'Mulheres pretas têm sido sexualizadas na tela, vistas como complicadas e confusas', diz Viola Davis em Salvador
Painel com os atores Viola Davis, Julius Tennon e Taís Araújo e a empresária Melanie discute a cultura afrodiaspórica no Festival Liberatum
Créditos da foto: Divulgação
"Mulheres pretas têm sido sexualizadas na tela, vistas como complicadas e confusas", afirmou a atriz americana Viola Davis nesta sexta-feira (3/11), em painel do Festival Liberatum, no Centro de Convenções de Salvador, no bairro da Boca do Rio. "O poder é perceber que tudo o que te disseram sobre ser uma atriz negra é uma mentira", destacou. O painel contou com os atores Taís Araújo e Julius Tennon, marido de Viola, e a empresária Melanie Clark, que trabalha com a americana.
No evento, sobre a cultura afrodiaspórtica (que se refere aos aspectos culturais que se expandiram pelo mundo por meio da diáspora, ou seja, através da migração forçada dos povos africanos), a atriz falou sobre os obstáculos ao crescimento de artistas negros na indústria cultural. "As limitações do que podemos fazer, eu chamo de opressão internalizada", disse Viola. Dirigindo o discurso a uma plateia de 1.000 pessoas em Salvador, ela afirmou: "há quantas pessoas aqui, cujas histórias não foram contadas? Muitas histórias não foram contadas".
Para Viola, há muito a ser contado e feito, especialmente sobre mulheres pretas. "Dizemos que queremos aprender com os ancestrais, isso é importante, mas a tarefa do artista é também a rebeldia. Porque mesmo quando contamos a história [de pessoas pretas], é sob o olhar do colonizador". Ela exemplificou esse olhar: "Precisamos do poder e da coragem para contar histórias de quem somos, sem pedir desculpas".
FAMA
A atriz, vencedora de um Oscar (cinema), um Emmy (TV), dois prêmios Tony (teatro) e um Grammy (música), afirmou que foi em uma viagem que fez para a Itália que percebeu a relevância que conquistou mundialmente. "Tinha um monte gente lá [no hotel onde se hospedou]. Pensei 'Mick Jagger está aqui?' Mas eles estavam lá por mim. Percebi que quando fazemos algo honesto, as pessoas gostam e acreditam em você", contou a artista. Esse alcance internacional, diz Viola, ela alcançou com a série de TV "How to Get Away With Murder", (Como escapar de um assassinato, em tradução livre), na qual interpretou a protagonista, a advogada Annalise Keating.
Para Taís, que protagonizou duas das novelas brasileiras mais exportadas pelo Brasil - "Xica da Silva" e "Da Cor do Pecado" - o que permite o crescimento de atrizes negras, como ela e Viola, são boas histórias. "As histórias são universais. Se você contar uma boa história, alcança o mundo inteiro". Sobre a fama internacional, ela lembra em um evento que viveu na França. "Alguém me perguntou se eu era Preta, e eu respondi que sim, depois, ele falou de Paco e eu entendi que ele se referia à personagem Preta, da novela [Da Cor do Pecado]".
HISTÓRIAS
No painel, assim como Viola, Taís falou sobre a importância de contar histórias sob o ponto de vista das pessoas pretas. "A gente tem que contar como a gente quer se ver e mostrar como a gente é de verdade. São múltiplas mulheres negras, homens negros e famílias negras. Precisamos contar nossas histórias. Precisamos nos sentir possíveis, pois a construção faz com que nós nos sintamos impossíveis". Taís ainda cravou: "o poder está com a gente".
A empresária americana Melanie Clark afirmou que tem vontade de ouvir e assistir histórias sobre quem o povo preto era antes do período colonial. "Acho isso importante, para o Brasil também, porque nós focamos em quem nós somos realmente. E é claro, como filha de Ogum, adoraria ouvir histórias de Orixás", disse Melanie, que está produzindo um filme sobre o escritor e jornalista Nelson Rodrigues. "A diáspora Latina é muito grande, e ele é um herói pra muitas pessoas que estão fora dessa diáspora".
Para a empresária, a indústria cultural ainda é guiada pela mentalidade dos opressores, com algumas exceções. "Há algumas histórias sendo contadas, como a 'Mulher Rei' [personagem de Viola em filme homônimo], mas leva muito tempo e dedicação. Mas nós, pessoas pretas, somos resilientes. Os conquistadores, eles tentam destruir, mas não conseguem, e é por isso que estamos aqui".
'TODO SER HUMANO É EXTRAORDINÁRIO'
No painel, Viola Davis ratificou a importância de que as histórias precisam ser contadas. "Tem um ditado famoso que diz que todo ser humano é extraordinário. Alguns dos maiores escritores da humanidade escrevem sobre histórias de pessoas comuns".
Veja vídeo da atriz no painel:
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TUMULTO
Marcado para às 15h, o painel com Viola, Julius, Taís e Melanie no Festival Liberatum começou por volta das 15h45, com sala lotada no Centro de Convenções. Com pessoas aglomeradas, o início foi tumultuado, com o público chegando a vaiar a organização, em determinado momento. As fileiras supostamente destinadas para a imprensa não estavam separadas. Muitas pessoas ficaram em pé e outras precisaram sentar no chão.
