Ministra critica perda de pontos de escola de samba por uso do Iorubá
Ministra da Cultura, Margareth Menezes, manifestou-se após jurada despontuar Unidos de Padre Miguel no quesito "Letra"
Por Da Redação.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, manifestou indignação após a Unidos de Padre Miguel (UPM) perder pontos no desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro devido ao uso de termos em Iorubá no samba-enredo. A justificativa foi apresentada por uma das juradas, que apontou “trechos de difícil entendimento devido ao excesso de termos em Iorubá” como critério para a redução da nota.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
A UPM, que retornou ao Grupo Especial após mais de 50 anos, acabou rebaixada para a Série Ouro. No sábado (8), Margareth Menezes comentou o caso em suas redes sociais. “Inaceitável! A Unidos de Padre Miguel perdeu pontos no Carnaval porque usou ‘excesso de termos em Iorubá’ no samba-enredo. Como assim? O Iorubá é uma das línguas que formam nossa cultura, está na raiz do samba, nas religiões de matriz africana, na história do Brasil!”, escreveu.
A ministra classificou o episódio como um “desrespeito à nossa ancestralidade” e reforçou seu apoio à escola. “Isso não é só um erro de julgamento, é um desrespeito à nossa ancestralidade. O samba nasceu da resistência! Todo apoio à Unidos de Padre Miguel e a todas as escolas que levam a cultura afro-brasileira para a avenida com orgulho!”, acrescentou.
Reações e questionamentos
A justificativa da jurada gerou críticas de especialistas e entidades ligadas à cultura afro-brasileira. O professor doutor e babalawô Ivanir dos Santos expressou indignação nas redes sociais. “Nossa história é Iorubá. Nossa história é Nagô. Nossa história é Banto. Nossa história é África. Não podemos aceitar que a língua de nossos ancestrais seja tratada como um erro em um dos maiores palcos da cultura afro-brasileira”, afirmou.
Ele argumentou que a decisão de retirar pontos da escola representa mais do que um erro técnico. “Não é apenas um equívoco técnico – é uma manifestação de racismo estrutural. Como podemos contar nossa história sem usar nossa própria língua? Como podemos falar de nossos ancestrais sem exaltar sua espiritualidade, sua cultura, sua voz?”, questionou.
O samba-enredo da UPM, intitulado Egbé Iyá Nassô, homenageou Iyá Nassô, uma das fundadoras do Candomblé da Barroquinha, na Bahia. O terreiro que ela ajudou a estabelecer deu origem ao Terreiro Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador, considerado o mais antigo templo de religião de matriz africana no Brasil.
Santos também destacou a necessidade de reconhecimento da cultura afro-brasileira no Carnaval. “O mesmo Carnaval que exalta a história de colonizadores, que enaltece epopeias europeias e mitologias de outras culturas, precisa valorizar e respeitar a língua, a memória e a espiritualidade dos povos que o construíram. O samba nasceu da resistência negra, e suas raízes não podem ser penalizadas como ‘erro’ ou ‘excesso’”, afirmou.
O Iorubá é uma das línguas africanas mais conhecidas no Brasil, presente na tradição do Candomblé e em diversos aspectos da cultura afro-brasileira, incluindo cantos, mitos e rituais.
Recurso e posicionamento da Liesa

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
A Unidos de Padre Miguel entrou com recurso junto à Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) para que o julgamento seja revisto. Durante o Desfile das Campeãs, no sábado (8), o presidente da Liesa, Gabriel David, afirmou que a entidade analisará o pedido e destacou que o racismo religioso não será tolerado.
“A gente teve alguns requerimentos dentro da liga, o da UPM, destaco esse, é o único que está sendo levado à frente, então a gente vai ter uma plenária com os 11 presidentes, com a diretoria da Liga, para a UPM poder expressar a indignação dela e repudiar completamente o caso de racismo religioso que existiu de fato no julgamento da UPM. Acho que a liga não pode aceitar isso em hipótese alguma, muito pelo contrário, isso não pode estar presente em nenhum ambiente de arte carnavalesca e assim a gente vai lidar com esse problema”, declarou.
A escola aguarda a decisão da Liesa sobre o recurso.
Com informações da Agência Brasil
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