A Semana Mundial do Aleitamento Materno acontece até esta sexta-feira (7/8) e integra um conjunto de ações que fazem parte do "Agosto Dourado", mês dedicado ao debate sobre a importância da amamentação. No Brasil, porém, ainda é preciso superar alguns desafios que envolvem mitos e má informação sobre o tema.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) sugerem que a alimentação do bebê seja exclusivamente via leite materno até os seis primeiros meses de vida, e, acompanhando a introdução alimentar, até pelo menos os dois primeiros anos de vida. Contudo, a média do aleitamento materno exclusivo, no país, é de 54 dias, menos da metade do tempo indicado pelos profissionais de saúde.
LEITE 'FRACO'?
De acordo com a pediatra do Instituto Muita Saúde, Aline Galy, é preciso considerar que há mães que realmente não conseguem amamentar, porque precisam, por exemplo, voltar ao trabalho antes do tempo, mas, muito desse número está relacionado aos mitos que existem.
"Se você digitar no Google 'leite materno', a segunda indicação de resposta é 'leite materno fraco'. Existe uma cultura muito forte de que o leite materno não sustenta, de que é fraco. Há uma expectativa muito grande que vem talvez da não compreensão de que um bebê não vai se alimentar igual a um adulto ou uma criança maior. O seu estômago é pequeno, é natural que ele mame e sinta fome novamente em um curto espaço de tempo. Isso não significa que o leite não seja suficiente", explica a médica, que vê no Agosto Dourado uma possibilidade de conscientizar as famílias do entendimento de que o leite materno tem inúmeros benefícios também para as mães, como o auxílio no pós parto e a prevenção do Câncer de Mama.
DEPOIS DOS 2 ANOS
A partir dos dois anos, não há uma data limite para o encerramento da amamentação, ainda de acordo com a pedriatra. "Existem rumores de que a amamentação tem que ser até os dois anos, quando, na verdade, é possível continuar depois disso. A orientação é de ser a alimentação exclusiva durante os seis primeiros meses de vida, claro que entendendo que existem situações em que as mães não conseguem fazer isso, e que há desafios neste sentido", diz.
"Tudo o que a criança precisa, do ponto de vista nutricional, nos seis primeiros meses de vida, está presente no leite materno, não precisando de nenhum complemento como água, sucos ou chás. E a partir dos seis meses e até os dois, é o processo de introdução alimentar acompanhado do leite materno. Passados os dois anos, se ainda for possível a amamentação e se esse for o desejo da mãe e da criança, não há nenhuma contraindicação", complementa Aline.
BENEFÍCIOS
São muitos os benefícios do leite materno. "A criança fortalece o sistema imunológico, já que recebe muitos anticorpos da mãe, é como se fosse uma vacina todo dia que ela recebe. Crianças que são alimentadas pelo leite materno têm menos chances de desenvolver câncer. O leite atua ainda prevenindo alergias alimentares", explica Aline.
O aleitamento materno ajuda a diminuir os riscos de alergias, déficit de atenção e de hiperatividade, além de auxiliar no desenvolvimento saudável do sistema nervoso, contribuir para o desenvolvimento da musculatura do rosto e começar a regular a sensação de saciedade da criança. Pela amamentação, a criança recebe anticorpos e fica mais protegida e com menor chance de desenvolver infecções respiratórias e diarreia.
"É UM PROCESSO INDIVIDUAL"
A pediatra lembra, ainda, que tem muitas mães que acham que não precisam aprender a amamentar. Além disso, apesar de comum, não é normal sentir dor, explica Aline: "A amamentação é única de cada mãe com seu filho. São corpos diferentes, metabolismos diferentes, ideias diferentes e mamas diferentes. É comum sentir dor, mas não é normal. Para muitas mães é um processo difícil, e o que pode auxiliá-la é estudo, orientação, um bom pediatra, uma boa consultora de amamentação se for possível, e que esses profissionais sejam empáticos e acolham e entendam o que está acontecendo. Há mães que relatam feridas e existem técnicas que a gente consegue ensinar para evitar que essas feridas aconteçam. Tem laserterapia, por exemplo, que ajuda nessas fissuras. E o principal: ter uma rede de apoio capaz de compreender que essa mãe está em um momento delicado, de privação de sono, de expectativas, de variações hormonais. Pessoas que possam ajudar essa mãe com os afazeres domésticos, com os cuidados com a criança enquanto ela descansa, toma um banho, se alimenta".
AMAMENTAÇÃO E COVID-19
O Agosto Dourado acontece em 2020 em meio ao enfrentamento da pandemia do Coronavírus, e gera dúvidas sobre o assunto. "A Sociedade Brasileira de Pediatria emitiu, em março, uma nota que aponta que vários estudos estavam sendo feitos e que a maioria não comprovou a transmissão do vírus pelo aleitamento materno. Tudo pode mudar, mas, por enquanto, estudos apontam que não há transmissão através da amamentação", fala a médica.
"Há alguns estudos como um publicado na Lancet e outras duas revisões no Centers for Disease Control and Prevention (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, agência norte-americana de saúde) e Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (Colégio Real de Obstetras e Ginecologistas, uma associação profissional com sede em Londres), que apontam que caso a mãe queira manter o aleitamento materno, precisa fazer as medidas preventivas necessários, que são usar a máscara durante a amamentação e lavar as mãos antes e depois da mamada", completa.
A Campanha Agosto Dourado da Sociedade Brasileira de Pediatria deste ano fala também sobre a relação da amamentação em tempos de Covid-19 e lembra que a amamentação não deve parar, mesmo em caso de mães infectadas.
A SBP alerta que não há registro de que a doença seja transmitida pelo leite e que, em casos mais graves, a mãe pode extrair o leite para que outra pessoa possa amamentar o filho. Mães infectadas devem redobrar cuidados com higienização da mão e superfícies.
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Fonte: Da redação