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Foco da Bienal 2024, público jovem é alvo de livrarias e editoras baianas em meio a sucesso de livros digitais

Popularização de e-books e audiobooks é desafio para empresas do setor literário

Por Da Redação

Foco da Bienal 2024, público jovem é alvo de livrarias e editoras baianas em meio a sucesso de livros digitaisFreepik
A partir desta sexta-feira (26/4) até a próxima quarta-feira (1/5), todos as atenções do mercado literário nacional se voltam para Salvador, sede da Bienal do Livro Bahia 2024. E é neste cenário que livrarias e editoras baianas têm tentado sobreviver e se reinventar em meio à popularização de tendências trazidas por novas tecnologias, como os livros digitais, ou e-books, e os livros narrados, ou audiobooks.
Enquanto a Bienal terá foco no público infanto-juvenil, com setores voltados a crianças e adolescentes - o "Espaço Infantil" e a "Arena Jovem" -, livrarias e editoras tentam atrair a atenção desses leitores. O desafio é que são justamente clientes nessas faixas etárias que mais aderem aos novos modelos de leitura, voltados principalmente ao meio digital.
Histórias que antes eram contadas por livros físicos ou pelo "boca a boca" ganharam novos formatos nas últimas décadas e têm feito sucesso nas vendas. Segundo pesquisa da consultoria PwC, o mercado global de e-books deve crescer 10,9% em 2024. Os audiobooks, por sua vez, já representam cerca de 12% dos últimos lançamentos literários do Brasil, segundo a Câmara Brasileira do Livro.
Os livros digitais e narrados, no entanto, causam intriga entre os defensores do contato com as páginas no palmo. Sejam físicos ou não, os exemplares ganharam novos rumos além das prateleiras das livrarias, com venda em sites. Muitos e-books, inclusive, são encontrados de forma gratuita na internet. Acessados de forma oficial ou não, os livros digitais são apontados como uma forma de democratização da literatura. 
A estudante Elis Silva, por exemplo, conta que, apesar de preferir exemplares físicos, consome mais e-books, principalmente pela praticidade e pelo preço. Em geral, os livros digitais custam menos que versões físicas. Elis reforça que eventos como a Bienal são fundamentais para incentivar a formação de crianças e jovens na leitura. “Não apenas a Bienal, como a Flipelô, são formas acessíveis de conectar a população com a literatura”. 
E-books têm previsão de crescimento de 10,9% para 2024 | Foto: Banco de imagens/Canva

Nesse processo de alcançar mais pessoas, os livros narrados em estúdios de gravação também têm participado de um novo momento da literatura. Esse formato de livro falado tem sido procurado por jovens que têm vidas corridas e que consomem as sagas preferidas em qualquer lugar ou momento: no trabalho, no transporte, no banho, no treino ou até na cama, antes de dormir, como se fosse um podcast.
Confira um exemplo do formato: 
https://youtu.be/bR0BgXTuYDM?si=3m8Q37CxqhDFn45j
DIFERENTES FORMATOS
Apesar dos livros digitais ou narrados serem novidade, ao longo das décadas, outros formatos já adaptaram obras literárias de forma muito versátil, como peças de teatro, filmes e séries de televisão. Inclusive, o debate sobre a relevância dos novos modelos e a eventual substituição dos antigos não é algo novo. Assim ocorreu com a televisão, por exemplo. Quando foi lançada, havia a discussão se a TV marcaria o fim do rádio ou do cinema. 
Exemplos de adaptações literárias famosas são as sagas "Harry Potter", "Crônicas de Gelo e Fogo" (que inspiram a série "Game of Thrones") e "Crepúsculo".
A série de livros "Harry Potter" serviu de base para saga de filmes | Foto: Divulgação

