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Com câmera escondida em Salvador, compramos zolpidem, o remédio "da moda" que pode causar alucinações e é prescrito por psiquiatra

Nas redes sociais, além dos relatos em texto, vídeos de pessoas que compraram passagens aéreas e objetos sob efeito do zolpidem ganharam força nos últimos meses.

Por Jean Mendes

Com câmera escondida em Salvador, compramos zolpidem, o remédio "da moda" que pode causar alucinações e é prescrito por psiquiatraCréditos da foto: Bruna Castelo Branco/Aratu On


"Fiquei alucinada". "Tomei e começou a nevar no meu quarto". "Minha mãe acordou e deu um tapão nas minhas costas". Essas frases são histórias de quem toma o zolpidem, remédio controlado que induz o sono, mas que acabou fazendo um sucesso perigoso.


Você viu no vídeo acima a facilidade com a qual o medicamento é encontrado em Salvador. Com isso, fomos atrás de respostas para mostrar à pessoa que usa o remédio indiscriminadamente o quão perigosa pode ser essa combinação. 



O profissional indicado para receitar o zolpidem é o psiquiatra. "Ele é indutor de sono. A gente indica para insônia. É preciso lembrar, quando falamos destes distúrbios, que são vários subtipos de insônia. Na consulta médica, a ideia é que isso seja investigado. Se trata de inicial? Intermediária? O que está por trás? É uma coisa que a gente consegue reverter com medidas comportamentais? Será que se o indivíduo [por exemplo] parar de tomar café, resolve? Ou precisa de fármaco?", destaca a psiquiatra do Hospital das Clínicas de Salvador, Paula Dione Casais. 


Nas redes sociais, além dos relatos em texto, vídeos de pessoas que compraram passagens aéreas e objetos sob efeito do zolpidem ganharam força nos últimos meses. Uma das situações que mais tiveram destaque aconteceu com Pedro Pereira. Ele gastou R$ 9 mil com pacotes de viagens na CVC e, no dia seguinte, mandou mensagem para a empresa, solicitando o cancelamento. 




No caso dele, porém, o zolpidem foi prescrito por um médico. "Sofro de transtorno de ansiedade generalizada e tava em um episódio de insônia devido a isso e me sentindo inseguro. Não é uma 'moda', é um tratamento médico e a medicação é prescrita", escreveu o jovem, de 20 anos, no Twitter, ao comentar uma reportagem da Revista Veja. 


Tomado na medida certa, o remédio ajuda, sim, a pessoa que o utiliza, sob acompanhamento. "A vantagem dele é o período de ação curto, como o paciente que desperta no meio da noite. Aí, você usar isso faz com que o indivíduo pegue no sono e acorde de manhã, mas tem que ser usado sob orientação médica", explica Paula Dione. 


"O mecanismo de ação, tem um efeito de hipnose. Você fica, a grosso modo, meio lá e meio cá. Até que induza o sono, tem esse risco. Tanto que, na receita, é ideal que seja escrito que é ao deitar. Corre o risco de ele pegar o celular e não lembrar, por exemplo. Esse tipo de situação pode acontecer. As pessoas falam que tiveram alucinações. Talvez as pessoas não usem isso da forma mais correta. Elas ficam relativamente despertas", completa a psiquiatra.


Como você viu no vídeo, a venda de medicamento sem receita pode ser considerada tráfico de drogas. "O órgão responsável para estabelecer os critérios para venda de medicamentos controlados é a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Prescrever medicamentos em desconformidade com a lei pode configurar crime da lei de drogas", resumiu o advogado Otto Vinícius Lopes. 


"O que vimos com o zolpidem é que ele é uma proposta que menos gera dependência, pois era comum alguns médicos prescreverem medicamentos tarja preta para insônia e isso gerava dependência. O zolpidem surgiu como alternativa, só que hoje ele causa dependência. As pessoas desenvolvem tolerância e aumentam as doses. A pessoa começava com o comprimido de 10 [miligramas], depois tomava dois comprimidos, subia para 20. Temos relatos aqui de pessoas que usam 20/30 por dia".


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