Heranças da pandemia: IFBA retoma provas para processo seletivo depois de três anos de suspensão
Além da suspensão das provas, IFBA sofreu impactos da pandemia relacionados à evasão escolar e ensino remoto
Créditos da foto: Lilian Caldas/Divulgação
Após três anos, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) retorna com a aplicação de provas escritas presenciais, visando o ingresso de estudantes para o ano letivo de 2024. Por causa da pandemia de Covid-19 e as restrições sanitárias, além da virtualização das aulas, a instituição adotou um processo seletivo baseado em análise curricular. O modelo adotado na emergência sanitária garantiu o funcionamento do Instituto, mas rendeu algumas críticas ao formato.
O Aratu On foi até a instituição ver os reflexos da pandemia nos corredores do Campus Salvador. Representantes da instituição e estudantes foram ouvidos e expuseram seus pontos sobre o período da pandemia e como está a questão educacional nessa retomada pós-pandêmica.
PROCESSO SELETIVO 2024
O processo de ingresso será feito a partir aplicação de provas com questões objetivas, aplicadas no dia 29 de novembro. São mais de 3 mil vagas, para as 22 unidades do IFBA no estado. Apenas no Campus Salvador, são 585 vagas disponíveis para os cursos: Automação Industrial, Eletrotécnica, Geologia, Química, Refrigeração, Edificações, Mecânica e Eletrônica.
Do total de vagas, 60% são reservadas para cotas, distribuídas da seguinte maneira:
As inscrições seguem até o dia 22 de setembro e a taxa da prova é de R$ 50. Os detalhes sobre o processo seletivo, bem como os temas cobrados na avaliação e dados sobre as vagas podem ser encontrados no edital do processo e também no site portal.ifba.edu.br/processoseletivo2024.
OUTRA FORMA DE INGRESSO
Com a impossibilidade de se realizar alguma avaliação presencial para o ingresso de estudantes em 2020, a instituição optou por adotar um processo seletivo baseado em “Análise de Histórico Escolar”, onde o desempenho do estudante no ensino fundamental, através das notas obtidas, serviam como balizador para o ingresso ou não.
De acordo com o Pró-Reitor de Ensino do IFBA, o Prof. Dr. Jancarlos Lapa, a medida adotada permitiu que houvesse algum rigor na seleção, dada as condições vigentes. "De certa forma é um processo meio autocrático, tal como eram as provas, com a uma diferença de que, nas provas, você tinha uma meritocracia pontual, única, enquanto que pelo histórico você analisava o processo de provas ao longo de vários anos."
Uma vez que não houve processo seletivo em 2020, visando o ano posterior, foram realizados duas edições em 2021, além de mais um processo, para o ingresso em 2023 (feito em 2022), utilizando os critérios de análise curricular. De acordo com dados fornecidos pela Assessoria de Comunicação da instituição, o número de inscritos nos processos seletivos foi:
Nos três casos, o número de inscrições foi menor que o último ano antes da pandemia, quando foram registradas cerca de 27.648 inscrições. Algumas fontes do corpo acadêmico da instituição relataram que, mesmo adotando medidas para manter a qualidade de ensino, houve uma queda no nível dos estudantes. Associado a um deficit de português e matemática, proveniente do ensino fundamental, a dificuldade de pôr em prática os conhecimentos do curso técnico, em casa, fez com que houvesse uma "deficiência".
RETORNO ÀS PROVAS
Anunciado o retorno da aplicação da prova, outro elemento dessa cadeia educacional pôde voltar a participar ativamente desse processo educacional: os cursos preparatórios para o IFBA, os populares pré-IFBAs. O professor Newton Júnior, que desde 2006 realiza um projeto social de preparação de jovens no bairro de Periperi, ressaltou a importância desse tipo de iniciativa, principalmente para aqueles jovens que não possuem condição financeira para terem esse incremento na preparação para a prova, através de cursinhos privados.
"A maioria dos estudantes era de colégio público e gente tentava preparar eles para aquilo que ia cair na prova, dando um reforço em áreas em que haviam defasagens. Então, a função do cursinho é mesmo direcionar esse jovem, dar mais chances dele ser aprovado", afirmou.
Para Newton, a questão da permanência na instituição e a consequente finalização do curso escolhido deve ser visto como prioridade, cabendo à instituição a obrigação de oferecer ferramentas para que esse jovem busque-as e consigam trabalhar suas dificuldades em termos de conteúdos e, se possível, eliminá-las.
De acordo com o professor, o 'segredo' para ir bem na prova passa muito por uma preparação bem feita e uma disciplina nos estudos. "É pegar os conteúdos em edital e manter uma rotina de estudos, fazer exercícios. Pegar provas antigas e trabalhar em cima dos conteúdos que foram cobrados".
DIFICULDADES DO ENSINO REMOTO
Com a pandemia, o IFBA adotou algumas medidas para que as atividades não fossem interrompidas, prejudicando o aprendizado dos estudantes. Os encontros entre alunos e professores foram virtualizados e realizados por meio de plataformas de reunião, tablets foram disponibilizados para parte dos alunos que não possuíam recursos mínimos para as aulas, como celulares ou computadores, sem falar em materiais de estudo. Apesar disso, os impactos no aprendizado foram significativos.