FESTIVAL
O Festival Liberatum é realizado desta sexta-feira à próxima segunda-feira (6/11) e conta com uma programação que terá painéis, premiações e show. O evento é gratuito e teve ingressos disponibilizados por plataforma online. A programação será em diversos locais. São eles: Centro de Convenções, Candyal Ghetto Square, Praça Cairu e Museu Nacional de Cultura Afro-Brasileira. Veja a programação completa no Aratu On.
LEIA MAIS: Viola Davis anuncia que abrirá empresa de podcast em Salvador
Acompanhe nossas transmissões ao vivo no www.aratuon.com.br/aovivo. Siga a gente no Insta, Facebook e Twitter. Quer mandar uma denúncia ou sugestão de pauta, mande WhatsApp para (71) 99940 – 7440. Nos insira nos seus grupos!
No evento, sobre a cultura afrodiaspórtica (que se refere aos aspectos culturais que se expandiram pelo mundo por meio da diáspora, ou seja, através da migração forçada dos povos africanos), a atriz falou sobre os obstáculos ao crescimento de artistas negros na indústria cultural. "As limitações do que podemos fazer, eu chamo de opressão internalizada", disse Viola. Dirigindo o discurso a uma plateia de 1.000 pessoas em Salvador, ela afirmou: "há quantas pessoas aqui, cujas histórias não foram contadas? Muitas histórias não foram contadas".
Para Viola, há muito a ser contado e feito, especialmente sobre mulheres pretas. "Dizemos que queremos aprender com os ancestrais, isso é importante, mas a tarefa do artista é também a rebeldia. Porque mesmo quando contamos a história [de pessoas pretas], é sob o olhar do colonizador". Ela exemplificou esse olhar: "Precisamos do poder e da coragem para contar histórias de quem somos, sem pedir desculpas".
FAMA
A atriz, vencedora de um Oscar (cinema), um Emmy (TV), dois prêmios Tony (teatro) e um Grammy (música), afirmou que foi em uma viagem que fez para a Itália que percebeu a relevância que conquistou mundialmente. "Tinha um monte gente lá [no hotel onde se hospedou]. Pensei 'Mick Jagger está aqui?' Mas eles estavam lá por mim. Percebi que quando fazemos algo honesto, as pessoas gostam e acreditam em você", contou a artista. Esse alcance internacional, diz Viola, ela alcançou com a série de TV "How to Get Away With Murder", (Como escapar de um assassinato, em tradução livre), na qual interpretou a protagonista, a advogada Annalise Keating.
Para Taís, que protagonizou duas das novelas brasileiras mais exportadas pelo Brasil - "Xica da Silva" e "Da Cor do Pecado" - o que permite o crescimento de atrizes negras, como ela e Viola, são boas histórias. "As histórias são universais. Se você contar uma boa história, alcança o mundo inteiro". Sobre a fama internacional, ela lembra em um evento que viveu na França. "Alguém me perguntou se eu era Preta, e eu respondi que sim, depois, ele falou de Paco e eu entendi que ele se referia à personagem Preta, da novela [Da Cor do Pecado]".
HISTÓRIAS
No painel, assim como Viola, Taís falou sobre a importância de contar histórias sob o ponto de vista das pessoas pretas. "A gente tem que contar como a gente quer se ver e mostrar como a gente é de verdade. São múltiplas mulheres negras, homens negros e famílias negras. Precisamos contar nossas histórias. Precisamos nos sentir possíveis, pois a construção faz com que nós nos sintamos impossíveis". Taís ainda cravou: "o poder está com a gente".
A empresária americana Melanie Clark afirmou que tem vontade de ouvir e assistir histórias sobre quem o povo preto era antes do período colonial. "Acho isso importante, para o Brasil também, porque nós focamos em quem nós somos realmente. E é claro, como filha de Ogum, adoraria ouvir histórias de Orixás", disse Melanie, que está produzindo um filme sobre o escritor e jornalista Nelson Rodrigues. "A diáspora Latina é muito grande, e ele é um herói pra muitas pessoas que estão fora dessa diáspora".
Para a empresária, a indústria cultural ainda é guiada pela mentalidade dos opressores, com algumas exceções. "Há algumas histórias sendo contadas, como a 'Mulher Rei' [personagem de Viola em filme homônimo], mas leva muito tempo e dedicação. Mas nós, pessoas pretas, somos resilientes. Os conquistadores, eles tentam destruir, mas não conseguem, e é por isso que estamos aqui".
'TODO SER HUMANO É EXTRAORDINÁRIO'
No painel, Viola Davis ratificou a importância de que as histórias precisam ser contadas. "Tem um ditado famoso que diz que todo ser humano é extraordinário. Alguns dos maiores escritores da humanidade escrevem sobre histórias de pessoas comuns".
Veja vídeo da atriz no painel:
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TUMULTO
Marcado para às 15h, o painel com Viola, Julius, Taís e Melanie no Festival Liberatum começou por volta das 15h45, com sala lotada no Centro de Convenções. Com pessoas aglomeradas, o início foi tumultuado, com o público chegando a vaiar a organização, em determinado momento. As fileiras supostamente destinadas para a imprensa não estavam separadas. Muitas pessoas ficaram em pé e outras precisaram sentar no chão.
FESTIVAL
O Festival Liberatum é realizado desta sexta-feira à próxima segunda-feira (6/11) e conta com uma programação que terá painéis, premiações e show. O evento é gratuito e teve ingressos disponibilizados por plataforma online. A programação será em diversos locais. São eles: Centro de Convenções, Candyal Ghetto Square, Praça Cairu e Museu Nacional de Cultura Afro-Brasileira. Veja a programação completa no Aratu On.
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