Outro exemplo é a fanfic - narrativa ficcional escrita e divulgada por fãs. Esse formato tem saído das bolhas dos fãs clubes e crescido no cinema, a exemplo da série de filmes "After", que tem como base uma história fictícia do cantor Harry Styles, ex-integrante da banda britânica One Direction. Foi também de uma fanfic que surgiu a série de livros e de filmes "50 tons de cinza", criada com inspiração na saga literária "Crepúsculo". 
LIVROS E REDES SOCIAIS
Além das mudanças nos formatos dos livros, com a popularização de e-books e audiobooks, há uma alteração recente no mercado literário na divulgação das obras. E essa transformação foi intensificada durante a pandemia de Covid-19, de 2020 e 2022. De acordo com o serviço Nielsen BookScan, que mapeia o mercado literário mundialmente, entre 2020 e 2022, a venda de livros aumentou 41% globalmente.
De acordo com o gerente regional da Nielsen BookScan, Ismael Borges, a pandemia da Covid-19 teve um impacto significativo nos hábitos de lazer das pessoas, levando a uma redistribuição do tempo livre e resultando em um aumento na venda de livros. Ainda assim, as vendas voltaram a cair em 2023, com queda de 7% em comparação ao ano anterior, em 2022. Borges interpreta essa diminuição como algo natural, considerando o crescimento excepcionalnos anos anteriores.
O período pandêmico também foi responsável por um boom no uso das redes sociais. Segundo Relatório Global de Perspectivas de Mídia, cerca de um em cada três adultos no mundo gastaram mais tempo nas plataformas em relação ao que estavam acostumados. Tanto o aumento na venda de livros quanto no uso de redes sociais tem relação com o isolamento social imposto pela pandemia.
Sem poder sair de casa, em confinamento, as pessoas, em especial jovens e crianças, encontraram nas redes sociais um meio de distração. YouTube, Instagram e, principalmente, TikTok, bombaram com diversos tipos de conteúdo, criados tanto por influencers como por novos usuários. Entre os conteúdos, houve o crescimento do “BookTok”, comunidade de leitores que produzem vídeos no TikTok sobre livros. 
Sinopses, críticas e reviews de livros ganharam uma massa de fãs nos últimos anos. Os amantes do conteúdo confiam nas indicações e reprovações dos seus influenciadores preferidos. As indicações levam os usuários da rede social para os aplicativos de compra, ou até para as plataformas de livros digitais gratuitos. 
A força do “BookTok” chegou até nas livrarias. Em lojas baianas, é possível encontrar uma sessão destinada aos títulos que viralizam no TikTok. A intenção desse espaço é justamente aproximar o novo público, que chega por meio das famosas “trends” - conteúdos que ganham destaque nas redes sociais - da venda física das obras literárias. 
Livrarias montam sessões com livros que viralizam no TikTok | Foto: Reprodução/Redes Sociais

LIVRARIAS E EDITORAS 
Coordenador da livraria Leitura, com três unidades em Salvador, o editor e escritor Jason Neri afirma que as discussões sobre o conflito da cultura literária com o meio digital são inevitáveis no processo de criação de metodologias de marketing. Ele aborda ainda as estratégias de editoras literárias para atrair o público mais ligado ao meio digital. 
Jason diz que "falar a língua do público jovem" é essencial para conquistar leitores. “Saber quais são os livros que estão viralizando ao redor do mundo e o que pode ser uma tendência é um trabalho muito difícil”, pontua o coordenador da Leitura. “As editoras estão trabalhando cada vez mais, trazendo livros cada vez mais rápido. Antigamente, demorava muito para ter essa adaptação, agora está sendo quase simultaneamente", conta. 
A agilidade é necessária também, afirma Jason, para competir com a pirataria. “O que a gente está buscando é isso, essa celeridade nos processos de lançamento”. Segundo o coordenador da Leitura, o "BookTok" é uma ferramenta potente de influência nas escolhas de leitura, o que por consequência impulsiona as vendas. “O TikTok trouxe uma febre de alguns livros para o Brasil, atingindo um público que às vezes não consumia livros”.
RESISTÊNCIA 
Mesmo com toda a modernização e adaptação das tecnologias e suas recorrências, algumas livrarias como a LDM, que tem duas lojas em Salvador, mostram que as lojas físicas resistem na missão de proporcionar experiências únicas aos amantes da literatura, como o toque da folha, o cheiro das páginas e os detalhes gráficos de cada edição.
Facebook/ LDM

