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Conheça a história por trás do samba junino, o "pai do pagode baiano" que revelou Márcio Victor e Tatau

Segundo o geógrafo Ubiraci Carlúcio, conhecido como Professor Bira, Colunista On, o samba junino surgiu com o fluxo migratório.

Por Juana Castro

Conheça a história por trás do samba junino, o "pai do pagode baiano" que revelou Márcio Victor e Tatau  Créditos da foto: Kleber Alves Santos/Flickr

Não é só o forró que dá o tom no mês do São João, em Salvador. No período marcado pelo “dois pra lá, dois pra cá”, quem se destaca também é o samba junino, manifestação cultural genuinamente soteropolitana e considerada, desde 2018, patrimônio cultural da cidade.


Segundo o geógrafo, especialista em história e cultura afrobrasileira, Ubiraci Carlúcio, conhecido como Professor Bira, Colunista On, o samba junino surgiu com o fluxo migratório dos sujeitos que saíram do Recôncavo Baiano com destino a Salvador. A partir da década de 1970, aproximadamente, eles começaram a trazer a influência do samba de roda típico da região para a soteropolis.


“Além disso, também contavam com influência dos terreiros de candomblé, que estavam situados, principalmente, no Engenho Velho de Brotas e Engenho Velho da Federação - bairros que não eram mais quilombos, mas com resquícios pós-escravização”, explica o professor, destacando ainda as regiões do Nordeste de Amaralina, Fazenda Garcia e Tororó.


O geógrafo ressalta que o ritmo deu um novo significado às celebrações de junho - Santo Antônio, São João e São Pedro -, que têm valores eurocêntricos. Por incorporar diversos elementos musicais externos, inclusive do movimento black power, o samba junino passou a “valorizar e fortalecer a identidade étnica negra, a partir de uma perspectiva contra-hegemônica”.



SAMBA TRATOR


Um dos grupos tradicionais da capital baiana é o Samba Trator, em atividade há quase dez anos, após o produtor e percussionista, Ronaldo Urso, levantar a ideia de "juntar os amigos" para fazer samba, como conta o vocalista Juraci Santos. "Eram amigos de quatro grupos de samba junino, mas queríamos algo nosso. Hoje em dia são 13 músicos tocando, fora a produção e técnica".


Apesar da agenda cheia neste mês de junho, com shows no Pelourinho e na Liberdade, nos finais de semana, a banda não abre mão de voltar ao bairro onde "nasceu", o Engenho Velho de Brotas, para fazer o "arrastão" no dia de São João - esta sexta-feira, 24 de junho.


"A comunidade levantou a banda. Quando a gente gravou CD, fez o 'de boca em boca'... então é uma 'dívida' que a gente tem com o bairro. Levamos o Samba Trator, de graça, para o nosso povo", declara Juraci.


Mas nem sempre foi assim. O cantor revelou que houve um tempo difícil, a ponto de alguns grupos pararem os trabalhos. "Tem muito samba junino voltando, como Samba Jaké, Fogueirão, Leva Eu, Samba Neguinho. Tem sido bastante proveitoso e, agora, estamos derrubando 'muros de Berlim'", brinca.


Por falar em "derrubar", o nome do grupo carrega justamente essa ideia. "O trator é uma máquina forte, avassaladora", explica. 



 


REVELAÇÕES E REPRESENTATIVIDADE


De acordo com professor Bira, o samba junino pode ser considerado o "pai" do pagode baiano como conhecemos hoje, além de ter feito revelações. 


"Grandes nomes beberam dessa fonte. Márcio Victor [do Psirico] vem do Engenho Velho de Brotas; Tatau [ex-Ara Ketu], do Samba Scorpions, do Engenho Velho da Federação; Ninha [ex-Timbalada], também de Brotas... E Moa do Katendê, fundador do Badauê, foi também um grande colaborador dos sambas juninos, desse gênero de resistência e muita resiliência".


Ainda na entrevista, o geógrafo destaca outro elemento na manifestação cultural: a representatividade. Afinal, rainhas bastante conhecidas do samba junino são mulheres trans. "Poquinha é a figura central que sempre foi rainha dos sambas, no Alto da Bola, no Garcia... Todo mundo conhece. Tem também Jujuba, que durante muito tempo era rainha. Isso fortalece a população LGBTQIAP+", diz Bira.




Jujuba | Foto: Moisés A. Neuma/Agência Mural


VALORIZAÇÃO


Quanto ao fato de ser um patrimônio cultural de Salvador, professor Bira avalia que é um "grande passo", mas faz algumas ressalvas. "O processo de globalização vai aniquilando as manifestações culturais locais”, analisa, apontando ainda um racismo estrutural, já que é um gênero que “bebe na fonte do Recôncavo e é herança do povo negro”. 


"Valorizar o samba junino é valorizar a cultura negra, e faltam políticas públicas - nos âmbitos municipal, estadual e federal - que possam fazer isso”, conclui.


V FESTIVAL DE SAMBA JUNINO


A partir das 17h desta sexta-feira (24/6) acontece o V Festival de Samba Junino, promovido pela Liga do Samba Junino, projeto contemplado na categoria Festival, do Prêmio Samba Junino – Ano IV, da Fundação Gregório de Mattos (FGM). O evento é realizado no final de linha do Garcia e tem participação de diversos grupos para celebrar os 50 anos da manifestação cultural.


No festival acontecem os concursos de canção, rainha e melhor grupo, avaliados por uma comissão julgadora e, também, pelo público presente, que, como enaltece o produtor de eventos da Liga, Vagner Shrek, “não avaliam, mas a energia, a participação de quem tá assistindo, com certeza, influencia a opinião dos jurados”.


Outros tópicos que serão julgados são ineditismo das canções, melhor rainha sambadeira e desempenho geral do grupo levando em consideração o figurino, repertório, rainha e envolvimento do público durante as apresentações.


Os grupos participantes são: Sambão da Mucumg, Samba Fogueirão, Samba Jaké, Samba Neguinho, Samba Duro VS, Hody Bamba, Samba Chama, Sambalança, Off Scalla, Samba Skorpio, Vai Kem Ké, Samba do Índio Tamoios, Samba Dú Papelão, Samba Duro de Terreiro, Samba Chile, Samba Coral, Balão de Ouro, Samba Zumbaê, Samba Tororó, Samba Futuka, Samba do Morro e  Samba Leva Eu.


Já no domingo (26/6), a partir das 16h, para apresentar o resultado da apuração realizada pela comissão, acontece o desfile dos campeões, com os já tradicionais arrastões dos grupos vencedores, na Avenida Almirante Alves Câmara, no Engenho Velho de Brotas.


“O Samba Junino é o conservatório de música na periferia, nesse ambiente cultural, adultos, jovens e crianças têm o seu primeiro contato com a nossa música, fruto de uma herança ancestral africana”, avalia Shrek.


Tanto o festival quanto o desfile serão disponibilizados nas redes sociais da Liga do Samba Junino (@ligadosambajuninooficial).


PRÊMIO SAMBA JUNINO


Lançado em 2018, o prêmio idealizado pela Diretoria de Patrimônio e Humanidades, por meio da Gerência de Patrimônio Cultural da FGM, contempla propostas voltadas à salvaguarda do Samba Junino, de acordo às diretrizes de política cultural do município e do Registro Especial do Samba Junino como Patrimônio Cultural de Salvador. 


LEIA MAIS: Diversidade em Campo: Salvador recebe 1º Workshop sobre diversidade no futebol; inscrições online


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