'Desaparecidos': mãe que descobriu assassino da filha criou ONG e ajudou quase 700 famílias
Simone Pinho desapareceu após viagem à Chapada Diamantina, em 2000
Pessoas que saíram de casa e não voltaram mais. Mães que não puderam se despedir de seus filhos. Filhos sem notícia da mãe. Nesta quinta-feira (26/10), a TV Aratu, em parceria com o Aratu On, exibe o quarto e último episódio da série de reportagens "Desaparecidos - Mães sem filhos; Filhos sem mães".
"A busca da mãe de Simone" traz a história de Josenilda Pinho, uma mãe que após ajudar a polícia a identificar o assassino da filha, criou organização em prol das famílias de pessoas desaparecidas.
Com texto da jornalista Lorena Dias, produção de Camila Soeiro, arte de Vivian Alecy e edição de JF Neto, a série começou na segunda-feira (23/10) e segue até quinta-feira (26/10), durante o jornal Aratu Notícias, a partir das 19h15. Cada episódio será reprisado no dia seguinte, até sexta-feira (27/10), no Bom Dia Bahia, a partir das 6h30.
Você pode assistir pela televisão, no canal 4.1, pelo aratuon.com.br/aovivo ou no Aratu On, logo após a estreia na TV.
Assista à quarta e última reportagem da série:
https://youtu.be/_quUTpPX6pg
Após quase seis anos buscando pela filha, o relato do momento mais difícil da vida de Josenilda foi transformado em livro. "Eu tinha esperança de encontrar minha filha viva, mas quando veio o resultado, que eu descobri que ela estava morta, não consegui saber qual era a dor maior", disse à equipe da reportagem.
"Uma interrogação que nunca sai da sua cabeça. Isso é uma angústia terrível! Tá viva? Tá morta? Onde é que está? O que foi que aconteceu? Isso mata a gente a cada segundo", completa.
Josenilda Pinho em 2023 | Imagem: TV Aratu
Simone Pinho desapareceu em junho do ano 2000, na cidade de Lençóis, na Chapada Diamantina. A jovem de 26 anos foi vítima de um serial killer (assassino em série) que a mãe dela ajudou a identificar após assistir a uma reportagem na televisão.
Apesar da dor, Dona Josenilda encontrava forças ajudando outras mães. por meio da atuação do Movimento Nacional de Busca e Apoio à Pessoa Desaparecida - Simone Binho". Ao todo, ela ajudou a localizar quase 700 desaparecidos, inclusive com o apoio da TV Aratu.
"Eu vi que não era só eu que estava nessa situação. Tinha muita gente também que precisava de ajuda. Foi aí que transformei minha dor em solidariedade, fundando o Movimento Simone Pinho. Aqui, nesta sala, as pessoas, as mães têm o que eu não tive", declarou, na época. Veja abaixo:
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A Organização Não Governamental (ONG) encerrou as atividades em 2010.
"Eu dava tudo de mim para essa ONG estar funcionando até hoje, mas acontece que ela era mantida com o meu salário. Eu não tinha ajuda nenhuma", conta. "É como se eu tivesse perdido a minha filha pela segunda vez, porque eu amava o trabalho que eu fazia, ajudar as pessoas. Quando eu conseguia localizar um filho de uma mãe, era como se eu tivesse achado a minha filha. Era muito gratificante", reflete Dona Josenilda.
Josenilda e outras mães na ONG Simone Pinho | Imagem: arquivo pessoal
Também foi através da organização que a professora - hoje aposentada - ajudou a criar a lei estadual 12.832, sancionada em 2013 e batizada de 'Lei Simone Pinho', que institui o Cadastro de Pessoas Desaparecidas do Estado da Bahia.
Em 2019, uma lei federal estabeleceu a Política Nacional de Busca e Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas. As duas promessas, entretanto, não se cumpriram. Os casos de desaparecimento seguem o mesmo procedimento policial eletrônico de outras ocorrências, sendo registrados no Sistema Nacional de Segurança Pública (Sinesp), onde nem todos os estados estão conectados.
Para tentar suprir essa demanda foram criados, então, o Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid) e o Sinalid, que é o Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos por meio do Conselho Nacional dos Ministérios Públicos.
Para o promotor de Justiça Edvaldo Vivas Gomes, o Plid é importante porque não há política pública, nem banco nacional de desaparecidos, ainda que a lei exija. "Qualquer parceiro que apareça para tentar gerar e cruzar esses dados, obviamente, potencializa as buscas, então o Plid é um braço importante nessa luta das pessoas para os seus entes queridos", comenta.
Promotor de Justiça Edvaldo Vivas Gomes | Imagem: TV Aratu
De acordo com o promotor, os familiares devem, inicialmente, registrar a ocorrência em uma delegacia. Em seguida, precisam abastecer o banco de dados do Ministério Público, através do site do programa.
Na Bahia, o maior desafio, segundo Vivas Gomes, é em relação ao interior do estado, porque há pouca estrutura. "Sempre aconselho os colegas promotores do interior a tentarem trabalhar em conjunto com seus delegados, porque eles têm uma expertise que a gente não tem", explica. "Mas a gente também tem os nossos outros meios de coleta de prova, então é unir força, mesmo", avalia.
Mais de 20 anos depois do desaparecimento da filha, Josenilda torce para que outras mães tenham mais apoio do que o pouco que ela encontrou no passado. "Para aquelas que ainda não encontraram, meu conselho é que não desistam. Nunca esmoreçam. Vão sempre em frente", sugere.
Para quem descobriu que o o filho ou a filha morreu, a mãe de Simone também traz uma orientação e diz que "prosseguir é preciso": "Hoje, eu tenho um motivo muito grande que é o meu companheiro. É possível você viver uma vida normal. Não que você vai esquecer o seu ente querido. Nunca você vai esquecer, mas é possível [prosseguir], sim".
Josenilda e Simone Pinho | Imagem: arquivo pessoal
DISQUE-DENÚNCIA
Caso você tenha alguma informação sobre uma pessoa desaparecida, entre em contato com a polícia (de forma anônima, se preferir) através do número 181.
No próximo episódio vamos saber como estão os filhos de Bete, desaparecida em 2019. A titular da Delegacia de Proteção à Pessoa vai falar das investigações de desaparecimentos.
Ficha técnica da série “Desaparecidos”:
Produção: Camila Soeiro
Reportagem: Lorena Dias
Arte: Vivian Alecy
Imagens: José Sena, Raimundo Carvalho e Robson Melo
Edição: JF Neto
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