Produtor de eventos da livraria LDM, o produtor Deko Lipe assume que “busca manter o que só os espaços físicos podem proporcionar”, ou seja, as sessões de autógrafos e de rodas de conversas e os clubes dos livros. O produtor reconhece que há um crescimento muito grande nos novos formatos de consumo literário, mas diz notar a existência de muitos leitores que “não largam mão do toque e da sensação de segurar o livro". 
“Acredito que, por mais que as novas alternativas, como audiobooks ou e-books dispersem as vendas, ainda haverá quem queira viver momentos assim”, enfatiza. 
Apesar da resistência de algumas lojas, unidades de livrarias como a Saraiva e a Cultura encerraram as atividades nos últimos anos. A Saraiva tinha quatro unidades e a Cultura, uma. O fechamento é uma perda para a comunidade literária, já que, como aponta a LDM, essas lojas não são apenas pontos de compra de livros, mas também espaços de encontro, cultura e aprendizado. 
Outros locais que vem sofrendo para se adaptar à popularização dos meios digitais são os sebos, o que impacta na oportunidade de pessoas de todas as faixas etárias experienciarem a descoberta de novos e antigos títulos, autores e gêneros literários. Um ponto de tradição conhecido pelos baianos, o Sebo Brandão, no Centro Histórico, encerrou as atividades no início deste mês, após 55 anos.
O sebo sobreviveu à pandemia, às redes sociais e ao favoritismo das vendas online. Desde 1969, atraindo público de todas as idades, influenciando na troca e doação de livros, o sebo fechou as portas pelo falecimento do responsável por manter o espaço erguido durante tanto tempo, Eurico Brandão. 
O dono do Sebo Brandão, Eurico Brandão faleceu e a loja fechou depois de 55 anos | Reprodução/Redes Sociais

INCENTIVO 
Após um hiato de quase dez anos, a Bienal Bahia retornou em 2022 e bateu recorde de público em um dia. Dois anos depois, o evento tem expectativa de repetir o sucesso da última edição. O encontro terá lançamentos de livros, sessões de autógrafos, palestras, mesas-redondas, atividades culturais e participação de cantores como Daniela Mercury. 
A Bienal se une a outros eventos que vêm movimento a cena na Bahia, como as feiras e festas literárias. Elas impulsionam a relação dos baianos com a literatura por meio de saraus, debates, encontros, oficinas literárias, apresentações teatrais, leituras dramáticas, exibições de vídeo e shows musicais.
Bienal Bahia 2022 foi sucesso de público | Foto: Igor Santos/Secom PMS

Outro projeto que investe na leitura dos baianos é a "Bibliometrô Itinerante", iniciativa da empresa CCR Metrô Bahia, que admistra o metrô de Salvador e Lauro de Freitas. O projeto é um espaço multicultural com mais de mil livros para consulta ou leitura in loco, de forma gratuita. 
Divulgação/ CCR Metrô Bahia

A cada dois meses, a biblioteca do metrô se instala em diferentes pontos das estações do coletivo, para levar saraus, histórias contadas para crianças, que acontecem muitas vezes através dos encontros entre escolas da rede pública. Responsável pela produção do projeto, que tem dois anos, o assistente de comunicação Rogério Teles diz que a presença da biblioteca em locais acessíveis aos usuários da estação metroviária tem garantido o acesso à leitura e à cultura:
“Nós temos desde livros técnicos da área de informática, desenvolvimento pessoal, passando também por autores brasileiros, autores estrangeiros, livros infantis, juvenis, que sempre têm um atrativo. A ideia é levar para o cliente essa gama de possibilidades que ele possa aproveitar”. Segundo ele, a intenção é fomentar o contato com o livro físico. 
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