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Águas tranquilas da Baía de Todos-os-Santos tiveram dias de mar revolto na conquista do 2 de Julho

Em 1822 e 1823, Baía de Todos-os-Santos foi cenário de guerra, quando acolheu batalhas sangrentas, travadas por baianos e apoiadores na luta pela confirmação da Independência do Brasil

Por Da Redação

Águas tranquilas da Baía de Todos-os-Santos tiveram dias de mar revolto na conquista do 2 de Julhoreprodução/TV Aratu

Um mar de beleza, tranquilidade, e perfeito para a navegação. Assim é a Baía de Todos-os-Santos, espaço geográfico do Oceano Atlântico que é porta de entrada para Salvador e outros pontos buscados pelos turistas, no litoral baiano.


Com mais de 1.200 metros quadrados, a maior baía do Brasil foi batizada um ano após o descobrimento do país. A data era 1º de novembro, Dia de Todos-os-Santos para a Igreja Católica, que dominava o contexto religioso da época.


Na ocasião, além da importância da navegabilidade, seu posicionamento estratégico lhe transformou em um ponto natural de defesa e circulação de produtos da antiga colônia europeia.


A calmaria de suas águas permite, até hoje, a realização de uma variedade de esportes náuticos e atividades econômicas. Na natação e no mergulho, na pesca e na canoagem, e até no surfe do “stand up paddle”, é frequente encontrar praticantes das modalidades, desfrutando das boas condições do mar.


BAÍA DE TODOS-OS-SANTOS: MAR REVOLTO EM ÁGUAS CALMAS

Apesar de tudo isso, esse trecho de oceano já teve seus dias de "mar revolto". Outrora foi, literalmente, um cenário de guerra! Coube à Baía de Todos-os-Santos, nos anos de 1822 e 1823, acolher batalhas sangrentas travadas por baianos e apoiadores na luta pela confirmação da Independência do Brasil.


O "grito de liberdade" de Dom Pedro I, no 7 de setembro de 1822, não havia sido suficiente para afastar, de vez, os portugueses do território brasileiro. A Bahia foi um dos estados onde eles insistiram em permanecer e essa postura levou à ocorrência de sérios conflitos até a vitória, conquistada em 2 de Julho do ano seguinte.


Em contato com o historiador Rafael Dantas, o Aratu On buscou informações para entender como se deu a confirmação desse processo. O professor e autor do projeto “Conhecendo os Heróis e Heroínas da Independência da Bahia” pontuou trechos geográficos determinantes para as ocorrências das batalhas.


“Foram nos espaços, onde a gente, hoje, entende como Salvador, Recôncavo Baiano e a Baía de Todos-os-Santos, que aconteceram eventos decisivos e responsáveis pelo sitiamento e expulsão dos portugueses”, comenta Dantas.


https://twitter.com/aratuonline/status/1674495191602851840
 

O historiador destaca que Salvador, no século XVI, se tornou a capital da América Portuguesa e, posteriormente da província, por conta de sua posição estratégica, voltada para a Baía de Todos-os-Santos.


“Ela é a segunda baía navegável do mundo. Está, literalmente, no meio dos limites litorais do território brasileiro e em contato direto com o Atlântico”. Por esta razão, explica o professor, o porto de Salvador foi o mais movimentado da América do Sul, durante duas décadas do século XVIII.


Diante disso, era um lugar de interesse cobiçado por toda Europa, justificando a permanência dos portugueses na cidade e a tentativa de ocupação de Itaparica e localidades do Recôncavo da Bahia.


“A ocupação portuguesa em Salvador reflete os interesses do domínio da costa brasileira, da Baía de Todos-os-Santos, e o domínio estratégico que a baía representava naquele contexto, em direção ao eixo norte”, reforça o professor.


SALVADOR SITIADA

Rafael Dantas pontua que os portugueses estavam atracados nas águas da baía, e por ali, tentaram chegar ao Recôncavo, passando pelo Rio Paraguaçu. Além disso, a ideia era dominar Itaparica, principalmente, no momento em que eles não tinham alimentos, já que Salvador estava sitiada e a capital não produzia o que comer.


Em janeiro de 1823, na Ilha de Itaparica, a atuação do comandante brasileiro João das Botas aconteceu de forma bastante precisa. Dantas destacou que ele soube, estrategicamente, arregimentar pessoas que conheciam as águas da Baía de Todos-os-Santos e do seu entorno, para utilizar os barcos certos no confronto e impedir as ações inimigas.


“Foi nessas águas, que as embarcações, já do lado brasileiro, seguiram os portugueses, no momento que eles se renderam e partiram pra Portugal, no 2 de julho daquele ano!”, disse.


As batalhas, ao longo da guerra, aconteceram, conforme o professor, nos arredores de Itaparica, na Ponte do Funil; houve alguns confrontos no Rio Paraguaçu, especialmente na frente da cidade de Cachoeira; além de outros conflitos menores no entorno de Salvador, que marcaram, também, as tensões da luta pela Independência.


CRIAÇÃO DA MARINHA DO BRASIL
Legado natural dos conflitos travados na baía é a criação da Marinha do Brasil, ocorrida logo após a confirmação da Independência. Dantas salienta que a expulsão dos portugueses, por si só, não daria a segurança necessária aos limites do litoral brasileiro e o surgimento da Marinha representa um momento de organização da defesa do país.
Prova da antiga carência, explica o historiador, é que apesar da bravura dos combatentes brasileiros e da magnitude do feito neste processo histórico, a nação não possuía um exército formado. Por isso, reforça o professor, foi necessário o apoio de mercenários, que lutaram a serviço do imperador Dom Pedro I.
Entre esses profissionais se destacaram as forças do Lord Cochrane e Pierre Labatut. No grupo de voluntários brasileiros havia negros escravizados, indígenas, agricultores, vaqueiros, encourados, e pessoas de diversas camadas sociais, que utilizavam facões, punhais, espingardas e qualquer tipo de arma ao alcance deles.
De acordo com Rafael Dantas, grande parte da vitória envolvida na conquista da Independência da Bahia, se deu por conta da estratégia de sitiar e deixar os portugueses isolados das fontes dos recursos que precisavam. "A estratégia fez com que aos poucos eles fossem minguando, perecendo com a própria ideia de dominar o contexto da baía", disse.
As águas transparentes da Baía de Todos-os-Santos, hoje tão admiradas por baianos e turistas, refletem muito da luta, sangue e coragem daqueles que consolidaram, aqui na Bahia, a verdadeira independência do Brasil.
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