode ser justamente você pegar carona com pessoas quem podem não ser tão agradáveis, e aí a viagem acaba ficando chata!?.
ECONOMIA E PRATICIDADE X MEDO E INSEGURANÇA
Mas em países com altos índices de violência como o Brasil, viajar na companhia de estranhos, mesmo com todas as possíveis vantagens econômicas que isto possa oferecer, é algo realmente seguro? Na opinião de Daniela, sem dúvidas:
?Eu brinco que, quando você viaja de BlaBlaCar, você conhece melhor o motorista do que em qualquer serviço de transporte tradicional e isso acontece por conta do perfil da plataforma, que dá às pessoas a oportunidade de se conhecerem antes?.
Para minimizar os riscos, a empresa faz uma série de exigências durante o processo de cadastramento. Confira o passo a passo:
1- Cadastro via Facebook (verificação de amigos, se o perfil é falso, etc).
2 ? Só são aceitas fotos nítidas (o rosto deve estar visível, sem óculos escuros, por exemplo).
3 ? Resumo Biográfico (opcional)
4 – Confirmação do número do celular e do email
5 ? Confirmação de identidade, carteira de habilitação ou passaporte. (Ainda é opcional, mas os usuários têm a opção de só aceitar caronas com motoristas que tenham realizado o processo).
6 ? Avaliações dos usuários.
COBRANÇA
O aplicativo é gratuito, ou seja, não cobra nenhum valor para intermediar o processo de caronas, mas isso pode mudar em breve. ?Aqui no Brasil, a gente só investe por enquanto. Em sete dos 22 países nos quais atuamos, é cobrada uma taxa transacional de 15%. Nesses lugares, o pagamento é feito online. Ainda não consigo precisar quando e como vamos lucrar por aqui, nem qual o modelo será adotado. A empresa não cobra, a princípio, porque é preciso construir uma base de usuários, mas, claro, queremos lucrar?, esclarece Daniela.
Para o economista Jonas, a tendência é que, ainda assim, a carona solidária continue recompensando financeiramente. ?Mesmo com a aplicação dessa taxa, os valores ainda seriam bem menores que os das passagens de ônibus interurbanos, por exemplo. De qualquer maneira, deverá haver alguma pressão – seja direta pelo usuário ou no aparecimento de aplicativos similares – que faça com que essas taxas diminuam. Considero-a elevada, mas entendo que não deverá permanecer assim por tanto tempo?.
Daniela conta ainda que o aplicativo não tem enfrentados problemas jurídicos em nenhum dos países nos quais atua, porque não se caracteriza como prestação de serviço. ?A gente toma esse cuidado, para que os nossos condutores não desenvolvam uma atividade profissional. São pessoas que já viajariam de qualquer maneira?.
É também por isso, diz ela, que a empresa adota o dueto controle e transparência quando disponibiliza os valores para cada trecho de viagem e o limite a ser cobrado.
?A gente se insere nesse universo da economia compartilhada, que é cada vez mais bem vista. É a ideia do uso e não da posse, de quem não tem essa necessidade de ter. Isso é bem visto pela opinião pública?.
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