Aumento da conta de luz encarece custo de empresas e consumidores também pagam o pato
Hotéis, bares, restaurantes, hospitais e outros setores buscam alternativas
A bandeira tarifária “Escassez hídrica” em vigor nas contas de luz tem refletido diretamente no preço de diferentes setores da economia. Hotéis e outros estabelecimentos têm repassado ao consumidor os custos.
“Toda nossa cadeia de fornecedores foi impactada pela energia elétrica: os alimentos e os insumos subiram bastante em função do aumento de custo geral. O hotel tem um reflexo direto nessa tarifa, já que é 20%, 25% do seu custo, mas os nossos fornecedores também foram impactados, então o custo geral subiu e nós, à medida que vamos recuperando a ocupação repassamos um pouco desse custo para o consumidor final”, explica José domingos, sócio e diretor do hotel Arena.
Bares e restaurantes que precisam usar a energia elétrica para fazer funcionarem os aparelhos também pagam caro. E o preço dos alimentos também sobe por conta da energia usada pra regar, colher, limpar, transportar e cozinhar.
Nos shoppings, o aluguel dos lojistas vira aumento no preço dos produtos. Já os hospitais que também precisam dos aparelhos funcionando, repassam a conta para os planos de saúde e para os pacientes.
Um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que o peso da conta de luz nos custos varia de acordo com o setor, e pode ser uma fatia grande. Nas lojas de roupas, por exemplo, 8% dos custos são a energia; nos supermercados, 10%; em locais que tem atrações culturais, 12%; nos restaurantes, 15%; nos hotéis, 21% e, em lavanderias, a fatia chega a 23%.
“Isso provoca uma compressão na margem do negócio. Quer dizer, por mais que as vendas estejam crescendo por conta do aumento da circulação, as despesas tem crescido muito também, aliás não só com energia elétrica, mas com combustíveis. Isso comprime margem, e muitas empresas que vem aí desse processo de recuperação da crise sanitária, ao desembarcarem na crise hídrica, podem não ter fôlego para aguentar seis, sete meses de energia elétrica lá em cima, nas alturas”, prevê Fábio Bentes, economista da CNC.
Indústrias que funcionam com muitas máquinas e precisam de muita energia também sentem o peso, como as dos setores eletrointensivos, siderurgia, metalurgia e panificação, que tem como base os fornos elétricos.
“A alta do preço impacta a competitividade da indústria nacional. Todos esses setores de forma geral tem feito um esforço muito grande já há algum tempo e intensificado ainda mais buscas por eficiência energética, por processos produtivos mais eficientes em termos de gás e energia, por alteração da produção em horários de pico e instalação de painéis fotovoltaicos, por exemplo. É impossível dizer que exista um setor hoje que não esteja sentindo os impactos do aumento do custo de energia na sua capacidade produtiva e na sua competitividade”, avalia Isaque Ouverney, gerente de infraestrutura da Firjan.
Na prática, o brasileiro está pagando caro pela falta de diversificação da matriz energética, já que fontes de energia eólica e solar representam juntas apenas 14% de tudo que é gerado. O relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) divulgado sexta-feira (15/10) traça um cenário ainda dramático: a previsão de chuvas para as próximas semanas caiu, o que deve manter os piores patamares dos últimos 91 anos.
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