Falta de infraestrutura, economia fraca e fuga para Lauro e Camaçari explicam redução populacional de Salvador, diz geógrafo da UFBA
Censo 2022 indicou diminuição de 9,6% na população da capital baiana; especialista afirma que impacto não é necessariamente negativo para a cidade
Após o IBGE divulgar dados preliminares sobre Censo 2022, onde a cidade de Salvador teve uma redução populacional de 9,6%, muitas pessoas se questionaram como a capital baiana deixou de ser a cidade nordestina com mais habitantes. Nas redes sociais, soteropolitanos pintaram o quadro como algo negativo e ruim para a cidade. Mas será que é isso mesmo?
"Não necessariamente", respondeu o doutor em geografia pela Universidade Federeal da Bahia (UFBA) e especialista em geografia urbana, Cristóvão Brito. Ainda que as cidades que tiveram reduções populacionais, como Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, tenham queda na arrecadação de impostos pela diminuição de contribuintes, são reduções relativamente pequenas. Outro ponto é que serviços mantidos pelo setor público, como saúde e saneamento, ficam menos pressionados com a queda no número de usuários.
Nos últimos 12 anos, segundo o estudo demográfico, Salvador perdeu 257.651 habitantes. Há quem pense que o número de óbitos por causa da Covid-19 tenha impactado significativamente nessa redução. Porém, tanto o nosso entrevistado quanto os dados oficiais da Secretária de Saúde da Bahia mostram que não foi tanto assim. Segundo a última atualização da Sesab, em todo o Estado, foram 31.658 mortes, sendo 8.718 óbitos em Salvador.
Quais causas?
Para Cristóvão, a redução populacional em Salvador é “normal, comum de acontecer”, uma vez que o Brasil vive um momento de oscilação acelerada do número de habitantes. Ainda assim, há motivos que podem explicar a diminuição na capital baiana. “A cidade de Salvador está dentro de um contexto regional, o estado da Bahia e a região Nordeste estão com a economia em declínio, que ainda não se recuperou”.
O especialista explica que a Bahia não tem uma indústria de bens finais consistente. “Uma economia que não prospera não pode crescer porque não tem consumo, não dá para focar apenas em bens e serviços”, afirma o doutor da UFBA. A fragilidade industrial e, consequentemente, econômica, provoca evasão da cidade e do estado. “A população que pode fazer a escolha de sair, sai para tentar uma melhoria econômica fora”.
Outros elementos, como a precariedade da infraestrutura social e habitacional, a problemática da segurança pública e mobilidade urbana, pesam na hora da escolha pela migração. "Não à toa a cidade do Rio de Janeiro também está entre as líderes na redução populacional, com um decréscimo de cerca de 109 mil pessoas", afirma Cristóvão. No caso dos cariocas, até mesmo a desconfiança política nos gestores pode pesar na evasão do município.
Para o geógrafo, a cidade de São Paulo e os demais municípios que compõem o ABC Paulista continuam sendo “imãs” para esses migrantes, com a capital paulista somando quase 200 mil novos habitantes, nos últimos 12 anos. No Estado, foram novos 3.158.260 habitantes desde o Censo 2010.
Litoral Norte: Lauro de Freitas e Camaçari
Indo na contramão da capital baiana, cidades da Região Metropolitana de Salvador (RMS) como Lauro de Freitas e Camaçari registram aumento na quantidade de moradores. Para o pesquisador, essas cidades da RMS acabaram atraindo parte dos habitantes da metrópole, especialmente pessoas das classes média e alta.
“Essas famílias estão fazendo a opção de fazer residência fixa onde era casa de veraneio. Eles estão fazendo a opção de ir para um recanto seguro em paz nesses condomínios fechados, porque a ida para o trabalho, faculdade, escola e o retorno, se tornaram perigosos por causa da violência urbana”, comenta o geógrafo.
Cristóvão pondera, no entanto, que muitas pessoas também houve um movimento inverso, ainda que muitos jovens tenham saído de Salvador em busca de oportunidades financeiras e acadêmicas melhores.
