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ALÉM DAS FLORES: No Dia da Mulher, elas dizem o que ainda querem conquistar

ALÉM DAS FLORES: No Dia da Mulher, elas dizem o que ainda querem conquistar

Por Juana Castro

ALÉM DAS FLORES: No Dia da Mulher, elas dizem o que ainda querem conquistarIlustrativa/Fernando Frazão/Agência Brasil

Muito mais que desejar um “feliz dia”, dar flores ou “parabéns”. O Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta quinta-feira, 8 de março, marca – sobretudo – a luta por direitos, já que a data foi instituída (1911) em homenagem às mais de 100 mulheres que morreram queimadas por policiais em uma fábrica têxtil de Nova York, Estados Unidos, em 1857. O motivo? Opressão, pois elas faziam greve para reivindicar a redução da jornada de trabalho e o direito à licença-maternidade.


Esse pode ser considerado o estopim para uma maior atenção às políticas voltadas à população feminina, principalmente no que se refere às leis trabalhistas, e é inegável reconhecer conquistas importantes desde a ocorrência, nos mais diversos âmbitos, como poder votar, dirigir, ter melhores salários e acesso à pílula anticoncepcional. Contudo, ainda há muito a ser feito, pois as mulheres continuam ganhando menos que os homens e são constantes vítimas de violência doméstica, por exemplo.


Para a Coordenadora Nacional de Gênero do Coletivo de Entidades Negras (CEN), Iraildes Andrade, é preciso, antes de tudo, uma mudança de pensamento da sociedade “machista, sexista e racista”, como um todo, e o respeito deve vir antes de qualquer outra coisa.


Iraildes Andrade | Foto: Reprodução/CEN


“Precisamos ter nosso protagonismo respeitado, porque sabemos ser protagonistas. Na verdade, o que a sociedade não enxerga é nossa possibilidade e capacidade disso”, diz Iraildes, também bacharela em Gênero e Diversidade pelo Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim), da Universidade Federal da Bahia (Ufba). “Ainda precisamos conquistar igualdade de salários e oportunidades”, continua.


A fim de levantar questões como as trazidas pela pesquisadora e saber, afinal, o que ainda precisa ser conquistado ou melhorado, o Aratu Online perguntou às principais interessadas – as mulheres – suas opiniões. Entre as respostas, as maiores “queixas” foram relacionadas ao mercado de trabalho.


“Olham muito a aparência, mas não veem as profissionais que somos”, relata a assistente financeira Rosilda Alves, 44 anos. Já Cristiane Borgens, 30, encontra dificuldade em voltar ao mercado após o nascimento da filha. “Quando falo que tenho uma bebê de um ano, acho que já ficam pensando: ‘vai precisar sair, levar ao médico, creche…'”, conta a representante comercial, desempregada desde o fechamento da empresa em que trabalhava, antes de dar à luz.


TRABALHO E IGUALDADE SALARIAL


Um estudo divulgado nesta quarta-feira (7/3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, mesmo em número maior entre as pessoas com ensino superior completo, as mulheres ainda enfrentam desigualdade no mercado de trabalho, se comparado ao sexo oposto.


Um dos dados aponta que a população feminina ganha, em média, 75% do que os homens ganham, em relação ao rendimento habitual médio mensal de todos os trabalhos e razão de rendimentos, por sexo, analisando os anos de 2012 a 2016. Isso significa que elas recebem cerca de R$ 1.764, enquanto eles, R$ 2.306.


Outra pesquisa, desta vez do site de empregos Catho, realizada neste ano com oito mil profissionais, revela que mulheres ganham menos em todos os cargos, áreas de atuação e níveis de escolaridade pesquisados, com uma diferença salarial que chega a quase 53%. Além do mais, também são minoria nos cargos de gestão.


Veja gráfico relativo à diferença de salários por cargos, levando em conta a média salarial, em R$:


Fonte: Catho | Arte: César Galvão/Aratu Online


ELAS NA POLÍTICA


Outra conquista em “progresso”, por assim dizer, e citada entre as respostas das leitoras do Aratu Online, diz respeito à falta de representatividade na política. “Precisamos conquistar espaços de poder e decisão política para favorecer nossa dignidade e luta”, afirma a professora Graziela Ninck, 41. Seu pensamento é reforçado pelo da coordenadora do CEN, Iraildes: “É necessário que uma mulher da periferia, por exemplo, reconheça-se. Ela precisa se ver em outra”.


