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Você sabe o que é Engenharia Clínica? Atividade é fundamental para atendimento médico

Mais que reparar equipamentos, Engenharia Clínica impacta diretamente no atendimento dos pacientes; área é celebrada nesta segunda-feira

Por Lucas Pereira

Você sabe o que é Engenharia Clínica? Atividade é fundamental para atendimento médicoLucas Pereira | Aratu On
Quando pensamos em ir até uma unidade médica em busca de tratamento para alguma doença ou para realizar exames, sabemos que vamos encontrar profissionais de diversas áreas neste momento: porteiros, recepcionistas, técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos. Todos contribuem de forma particular para a engrenagem que envolve o atendimento médico, mas um setor não tem a mesma visibilidade, apesar de também ser fundamental para o bom funcionamento hospitalar: a Engenharia Clínica.
Todos os anos, o dia 21 de outubro é dedicado a esses profissionais que, dentre outras funções, são responsáveis pela manutenção dos equipamentos médicos e hospitalares. Eles atuam ainda na gestão de processos relacionados aos equipamentos, desde a análise das necessidades do hospital, passando pela solicitação de compra, até o uso e descarte dessas máquinas.
O Aratu On ouviu alguns profissionais da área que contaram suas experiências e explicaram a importância do setor para um atendimento médico de qualidade.
Porta do setor de Engenharia Clínica do HMS

ENGRENAGEM IMPORTANTE
“Se a gente não está aqui todos os dias, reparando os problemas e os defeitos encontrados, procurando soluções para problemas recorrentes, muita coisa [na área hospitalar] não aconteceria”.
A frase é da técnica em engenharia clínica do Hospital Municipal de Salvador (HMS), Joice Nascimento. Atuando há cerca de dois anos e meio no local, a profissional contou um pouco sobre a rotina 'nos bastidores' de um grande centro médico.
“Nós somos responsáveis pelas manutenções preventivas e corretivas dos equipamentos, as calibrações e testagens de segurança e também as orientações aos profissionais que vão operar essas máquinas. Tudo isso para que ocorra um impacto positivo na qualidade do atendimento aos pacientes”, explicou, acrescentando ainda que, sempre que um equipamento apresenta problema, um técnico vai até o setor, seja ele qual for, para avaliar o maquinário.
Além do trato direto com as máquinas e seus componentes eletromecânicos, a Engenharia Clínica tem uma função mais abrangente, muito ligada à gestão, conforme explica o engenheiro e coordenador da área do HMS, Pedro Carvalho.
Não é só o apagar incêndio, é gerenciar para que essas situações de crise ou de problemas não aconteçam, ou voltem a acontecer. Possibilitando um melhor atendimento e também uma melhor otimização dos gastos do hospital, uma melhor sustentabilidade financeira”, relatou.
- “Hoje, atuando na área, eu consigo visualizar a Engenharia Clínica como uma parte importantíssima do processo, algo que, no curso técnico, eu não conseguia visualizar. É uma engrenagem importante dentro do mecanismo hospitalar” - Joice
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FORMAÇÃO E COMPETÊNCIAS
Apesar de não haver um curso voltado especificamente para formação de técnicos e engenheiros clínicos em Salvador, essa capacitação já existe em outros estados, como São Paulo. Mesmo assim, técnicos em eletrônica, mecânica e engenheiros eletricistas acabam ocupando as vagas disponíveis do mercado, que deveriam ser destinadas a profissionais especializados na área.
O próprio Pedro Carvalho é um exemplo. Formado como engenheiro mecânico, o profissional fez uma especialização em Engenharia Clínica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Essa falta de capacitações na área, aliada a fatores como a pouca visibilidade da área, deixa o mercado 'fechado', de acordo com o coordenador clínico.
“A gente viu que diminuiu um pouquinho [número de profissionais] e, para mercado de trabalho é uma área que tem muita procura, que pede muito e tem poucos profissionais. O engenheiro ou técnico pode atuar em hospital, clínicas de grande porte, como representantes na assistência técnica. É um mercado um pouco mais fechado, que todo mundo acaba se conhecendo”, afirma Pedro.
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Com as poucas opções de capacitação, o contato inicial com a área acaba sendo superficial, mas, ainda assim, serve para despertar a curiosidade e o interesse dos estudantes, como aponta o professor dos cursos técnicos e superior de eletrônica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba), Antônio Santos.
“Os alunos passam dois anos do curso tendo contato com a aplicação tradicional da eletrônica. E aí, no terceiro ano, eu chego com uma novidade, eletrônica aplicada à área de saúde, e isso faz com que muitos deles criem um interesse para essa área”, pontua.
Tanto Pedro quanto o professor Antônio concordam sobre quais as competências que um profissional da área, ou mesmo aspirante a tal, precisam ter: conhecimento teórico e prático em manutenção, criatividade, capacidade de identificar problemas, bem como o olhar e a capacidade de gerência.
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Há ainda outra habilidade importante citada pelo professor do Ifba: a inteligência emocional. “Um estudante me chamou a atenção para isso da inteligência emocional e, até então, não tinha me atentado tanto. Ele falou de situações como problemas em cirurgias, em que o profissional precisa ir lá fazer uma manutenção, se deparar com um corpo aberto, sangue. Então é preciso ter essa capacidade de lidar com isso”, revelou o docente.
“A gente enxerga o ser humano no seu momento mais frágil. Então você também lida, não apenas com essa fragilidade do paciente, mas de um familiar que tá em uma visita, em um corredor de espera. Então é importante ter essa questão mental muito apurada, para também você não levar problemas para casa e o contrário também, para não interferir no trabalho”. - Pedro