Cristóvão sinaliza ainda o que pode ser feito para que haja um desenvolvimento significante em Salvador e um aumento de interesse pela cidade como moradia. Investimento em economia e infraestrutura social e urbana são os caminhos, segundo ele. "Com geração de emprego e a renda aumentando, isso aqui cresce e vira um imã como é São Paulo e a região metropolitana”.
LEIA MAIS: Censo 2022: Salvador é a cidade que mais perdeu habitantes nos últimos 12 anos
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"Não necessariamente", respondeu o doutor em geografia pela Universidade Federeal da Bahia (UFBA) e especialista em geografia urbana, Cristóvão Brito. Ainda que as cidades que tiveram reduções populacionais, como Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, tenham queda na arrecadação de impostos pela diminuição de contribuintes, são reduções relativamente pequenas. Outro ponto é que serviços mantidos pelo setor público, como saúde e saneamento, ficam menos pressionados com a queda no número de usuários.
Nos últimos 12 anos, segundo o estudo demográfico, Salvador perdeu 257.651 habitantes. Há quem pense que o número de óbitos por causa da Covid-19 tenha impactado significativamente nessa redução. Porém, tanto o nosso entrevistado quanto os dados oficiais da Secretária de Saúde da Bahia mostram que não foi tanto assim. Segundo a última atualização da Sesab, em todo o Estado, foram 31.658 mortes, sendo 8.718 óbitos em Salvador.
Quais causas?
Para Cristóvão, a redução populacional em Salvador é “normal, comum de acontecer”, uma vez que o Brasil vive um momento de oscilação acelerada do número de habitantes. Ainda assim, há motivos que podem explicar a diminuição na capital baiana. “A cidade de Salvador está dentro de um contexto regional, o estado da Bahia e a região Nordeste estão com a economia em declínio, que ainda não se recuperou”.
O especialista explica que a Bahia não tem uma indústria de bens finais consistente. “Uma economia que não prospera não pode crescer porque não tem consumo, não dá para focar apenas em bens e serviços”, afirma o doutor da UFBA. A fragilidade industrial e, consequentemente, econômica, provoca evasão da cidade e do estado. “A população que pode fazer a escolha de sair, sai para tentar uma melhoria econômica fora”.
Outros elementos, como a precariedade da infraestrutura social e habitacional, a problemática da segurança pública e mobilidade urbana, pesam na hora da escolha pela migração. "Não à toa a cidade do Rio de Janeiro também está entre as líderes na redução populacional, com um decréscimo de cerca de 109 mil pessoas", afirma Cristóvão. No caso dos cariocas, até mesmo a desconfiança política nos gestores pode pesar na evasão do município.
Para o geógrafo, a cidade de São Paulo e os demais municípios que compõem o ABC Paulista continuam sendo “imãs” para esses migrantes, com a capital paulista somando quase 200 mil novos habitantes, nos últimos 12 anos. No Estado, foram novos 3.158.260 habitantes desde o Censo 2010.
Litoral Norte: Lauro de Freitas e Camaçari
Indo na contramão da capital baiana, cidades da Região Metropolitana de Salvador (RMS) como Lauro de Freitas e Camaçari registram aumento na quantidade de moradores. Para o pesquisador, essas cidades da RMS acabaram atraindo parte dos habitantes da metrópole, especialmente pessoas das classes média e alta.
“Essas famílias estão fazendo a opção de fazer residência fixa onde era casa de veraneio. Eles estão fazendo a opção de ir para um recanto seguro em paz nesses condomínios fechados, porque a ida para o trabalho, faculdade, escola e o retorno, se tornaram perigosos por causa da violência urbana”, comenta o geógrafo.
Cristóvão pondera, no entanto, que muitas pessoas também houve um movimento inverso, ainda que muitos jovens tenham saído de Salvador em busca de oportunidades financeiras e acadêmicas melhores.
Cristóvão sinaliza ainda o que pode ser feito para que haja um desenvolvimento significante em Salvador e um aumento de interesse pela cidade como moradia. Investimento em economia e infraestrutura social e urbana são os caminhos, segundo ele. "Com geração de emprego e a renda aumentando, isso aqui cresce e vira um imã como é São Paulo e a região metropolitana”.
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