Maglore 15 anos: banda fala sobre trajetória, música e curiosidades
Aratu On conversou com os integrantes da Maglore e aproveitou para ouvir o depoimento de fãs e a importância da banda no cenário baiano e brasileiro
A banda Maglore se apresenta em Salvador neste sábado (21), no Largo Quincas Berro D’Água, no Pelourinho, para fechar as comemorações de 15 anos de estrada. Com ingressos esgotados e prometendo cerca de 3 horas de apresentação, Teago Oliveira (voz e guitarras), Lelo Brandão (guitarras, sintetizador e voz), Felipe Dieder (bateria) e Lucas Gonçalves (baixo e voz) conversaram com o Aratu On sobre a história do grupo, músicas, fãs e curiosidades.
O que é a Maglore?
Membros da Maglore durante entrevista ao Aratu On. Foto: Vica Portela | Aratu On
Formado em 2009 com Teago e Lelo, o grupo começou a ganhar repercussão na cena independente da cidade e venceu o Desafio de Bandas, promovido pelo Grupo A Tarde, no mesmo ano. De acordo com Teago, a escolha por formar um grupo musical partiu dele, após reunir os conhecidos.
“Eu tinha outras bandas no colégio, com os amigos, e a maior parte delas foi autoral. Eu tinha muitas músicas e essas bandas não levavam muita fé nas canções. Eu chamei Lelo, Igor [Andrade] para a batera e quem tocava baixo no começo era Grão Azevedo [hoje produtor e considerado quinto membro grupo], até que ele percebeu que não ia ser baixista. Eu obrigava ele a tocar, e ai depois entrou o Nery [Leal], que morava no meu prédio”.
Atual baterista, Felipe Dieder só veio a compor o grupo em 2012, pouco após o lançamento do primeiro disco, “Veroz”, queridinho dos fãs baianos. Nem ele nem os outros dois membros do grupo sabiam a projeção que a banda ia tomar, muito menos o que significa a palavra “Maglore”, algo que o próprio Teago revelou não saber bem até pouco tempo.
“A gente já contou essa história muitas vezes, de todas as formas diferentes, porque não tem explicação, ‘Maglore’, sabe? Eu descobri esses dias que Maglore é até um personagem de um personagem do universo do Senhor dos Anéis, um elfo”, brincou o vocalista, arrancando risos dos demais. “A gente achou que inventou a palavra, mas a gente fez isso porque estava com pressa para escrever a banda nos concursos, não tinha muito nome não”, completou.
Além do nome de um jogador de basquete, Jamaal Magloire, Dieder lembra de uma coincidência de rede social. “A gente é muito marcado pela #Maglore, e é uma cidade da Índia, por isso aparece muita coisa de lá” [a cidade é Mangalore].
Músicos da Maglore contando as histórias ao longo desses 15 anos de carreira. Foto: Vica Portela | Aratu On
Durante os anos, a banda passou por mudanças na formação, que podem ser acompanhadas na própria sonoridade da Maglore: após 'Veroz', o grupo lançou 'Vamos Pra Rua', de 2013, com Teago, Lelo, Nery e Dieder. Dois anos depois, sem Nery e Lelo, mas com a entrada de Rodrigo Damati, foi lançado o álbum 'III'. No disco seguinte, 'Todas as Bandeiras' (2017), saiu Damati e Lelo voltou às guitarras, acompanhado por Lucas Gonçalves, que assumiu o baixo desde então. A partir daí, com parte dos integrantes morando em São Paulo, a banda lançou um DVD Ao Vivo (2019), outro disco de inéditas, o 'V' (2022) e um disco de regravações acústicas, em 2024. Com tanta coisa já conquistada, o que falta a Maglore alcançar?
“Acho que ficou faltando uma turnê na Europa, sair mais vezes do Brasil e, principalmente, uma turnê na América do Sul. Um filme também, um negócio meio Roberto Carlos ali, meio temático, de sair correndo na rua, a galera olhando pra gente. Um filme pra passar no streaming”, contou Teago.
Sequestro relâmpago
Apesar de não terem virado popstars de proporção dos Beatles, a Maglore já passou por situações bem complicadas envolvendo a fama. Antes de uma apresentação em Aracaju, um dos integrantes foi vítima de um sequestro-relâmpago.
“Eu lembro que um dos meus argumentos para a galera que tinha me sequetrado era que eu precisava voltar para tocar, para fazer o show. Eles não me soltaram por isso, mas talvez tenha sensibilizado em algum nível. Era a passagem de som, eu saí da casa de show, andei até uma esquina e sabe quando tá tudo tão deserto em volta? Eu estava a uns 10 metros da entrada e aí eles chegaram de carro”, revelou Dieder.
