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As baratas têm alguma utilidade (além de apavorar os seres humanos)? A gente foi atrás da resposta!

Pequenos, pré-históricos e abundantes, o biólogo Jeferson Coutinho conversou com o Aratu On e revelou mais detalhes sobre as baratas

Por Lucas Pereira

As baratas têm alguma utilidade (além de apavorar os seres humanos)? A gente foi atrás da resposta!Créditos da foto: ilustrativa/Pexels
Nas grandes cidades, uma espécie de animal é responsável por apavorar os seres humanos, de ambos os sexos, sempre que ela é encontrada em um ambiente. Você pode ter imaginado que nós estamos falando das baratas. Voadoras, ágeis e com sete saias de filó, muitas pessoas podem se questionar se elas possuem alguma utilidade para o mundo (além de tirar o sono de homens e mulheres de várias idades). O Aratu On foi em busca de uma resposta.
Primeiro, é importante explicar o que são as baratas. Segundo o biólogo, especialista em Meio Ambiente e Agroecologia e professor de biologia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Jeferson Coutinho, “as baratas formam um grande grupo de insetos chamado Blattodea. No mundo, existem mais de 5.000 espécies conhecidas, das quais, apenas 40 são consideradas domésticas, aquelas que vivem dentro de nossas casas. O corpo desses animais é achatado, podendo variar de alguns milímetros a até 20 centímetros de comprimento”.
A barata urbana, conhecida como Periplaneta americana, é a espécie mais abundante e se apresenta com uma cor marrom. Elas adoram locais úmidos e escuros como porões, ralos, lixos e esgotos, comem de tudo e possuem uma característica que bota medo em qualquer um: podem voar.
O biólogo afirma que a dieta destes bichos, tão malvistos, vai muito além de doces e produtos de origem animal. “Eles podem alimentar-se de uma grande variedade de outras substâncias como queijos, cervejas, cremes, produtos de panificação, colas, cabelos, células descamadas da pele, cadáveres e matérias vegetais”, conta
As baratas têm utilidade?
Sobre o questionamento que mobilizou essa reportagem: as baratas possuem alguma função/utilidade na natureza? A resposta dada pelo professor Jeferson é “sim”. Contudo, o conceito de utilidade precisa ser analisado com cautela. Partindo da definição que uma espécie tem uma função em determinado ecossistema se, caso seja retirada de lá, consequências negativas acontecerão no local, pode-se dizer que esses insetos têm muita importância nos ambientes.
“Muitas baratas servem de alimento para outros animais, como ratos e morcegos. Além disso, muitas espécies associadas às florestas são excelentes detritívoras, ou seja, se alimentam de toneladas de restos orgânicos acumulados nas florestas e liberam as excretas no solo, que servem para manutenção da fertilidade desse lugar. As espécies que vivem em ambientes urbanos consomem toneladas de fezes, cadáveres, papel, restos de alimentos e até mesmo cigarro e plástico, o que gera uma contribuição importante na dinâmica desses resíduos que vão parar nos esgotos”, informa Coutinho.
Apesar de úteis, o contato com esses insetos deve ser evitado, uma vez que as baratas são vetores de doenças para os seres humanos. O especialista enumerou algumas enfermidades que podem ser adquiridas: “lepra, a disenteria, as gastroenterites, o tifo (febre tifoide), a meningite, a pneumonia, a difteria, o tétano e até a tuberculose”.
Elencamos algumas curiosidades sobre esses pequenos animais, presentes na rotina das cidades e que ganharam diversas músicas, a exemplo de “Bichos Escrotos”, dos Titãs, “A Barata”, do grupo Só Pra Contrariar e a canção infantil “A Barata Diz Que Tem”. Em 1996, foi lançado o filme “Joe e as Baratas”, que conta a história de um jovem que se muda para um apartamento em Nova York e acaba descobrindo que divide a residência com milhares de baratas falantes e cantoras.
Por fim, um dos exemplos mais famosos em que as baratas aparecem nas artes está no livro “A Metamorfose”, do tcheco Franz Kafka, que retrata a história de um caixeiro-viajante que misteriosamente acorda um dia no corpo de uma baratinha. A propósito, a fobia de baratas recebe o nome de catsaridafobia.
Confira outras curiosidades respondidas pelo entrevistado
É verdade que as baratas existem desde a época dos dinossauros?
Temos evidências de que as baratas existem há mais de 300 milhões de anos. Essas primeiras baratas, que deram origem às mais de 5.000 espécies que existem atualmente, eram excelentes corredoras, viviam próximas de ambientes úmidos e mediam de 5 a 7 centímetros, com uma morfologia bem parecida com as baratas atuais. Inclusive, esses animais possuem parentesco com os cupins, por terem um ancestral comum.
Esses insetos conseguem viver, mesmo que tenham a cabeça arrancada?
A questão do viver sem cabeça por semanas pode ser explicada pelo fato da descentralização do sistema nervoso desses animais, ou seja, elas possuem vários grupos de células nervosas ao longo do corpo achatado, formando o que chamamos de anéis nervosos, que controlam o movimento de suas pernas e funcionamento de outras partes do seu corpo. Desse modo, a cabeça não exerce papel único no controle de suas funções vitais. Existem registros de baratas que conseguiram viver semanas sem a cabeça, depois de terem se alimentado. Mas, uma vez que esse estoque interno de comida acabar, elas vão morrer de fome.
É válida a hipótese de que esses animais conseguem sobreviver a ataques nucleares?
Precisamos avaliar essa questão com cautela. Em termos comparativos, elas são mais resistentes que os humanos a um ataque nuclear, mas não se trata uma resistência ilimitada à radiação. Essa maior resistência se deve a dois principais fatores.
O primeiro é o fato de suas células se dividirem mais lentamente que o padrão visto nos humanos e, quanto mais rapidamente uma célula se divide, maiores são as chances de sofrerem mutações em seu DNA, sendo a radiação um fator que afetaria essa taxa de mutação. A exposição de um tecido à radiação é medida em unidades Gray (Gy). No caso de humanos, a dose letal é de 4-10 Gy. No caso das baratas, a dose letal é de cerca de 64 Gy, cerca de 6 a 15 vezes maior que a dos humanos.
O segundo motivo é que seu pequeno corpo achatado permite que elas se escondam em locais muito diminutos, o que poderia auxiliá-las a se esconderem em locais mais protegidos da área afetada pela explosão. Entretanto, se estivessem em total exposição à radiação, com valores iguais ou acima da dose considerada letal, poderiam morrer sim.
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