Morre Jean-Claude Bernardet, referência em crítica de cinema no Brasil

Roteirista, ator e crítico de cinema, morre Jean-Claude Bernardet, aos 88 anos

Por, Da Redação e Júlia Naomi.

Morre Jean-Claude Bernardet, um dos maiores nomes da teoria cinematográfica e crítica de cinema nacional, neste sábado (12), aos 88 anos. A informação foi confirmada  ao SBT News pela Cinemateca Brasileira, local onde acontecerá o velório. Bernardet era belga, de ascendência francesa e vivia no Brasil desde 1948. Há anos, ele convivia com HIV, câncer e problemas na visão.

Morre Jean Claude Bernardet, crítico de cinema referência no Brasil, que roterizou obras do Cinema Novo. Foto: Divulgação

Ele participou da fundação da Universidade de Brasília (UnB), em 1965, ao criar, junto ao crítico Paulo Emílio Salles Gomes e ao cineasta Nelson Pereira dos Santos, o primeiro curso de cinema do país. Jean-Claude Bernardet era pensador, historiador e professor universitário, de modo que contribuiu para a formação de gerações de cineastas, com dezenas de livros, ensaios, artigos e entrevistas. 

Referência nacional, ele escreveu uma obra vasta, de conteúdo acadêmico e também ficcional. Entre suas publicações, estão títulos como "Trajetória Crítica" (1978), "Cineastas e Imagens do Povo" (1985) e "Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro" (1995). Em "Aquele Rapaz" (1990), reuniu memórias de sua infância e juventude. Já em  "A Doença, uma Experiência"  (1996), relatou vivências com a Aids.

Dentre suas obras, está "Brasil em Tempo de Cinema" (1967), em que fez apontamentos políticos e de classe durante o período do Cinema Novo, movimento cinematográfico mais influente do país. Um dos longas analisados no livro foi "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964), do cineasta baiano Glauber Rocha, que rompeu com o autor após as observações.

Na mesma época, no auge do Cinema Novo, roteirizou o importante curta "Brasília: Contradições de Uma Cidade Nova", de Joaquim Pedro de Andrade, e co-assinou com o diretor Luiz Sérgio Person o clássico "O Caso dos Irmãos Naves" (1967).

Bernadet nasceu na Bélgica, mas vinha de família francesa e morou em paris até 1948. Na adolescência, em São Paulo, frequentava cineclubes e a Cinemateca. Nos anos 1950, começou a escrever  no Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo e outros veículos, após se aprofundar na crítica de cinema. 

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Morre Jean-Claude Bernardet, crítico de cinema perseguido na ditadura

A ditadura militar causou impactos significativos em sua carreira, mas não o impediu de continuar. Em 1964, Bernardet perdeu o emprego na Cinemateca após o golpe. O Ato Institucional nº 5 provocou sua aposentadoria forçada da UnB, universidade que ajudou a fundar,  poucos anos antes.

Universidade de Brasília (UnB). Foto: Divulgação

Ainda assim, o crítico de cinema seguiu com sua carreira acadêmica, na qual permaneceu até 2004, quando se aposentou da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), mesma instituição em que fez doutorado. Em sua formação universitária, Jean-Claude Bernardet também passou pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris), nos anos 1970.

Como diretor, comandou o ensaístico "São Paulo, Sinfonia e Cacofonia" (1994). Ele também  co roteirizou com a diretora Tata Amaral três longas: os premiados "Um Céu de Estrelas" (1996), "Através da Janela" (2000) e "Hoje" (2011). A atriz Denise Fraga estrela este último, que dramatiza horrores e lutas da ditadura.

Bernardet passou priorizar a atuação a partir de "FilmeFobia" (2008), de Kiko Goifman, quando venceu troféu Candango de atuação em Brasília. Ele estrelou filmes carregados de reflexão e subjetividade, como "A Navalha do Avô" (2013), "Periscópio" (2013), "Pingo d'Água" (2014), "Fome" (2015), "A Destruição de Bernardet" (2016), "Antes do Fim" (2017), "Ulisses" (2024) e "A Última Valsa" (2024), curta que codirigiu com Fábio Rogério.

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