“Levaram Lulu Santos, sequestraram Lulu”, brincou carinhosamente Lelo. Ao fim dos shows, durante a apresentação dos músicos, Teago costuma trocar os nomes dos integrantes e o baterista é frequentemente chamado de Lulu Santos ou Bruno Gagliasso.
Bruno Gagliasso, Felipe Dieder e Lulu Santos. Foto: Instagram
“Acho que foi a situação mais aterrorizante que eu já enfrentei, talvez a única vez que eu achei que realmente fosse partir dessa para uma melhor de uma maneira bem consciente. É muito louco, muda muitos aspectos, né? Mas, enfim, a gente voltou e fez um show incrível”, lembrou o baterista.
Curiosidades dos fãs
O Aratu On pediu para que alguns fãs enviassem perguntas para serem repassadas aos membros da banda. Confira:
Pergunta: Qual maior canetada de vocês, aquela música que vocês consideram mais f0da?
Teago: Não tem uma assim, a escolhida, acho que tem as que o público mais se identifica. “Café com Pão” e “Espírito Selvagem” não foram trabalhadas como single, mas a galera ouve muito. A gente sempre errou todos os singles, é impressionante, mas, que bom que as pessoas ouvem as outras canções também.
Dieder: Eu gosto muito de “Eles” [música do disco V]. Ela se desenha ali em um momento difícil, um pesadelo que a gente viveu.
Lelo: Eu também não tenho uma preferida, acho que “Café com Pão” marca mesmo. Eu gosto de umas lentinhas, que a gente não toca muito. Sempre tem uma baladinha nos discos, que a gente toca no começo da turnê e para depois.
Lucas Gonçalves, último a entrar na atual formação da Maglore. Foto: Vica Portela | Aratu On
Pergunta: Como foi a entrada de Luquinhas na banda?
Lelo: Difícil falar disso, a banda ficou muito pior depois [aos risos]
Lucas: Foi bem difícil para todos [rindo]. A gente já tinha ficado amigo em São Paulo, em 2013. Eu trabalhava numa casa de shows alternativa, fazia o som. Eu fiquei fã, peguei autógrafo de todo mundo, menos do Nery, tinha ido pra casa. Foi um grande sinal. Um dia eu chamei o Didi para afinar uma bateria que eu ia gravar. E aí eles sacaram que eu também era músico e não fazia só som.
Dieder: Na época você tava gravando tudo, todos os instrumentos. Toca muito, cara.
Lucas: E aí, quando rolou o convite, em 2017, foi pra tocar baixo e eu já tocava em outra banda. Aí o teste eu tinha que tirar umas 25 músicas, gravar e mandar pros caras. Fizemos três shows (São Paulo, Fortaleza e Juiz de Fora), até o convite definitivo. E aí, tamo aqui até hoje.
Pergunta: Por que “Invejosa” não fala sobre inveja?
Teago: Essa história é real, foi uma preguiça de dar nome à música. Toda a música da Maglore surge com o apelido, antes do nome oficial e o dessa era 'Invejosa', porque a gente tinha um trecho com essa palavra. Aí a gente gravou o disco, mudou ela, e só se deu conta que não tinha dado nome quando a gravadora pegou o material, nem perguntou muita coisa, e mandou para a fábrica. E aí ficou com o nome 'Invejosa'. Eu já tentei ver se dava pra mudar, mas não consegui pensar em nenhum título.
Lelo: Ah, acho que mudar também não ia ser legal, é bom como está.
Além de falar sobre o som que fazem, a Maglore contou histórias e curiosidades. Foto: Vica Portela | Aratu On
Pergunta: Qual música não é sua, mas você adoraria ter feito?
Lucas: Acho que Trem das Cores, do Caetano
Lelo: Eu adoraria ter feito Cais [Milton Nascimento]
Dieder: Gostaria de ter feito “A Paz” [Gilberto Gil e João Donato]
Teago: Eu queria ter feito “My Way” [Frank Sinatra]
Lelo: Ah, então eu queria fazer “Yesterday” [The Beatles]
Dieder: Eu gostaria de “Bye Bye Brasil” [Chico Buarque]
História dos fãs
Parte fundamental da história da Maglore, como os próprios integrantes afirmam, os fãs do grupo estão por todo o país, de norte a sul. Quem costuma frequentar as apresentações em Salvador, frequentemente encontra algumas figurinhas carimbadas. Uma delas pode ser vista próxima ao palco, rodeada de pessoas, sentada em uma cadeira de rodas. É o advogado Leonardo Roxinho Moura, de 29 anos. Fã da Maglore desde os tempos de 'Veroz', Léo, que possui paralisia cerebral, 'bate ponto' nas apresentações desde 2014 e tem até o nome da banda tatuado no braço.