“Foi sofrido, para mim, aprender na pandemia e eu digo que aprendi muito pouco”, afirmou o estudante do curso de Automação Industrial, Rafael Neves. Relembrando as dificuldades pandêmicas, ele lembra que para os próprios professores foi um processo delicado, uma vez que toda essa mudança de didática e também formato de aulas acabaram sendo profundas. Para ele, o retorno ao formato presencial veio acompanhado de um deficit grande de aprendizado, exigindo um esforço maior para "correr atrás do balde".
Colunista On e Coordenador do Curso da Licenciatura de Geografia do Campus Salvador, o Prof. Me. Ubiraci Carlucio (Professor Bira), relatou também como foi lecionar em um momento conturbado como a pandemia, em um cenário onde os estudantes acabaram sendo ‘reduzidos’ a imagens virtuais.
“Foi desafiador porque, na verdade, tiveram que ser criadas soluções de uma forma muito repentina. Métodos, metodologias didáticas para adaptação do ensino remoto, tudo isso precisou ser feito rapidamente para não desamparar os estudantes da instituição”, afirmou o educador.
"PERMANÊNCIA É PRIORIDADE"
Mais que apenas fazer com que o estudante ingresse na instituição, os desafios em torno do ensino, nesse caso, técnico, vão muito além disso, sendo a permanência, uma das questões mais delicadas para as instituições. Apenas em 2022, a taxa de evasão registrada no IFBA foi de 14,96%. Segundo o professor Jancarlos, "não basta acessar, tem que terminar [os cursos]. Nesse processo de retomada tivemos que garantir a esses estudantes e esses campus que eles tivessem uma estrutura adequada, que houvesse um investimento maior nos auxílios estudantis, para fazer com que o estudante continuasse".
Passado o pior da pandemia e com a retomada da vida acadêmica plena, Professor Bira projeta que há um longo caminho até que haja uma normalização do ensino, uma vez que as marcas da pandemia na educação se fazem presentes no aprendizado dos estudantes.
"Há uma perda dos conteúdos desses componentes curriculares se a gente não ensina, como a gente tinha no presencial. Já existia uma dificuldade sem pensar se a gente estaria vivo no outro dia, ainda mais nesse caso de doença. Então, esses estudantes chegam, não só com lacunas do ponto de vista do conteúdo, das mais diversas disciplinas, mas também do ponto de vista psicossocial.", afirma o educador.
https://youtu.be/93dlS2PzTHc
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O Aratu On foi até a instituição ver os reflexos da pandemia nos corredores do Campus Salvador. Representantes da instituição e estudantes foram ouvidos e expuseram seus pontos sobre o período da pandemia e como está a questão educacional nessa retomada pós-pandêmica.
PROCESSO SELETIVO 2024
O processo de ingresso será feito a partir aplicação de provas com questões objetivas, aplicadas no dia 29 de novembro. São mais de 3 mil vagas, para as 22 unidades do IFBA no estado. Apenas no Campus Salvador, são 585 vagas disponíveis para os cursos: Automação Industrial, Eletrotécnica, Geologia, Química, Refrigeração, Edificações, Mecânica e Eletrônica.
Do total de vagas, 60% são reservadas para cotas, distribuídas da seguinte maneira:
Divulgação/IFBA
As inscrições seguem até o dia 22 de setembro e a taxa da prova é de R$ 50. Os detalhes sobre o processo seletivo, bem como os temas cobrados na avaliação e dados sobre as vagas podem ser encontrados no edital do processo e também no site portal.ifba.edu.br/processoseletivo2024.
OUTRA FORMA DE INGRESSO
Com a impossibilidade de se realizar alguma avaliação presencial para o ingresso de estudantes em 2020, a instituição optou por adotar um processo seletivo baseado em “Análise de Histórico Escolar”, onde o desempenho do estudante no ensino fundamental, através das notas obtidas, serviam como balizador para o ingresso ou não.
De acordo com o Pró-Reitor de Ensino do IFBA, o Prof. Dr. Jancarlos Lapa, a medida adotada permitiu que houvesse algum rigor na seleção, dada as condições vigentes. "De certa forma é um processo meio autocrático, tal como eram as provas, com a uma diferença de que, nas provas, você tinha uma meritocracia pontual, única, enquanto que pelo histórico você analisava o processo de provas ao longo de vários anos."
Uma vez que não houve processo seletivo em 2020, visando o ano posterior, foram realizados duas edições em 2021, além de mais um processo, para o ingresso em 2023 (feito em 2022), utilizando os critérios de análise curricular. De acordo com dados fornecidos pela Assessoria de Comunicação da instituição, o número de inscritos nos processos seletivos foi:
- Prosel 2021 - 21.618 pessoas;
- Prosel 2022 - 18.000 pessoas;
- Prosel 2023 - 23.614 pessoas;
Nos três casos, o número de inscrições foi menor que o último ano antes da pandemia, quando foram registradas cerca de 27.648 inscrições. Algumas fontes do corpo acadêmico da instituição relataram que, mesmo adotando medidas para manter a qualidade de ensino, houve uma queda no nível dos estudantes. Associado a um deficit de português e matemática, proveniente do ensino fundamental, a dificuldade de pôr em prática os conhecimentos do curso técnico, em casa, fez com que houvesse uma "deficiência".