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Apesar de ter crescido 87% entre janeiro de 1990 e dezembro de 2016, o Brasil ocupa a 115ª posição no ranking mundial de presença feminina no Parlamento – divulgado em março de 2017 – dentre os 138 países analisados pelo Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI), com base no banco de dados primários do Banco Mundial (Bird) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E em pleno ano de eleições, o país conta com apenas três mulheres entre os 14 presidenciáveis: Manuela D’Ávila, do PC do B, Marina Silva, da Rede, e Valéria Monteiro, do PMN.


“Na Bahia, comemoramos cinco mulheres à frente de secretarias estaduais, mas somos 50% da população brasileira e parimos os outros 50%, como bem disse Margarida Alves* em uma entrevista, e não ocupamos metade dos espaços de poder da sociedade”, ressalta Iraildes.


MENOS VIOLÊNCIA


A violência contra a mulher é um tema corriqueiro nos noticiários e cotidiano de tantas mulheres brasileiras. Não obstante, foi apontado pelas nossas leitoras como algo que precise de providências mais sérias.


Na Bahia, só de janeiro a maio de 2017, foram registrados 15.751 casos, incluindo homicídio, tentativa de homicídio, feminicídio (quando o gênero feminino é a ‘desculpa’ para o assassinato), estupro, lesão corporal e ameaça, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), de maio do ano passado.


Para proteção, é possível contar com as Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher (Deams), as quais existem duas em Salvador, nos bairros de Brotas e Periperi. No interior, está presente em mais de 10 municípios, como Feira de Santana, Vitória da Conquista, Juazeiro e Itabuna.


Major Denice Santiago, comandante da Operação Ronda Maria da Penha | Foto: Adilton Venegeroles/Ag. A Tarde


Além disso, há a operação Ronda Maria da Penha, com atuações na capital baiana e outras cidades do interior. Sob o comando da Major Denice Santiago, cerca de 100 policiais trabalham na mesma, que já beneficiou mais de 1,2 mil mulheres em todo o território baiano, desde a sua fundação, em 2015, até junho do ano passado.


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“Nossos companheiros e todos os homens devem entender que não são nossos donos”, pontua Iraildes Andrade. “Um homem se acha no direito de encostar, ter uma ereção e até ejacular em você em um transporte público; ao não aceitar o fim de um relacionamento, pensa que pode te matar”, exemplifica a coordenadora do CEN.


Ela cita, ainda, o “caso New Hit”, em que os ex-integrantes da banda, condenados por estupro, ganharam o direito de responder ao processo em liberdade, nesta quarta-feira (7/3). “O fato de eu ir a um camarim conhecer um artista que gosto dá o direito de ele me violentar ou de me respeitar como fã, como alguém que gosta do trabalho dele?”, questiona. “A partir de hoje, eles caminharão tranquilamente pela cidade, mas elas não”, completa.


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Qualquer pessoa pode fazer a denúncia, em casos de violência contra a mulher. Para isto, basta ligar para o número de telefone 180.


EMPODERAMENTO FEMININO


A palavra “empoderamento” tem sido bastante utilizada pelas mulheres, ultimamente. Foi, inclusive, um dos termos mais procurados no Google em 2016. Se você ainda não sabe o que é, explicamos: a grosso modo, são ações para fortalecer as mulheres e desenvolver a igualdade de gênero, com o objetivo de formar uma consciência coletiva.


Fruto do movimento feminista, o tão falado empoderamento feminino é o que a radialista Analu Ribeiro acredita ser o mais necessário no momento de avanços. “Hoje em dia as mulheres já se reconhecem como fortes, encaram suas batalhas diárias, mas a luta está só no começo. Só será suficiente quando o mundo reconhecer naturalmente nossa garra, sem a necessidade de esforço”, afirma.


VEJA VÍDEO:



SERVIÇO:


Nesta quinta-feira (8/3), acontece a “Greve Internacional de Mulheres”, em Salvador, com concentração na Praça da Piedade, a partir das 13h. A marcha integra o Fórum Social Mundial (FSM), inédito na capital baiana, com a presença de pessoas de diversos países.


O objetivo dos diversos coletivos e grupos de mulheres negras, de diferentes partes do estado, é reivindicar causas em prol do gênero.


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*Publicada originalmente às 6h (8/3)


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