PANDEMIA E OUTROS DESAFIOS
Assim como os profissionais da área da saúde, a pandemia de Covid-19 também exigiu muito para os profissionais da Engenharia Clínica, especialmente devido à necessidade urgente de máquinas voltadas para o suporte à vida, principalmente equipamentos respiratórios.
Após o problema global ser superado, Pedro reflete que a pandemia trouxe um novo olhar para a área, de reconhecimento. Além disso, o engenheiro compartilhou memórias positivas do difícil período.
“Era uma situação crítica, com o Brasil buscando as melhores práticas possíveis para atender os pacientes. A gente tem os relatos dos óbitos, daquela situação triste, mas também relatos de pacientes que ficaram meses internados e saíram. Então, conseguir festejar aquela melhora daquele paciente, ver a felicidade, o agradecimento do seu familiar ou do próprio paciente, é o que mais me marcou”.
Divulgação/HCPA

Passada a pandemia, a técnica Joice relembra de uma situação ocorrida no trabalho diário, mas que, para ela, foi marcante. Durante um procedimento cirúrgico, uma mesa de anestesia acabou apresentando problemas, exigindo calma e perícia por parte da profissional:
“O médico perguntou quanto tempo para resolver e eu disse ‘cinco minutos’. Ele disse que era muito e eu precisei fazer em dois. Mas, felizmente, não era nada sério e a cirurgia seguiu sem problemas”, contou.
SENTIMENTO DE GRATIDÃO
Por fim, o trio afirma que é 'muito gratificante' fazer parte da Engenharia Clínica e contribuir no dia-a-dia das pessoas. Entre um equipamento e outro, um problema e outro, Pedros, Joices e tantos engenheiros e técnicos, possuem passe livre nos diversos setores de um hospital, onde podem acompanhar, mesmo que de longe, os resultados de seus trabalhos diários.
- “A engenharia tem que buscar melhorias, conseguir transformar a partir do planejamento, tirar aquilo do papel e colocar na prática. Mesmo não tendo contato direto com os pacientes, a gente recebe mais esse feedback dos setores, da equipe médica. Mas é muito gratificante quando um problema é sanado, quando conseguimos acabar com um gasto para o hospital, cumprimos nossa função." - Pedro Carvalho

- “É saber que, sem a Engenharia Clínica, um paciente que veio de uma cidade do interior para o hospital fazer um exame, e encontra a máquina responsável quebrada, ele vai ter que voltar para casa e não sabe nem quando vai poder ser examinado novamente. Então, fazer parte desse processo, de ajudar, de certa forma, a cuidar das pessoas, é o mais gratificante”Joice Nascimento

Para o professor Antônio, no Ifba há 20 anos, dar uma nova alternativa para os jovens técnicos em formação, despertando, em vários casos, um gosto latente pela área, acaba sendo motivo de orgulho.
- “Você jogou uma semente na cabeça do aluno e a semente cresceu, ele foi regando, cuidando dela até crescer e se desenvolver. É uma área que você vê, na prática, os componentes eletrônicos salvando vidas, ajudando a manter e melhorar a vida das pessoas, e saber que algum estudante se identificou e está se identificando e desenvolvendo. É gratificante, eu fico muito orgulhoso”Antônio Santos

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