Léo Roxinho durante show na Casa Rosa, em 2023. Foto: Arquivo Pessoal
“Meu primeiro show foi no Pelourinho, em 2014. Gosto sempre de ir com meus amigos, aliás, muito desses amigos eu conheci em algum show da Maglore. Tenho paralisia cerebral, mas minha deficiência física nunca me impediu de me fazer nada. Sempre tive total apoio da minha família e sou rodeado por bons amigos que me acompanham em shows, viagens e outras aventuras”, contou ao Aratu On.
Mesmo com a acessibilidade não sendo a melhor em muitos locais, o rapaz destaca que a energia dos shows deixa isso em segundo plano, já que as canções da banda sempre embalaram sua vida.
Registros de Léo em pós-shows com Lucas Gonçalves, Teago Oliveira e Lelo Brandão. Foto: Arquivo Pessoal
“Ir ao show da Maglore é o que me faz mais feliz, a energia do show é surreal. As músicas me confortam nos momentos tristes e me alegram nos momentos felizes, e o momento mais esperado do show é justamente a muvuca que acontece em 'Avenida Sete'. Quando a roda abre, faço questão de estar no meio e cantando bem alto”, brinca.
Quem também tem parte da vida embalada pelas músicas da Maglore é o casal Ricardo Brandão, de 37 anos, e Isabela Santos, 34, moradores de Feira de Santana. O relacionamento pode ser contado pelas apresentações do grupo. Em meados de 2010, a banda foi tocar no festival Feira Noise, mas Ricardo deixou de ir ao show para ter seu primeiro encontro com Isabela. Depois desse evento marcante, a Maglore cruzou novamente os caminhos do casal.
Ricardo e Isabela em 2023, após show na Casa Rosa, em Salvador. Foto: Arquivo Pessoal
“Pouco tempo depois, quando a gente começou a namorar, ela me mandou, no finado Orkut, uma música da banda, e eu lembrei que era o show que eu não tinha ido para sair com ela. Meses depois, a gente foi junto para um show juntos pela primeira vez, e aí virou a trilha sonora do casal”, diz Ricardo.
Ele, promotor de vendas, e ela, enfermeira, também marcam presença nas apresentações da capital baiana, sempre vestidos com uma camisa da banda, 'uniformizados', como conta. O amor pela obra dos 'meninos do Imbuí' exige alguns sacrifícios para se estar presente nos shows.
Foto registrada em 2018, na turnê do disco "Todas as Bandeiras". Foto: Arquivo Pessoal
“Como a gente mora em outra cidade, tem sempre aquela correria de ir no show e voltar no último ônibus para Feira. Já saímos várias vezes às pressas, para dar um abraço na banda e voltar correndo para a Rodoviária. Mas vale muito a pena, como fã, a gente sempre faz isso e é muito bom o sentimento”, conta. Seguindo a Maglore deste então, o casal coleciona recordações e setlists de shows, como 'souvenirs' que ostentam com muito orgulho.
Algumas das muitas setlists obtidas pelo casal ao longo desses anos de shows da Maglore. Foto: Arquivo Pessoal
Show dos 15 anos
Para comemorar a data, a Maglore se apresenta no Pelourinho a partir das 19h30, ao lado de convidados da música baiana, que possuem grande relação com o grupo: Ronei Jorge, Diego Fox, Ênio, além de Jajá Cardoso e Lucas Bori, da banda Vivendo do Ócio.
“A gente escolheu pela cronologia mesmo de envolvimento que a gente tinha com músicos da cidade ali em 2009, quando a banda foi formada. Ênio praticamente descobriu e ajudou a mostrar o som da banda para várias pessoas, sempre fui fã dele. Fox, ao lado de Marceleza de Castilho, formaram a ‘Suinga’, banda que a gente era fã, tocava muito junto. Ronei foi tipo um professor, muitas coisas que a gente criou, nos discos ali, tem coisas de Ronei. E Vivendo do Ócio esteve com a gente desde o primeiro momento, principalmente quando a banda precisou sair de Salvador e morar em São Paulo, a gente se mirou neles também. Então, são artistas que se conectaram e, principalmente, ajudaram a banda”, frisou o vocalista.
No setlist, sucessos do disco “V” como “Amor de Verão” e “Espírito Selvagem”, mas também canções das épocas do “Veroz” - como “Demodê” e “Às Vezes um Clichê” - e “Vamos Pra Rua”, como a canção título e “Espelho de Banheiro”. Em cerca de 3 horas de apresentação, os 15 anos da Maglore serão celebrados com amigos, fãs e, o mais importante, as músicas que contam essa história, afinal, "a vida é uma aventura" que "você só vai saber vivendo" e no fim do show, o que sobra, além dos registros e memórias é uma frase de agredecimento, de músicos e também dos 'Magloreanos': "Valeu, Valeu!".
Lelo Brandão, Felipe Dieder, Teago Oliveira e Lucas Gonçalves. Foto: Renata Monteiro
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