Camelôs de Salvador vendem lente de contato, óculos e aparelhos ‘fake’; Especialistas reprovam

Camelôs de Salvador vendem lente de contato, óculos e aparelhos ‘fake’; Especialistas reprovam

Por Diorgenes Xavier.

Camelôs de Salvador vendem lente de contato, óculos e aparelhos ‘fake’; Especialistas reprovamIlustração

O que um dia já foi motivo de vergonha ou desconforto para os adolescentes, transformou-se ao longo do tempo em um estilo usual entre os jovens.

Quem hoje tem mais de quarenta anos, certamente, lembra dos primeiros aparelhos que eram utilizados para fazer correção dentária: não muito discretas, aquelas estruturas metálicas inibiam, e muito, o sorriso de quem precisava usá-las.

O mesmo acontecia com os que tinham algum problema na visão. Antes do advento das lentes de contato e das cirurgias reparadoras, essas pessoas usavam óculos com um visual que não colaborava muito com a sua apresentação.

Na escola, não era incomum esses personagens serem  vítimas de ?bullying?, mesmo quando a palavra estrangeira, ainda não havia sido incorporada ao nosso vocabulário. ?Boca de Lata? e ?Quatro Olho? eram os apelidos que, geralmente, ganhavam dos maldosos da turma.

Porém, com o passar dos anos, os acessórios indispensáveis à saúde ganharam formatos novos, se tornando peças coloridas, fashions e elegantes. A modificação, no entanto, atraiu a nova geração e influenciou o surgimento de uma indústria que fabrica aparelhos ortodônticos falsos, além de óculos de grau e lentes de contato coloridas, sem certificação de qualidade.

PRODUTOS DE CAMELÔS

Em Salvador, os produtos são vendidos em camelôs, espalhados pelo centro da cidade, e em muitos bairros periféricos.

Com um sorriso azul e prata, o adolescente M.N.V, 17 anos, morador da Liberdade, revelou ao Aratu Online que adquiriu o ?aparelho dentário? no próprio bairro. ?O mesmo cara que me vendeu é quem faz o implante?, comentou.

Na Rua Coqueiros da Piedade ? uma das vias de acesso à Estação da Lapa ? vários camelôs disponibilizam o produto, que é um kit composto de três peças: o bracket, a peça que é colada diretamente ao dente, o fio  que gera forças sobre os dentes e a borrachinha que tem a função de prender o fio ortodôntico no bracket.

No local, quem comercializa o falso aparelho prefere não falar sobre o assunto, pois sabem dos riscos que a moda pode trazer à saúde.

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Banca de vendas com ‘aparelhos ortodônticos’ na Rua Coqueiros da Piedade. Foto: Dinaldo dos Santos

HIGIENE BUCAL

Segundo o professor do curso de odontologia da Escola de Medicina e Saúde Pública, Leonardo Costa, esses aparelhos causam enfermidades que vão desde uma inflamação na gengiva até a perda de dentes.

?As peças são colocadas por pessoas não habilitadas e com o passar do tempo, os dentes podem ficar moles. Além disso, por ser mais um aparato na boca, a higiene fica dificultada e precisa ser orientada com o acompanhamento, mensal, de um profissional especializado?, ressaltou.

De acordo com o professor, o custo de implantação de um aparelho feito por um bom especialista gira em torno de R$ 2 mil, com avaliações mensais que, dependendo do profissional, pode variar de R$ 150 até um salário mínimo.

Por outro lado, quem quer ficar ?bonito? com o aparelho falso vai fazer uma economia gigantesca. No camelô, isso pode ficar entre uns R$ 20 ou R$ 30. Contudo, se algo de ruim acontecer, o infeliz poderá desembolsar uma grana bem mais alta com um cirurgião dentista.

DE OLHO NOS ÓCULOS

Com os olhos, os riscos da moda não são menores e a informalidade da venda é muito mais ampla. Tabuleiros e bancas expõem uma diversidade de modelos de óculos em vários pontos da cidade. Em um pequeno trecho da Piedade é possível encontrar centenas de exemplares para todos os gostos.

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Variedade de óculos à venda na Piedade. Foto: Dinaldo dos Santos

?Aqui a gente tem lentes escuras, espelhadas, degradês, polarizadas, como o cliente desejar,? disse o vendedor que preferiu ficar no anonimato. Na região, um desses acessórios pode custar entre R$ 20 e R$ 120, dependendo do material utilizado na armação, que pode ser de acrílico, alumínio ou aço inoxidável.

?Eu tenho a réplica de um Chanel que fica por R$ 200. É coisa de primeira linha e na ótica não fica por menos de R$ 1.200?, revelou o vendedor.

Nossa reportagem não registrou a comercialização das famosas lentes de contato coloridas, mas ficou informada de que o produto é mais procurado no período do Carnaval.

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Venda de óculos em ponto de ônibus da Piedade. Foto: Dinaldo dos Santos

RISCOS À VISÃO

Embora os acessórios deem um ?upgrade? no visual, é preciso estar de olhos bem abertos para não entrar em roubada. O cirurgião, especialista em cataratas, Ruy Cunha, alerta aos usuários destes produtos, quanto às origens duvidosas e falta de garantia, diante dos sérios riscos que correm.

Segundo ele, a ausência de filtro nos óculos permite o contato direto com os raios solares, podendo provocar lesões na retina. ?Outras doenças comuns com o uso frequente desses produtos são a conjuntivite, inflamação superficial da córnea e indução de catarata?, disse.

Ainda de acordo com o médico, no caso das lentes de contatos de procedência inadequada, há riscos de formação de úlceras nas córneas e infecções irreversíveis que podem levar à cegueira.

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