Igreja da Graça: o que você sabe sobre a primeira igreja de Salvador?
De acordo com a Arquidiocese de Salvador, a igreja foi construída antes mesmo da fundação da cidade, em 1549
Quem passa pela Igreja da Graça não imagina a história que há por trás das paredes simples e encobertas por árvores daquele templo. A construção simples, longe dos detalhes em ouro das igrejas mais famosas e imponentes de Salvador, guarda um acervo valioso que se confunde com o surgimento da capital baiana, que celebra 474 anos nesta quarta-feira (29/3). A igreja foi a primeira de Salvador, de acordo com a Arquidiocese, e foi erguida, inclusive, antes mesmo da fundação da cidade, em 1549.
O templo foi construído por volta de 1535 a pedido de Catarina Paraguaçu, a 'Mãe do Brasil', cujos restos mortais estão na igreja. O local reverencia as mulheres: além de ter Catarina como benfeitora, a igreja também guarda os restos mortais de Julia Fetal, feminicídio que ficou conhecido como 'o crime da bala de ouro', em 1847, e homenageia Nossa Senhora da Graça, cuja imagem no altar foi encontrada em uma embarcação naufragada por volta de 1530.
Em 2019, o local iniciou seu processo de musealização como forma de preservar e valorizar ainda mais a história abrigada no templo, que foi tombado em 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio material e imaterial do Brasil. Esse projeto prevê a implantação de um Centro de Memória que inclui, além de todo o acervo que já consta no Mosteiro de São Bento, que administra a igreja, a repatriação de artefatos históricos que, hoje, estão em outros países.
ORIGEM
Embora a igreja tenha sido construída inicialmente por volta de 1535, a estrutura atual foi erguida no século XVIII em alvenaria de pedra e tijolo e passou por reformas nos anos seguintes. O início da construção ocorreu após a volta de Catarina Paraguaçu e Diogo Álvares Correia, que ficou conhecido como Caramuru, da França. Conforme o historiador Zé Raimundo Lima, coordenador do Complexo Cultural da Igreja da Graça, Catarina teve um sonho com uma imagem, que seria de Nossa Senhora da Graça.
"Logo em seguida, após o sonho de Catarina, foi encontrada, num naufrágio na região Sul da Bahia, uma imagem de Nossa Senhora da Graça. Foi então que Catarina pediu que fosse erguida uma igreja. O terreno foi cedido por ela para a construção", relata Lima, que integra o conselho do templo formado por oito pessoas.
A também historiadora Tanira Fontoura ressalta que "as memórias habitam pessoas, objetos, documentos e lugares. A Igreja de Nossa Senhora da Graça é um desses locais, fruto de uma história de encontro de diferentes culturas e que faz parte da formação do Brasil".
Capelão da igreja, Dom Angelo Alves, subprior do Mosteiro de São Bento da Bahia e coordenador do Complexo Cultural do templo, conta que o local guarda um acervo histórico que precisa ser valorizado. "Mais importante é a compreensão da necessidade de preservar e valorizar a nossa história", pontua, sobre a necessidade do Centro de Memória.
O processo de musealização visa tornar a igreja um local de memória, de forma que o rico acervo existente seja disponibilizado para o público por meio de ações de educação patrimonial, construção de um circuito de visitação, atividades artístico-culturais continuadas, inserção no campo do turismo religioso e incentivo à pesquisa, entre outros.
Embora guarde um vasto conteúdo, o templo hoje não tem grande visitação. Entretanto, já é procurado por agências de viagem até mesmo de outros estados. O local, inclusive, teve uma reforma iniciada, mas a intervenção foi paralisada pouco antes da pandemia e não retornou. Agora, contam os conselheiros do local, eles pretendem retomar as obras e dar seguimento ao processo de criação do Centro de Pesquisa e Memória Catarina Paraguaçu.
Além dos túmulos de Catarina e de Julia Fetal, o local guarda ainda um acervo valioso com documentos, obras de arte, objetos como lavabos e madeiramento original, além de telas de Manuel Lopes Rodrigues, um dos mais importantes pintores brasileiros do realismo, e peças artísticas do século XVIII.
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