RETORNO ÀS PROVAS
Anunciado o retorno da aplicação da prova, outro elemento dessa cadeia educacional pôde voltar a participar ativamente desse processo educacional: os cursos preparatórios para o IFBA, os populares pré-IFBAs. O professor Newton Júnior, que desde 2006 realiza um projeto social de preparação de jovens no bairro de Periperi, ressaltou a importância desse tipo de iniciativa, principalmente para aqueles jovens que não possuem condição financeira para terem esse incremento na preparação para a prova, através de cursinhos privados.
"A maioria dos estudantes era de colégio público e gente tentava preparar eles para aquilo que ia cair na prova, dando um reforço em áreas em que haviam defasagens. Então, a função do cursinho é mesmo direcionar esse jovem, dar mais chances dele ser aprovado", afirmou.
Para Newton, a questão da permanência na instituição e a consequente finalização do curso escolhido deve ser visto como prioridade, cabendo à instituição a obrigação de oferecer ferramentas para que esse jovem busque-as e consigam trabalhar suas dificuldades em termos de conteúdos e, se possível, eliminá-las.
De acordo com o professor, o 'segredo' para ir bem na prova passa muito por uma preparação bem feita e uma disciplina nos estudos. "É pegar os conteúdos em edital e manter uma rotina de estudos, fazer exercícios. Pegar provas antigas e trabalhar em cima dos conteúdos que foram cobrados".
DIFICULDADES DO ENSINO REMOTO
Com a pandemia, o IFBA adotou algumas medidas para que as atividades não fossem interrompidas, prejudicando o aprendizado dos estudantes. Os encontros entre alunos e professores foram virtualizados e realizados por meio de plataformas de reunião, tablets foram disponibilizados para parte dos alunos que não possuíam recursos mínimos para as aulas, como celulares ou computadores, sem falar em materiais de estudo. Apesar disso, os impactos no aprendizado foram significativos.
“Foi sofrido, para mim, aprender na pandemia e eu digo que aprendi muito pouco”, afirmou o estudante do curso de Automação Industrial, Rafael Neves. Relembrando as dificuldades pandêmicas, ele lembra que para os próprios professores foi um processo delicado, uma vez que toda essa mudança de didática e também formato de aulas acabaram sendo profundas. Para ele, o retorno ao formato presencial veio acompanhado de um deficit grande de aprendizado, exigindo um esforço maior para "correr atrás do balde".
Colunista On e Coordenador do Curso da Licenciatura de Geografia do Campus Salvador, o Prof. Me. Ubiraci Carlucio (Professor Bira), relatou também como foi lecionar em um momento conturbado como a pandemia, em um cenário onde os estudantes acabaram sendo ‘reduzidos’ a imagens virtuais.
“Foi desafiador porque, na verdade, tiveram que ser criadas soluções de uma forma muito repentina. Métodos, metodologias didáticas para adaptação do ensino remoto, tudo isso precisou ser feito rapidamente para não desamparar os estudantes da instituição”, afirmou o educador.
"PERMANÊNCIA É PRIORIDADE"
Mais que apenas fazer com que o estudante ingresse na instituição, os desafios em torno do ensino, nesse caso, técnico, vão muito além disso, sendo a permanência, uma das questões mais delicadas para as instituições. Apenas em 2022, a taxa de evasão registrada no IFBA foi de 14,96%. Segundo o professor Jancarlos, "não basta acessar, tem que terminar [os cursos]. Nesse processo de retomada tivemos que garantir a esses estudantes e esses campus que eles tivessem uma estrutura adequada, que houvesse um investimento maior nos auxílios estudantis, para fazer com que o estudante continuasse".
Passado o pior da pandemia e com a retomada da vida acadêmica plena, Professor Bira projeta que há um longo caminho até que haja uma normalização do ensino, uma vez que as marcas da pandemia na educação se fazem presentes no aprendizado dos estudantes.
"Há uma perda dos conteúdos desses componentes curriculares se a gente não ensina, como a gente tinha no presencial. Já existia uma dificuldade sem pensar se a gente estaria vivo no outro dia, ainda mais nesse caso de doença. Então, esses estudantes chegam, não só com lacunas do ponto de vista do conteúdo, das mais diversas disciplinas, mas também do ponto de vista psicossocial.", afirma o educador.
https://youtu.be/93dlS2PzTHc
Acompanhe nossas transmissões ao vivo no www.aratuon.com.br/aovivo. Siga a gente no Insta, Facebook e Twitter. Quer mandar uma denúncia ou sugestão de pauta, mande WhatsApp para (71) 99940 – 7440. Nos insira nos seus grupos!