Outro dia, parei para observar os jovens ao meu redor. Eles caminhavam com os olhos grudados nas telas, reproduzindo gestos coreografados sem perceber a engrenagem invis&iacute;vel que os movia. Cada movimento, cada pose, cada sorriso cronometrado: tudo parecia parte de um grande espet&aacute;culo ensaiado, como se estivessem sendo conduzidos por fios invis&iacute;veis.
No in&iacute;cio, o adestramento acontece de forma sutil. Primeiro, um v&iacute;deo inocente, um desafio engra&ccedil;ado, uma coreografia simples. Depois, o envolvimento cresce: deslizam, curtem, repetem. Logo, passam a ensaiar os passos na frente do espelho, ajustar &acirc;ngulos, buscar a luz perfeita. Os que hesitam, temem ficar para tr&aacute;s. Os que resistem, sentem-se deslocados. Assim, gradativamente, sem perceber, se entregam &agrave; l&oacute;gica do algoritmo, que dita o ritmo e a cad&ecirc;ncia da nova ordem digital.
Ent&atilde;o, de repente, j&aacute; n&atilde;o s&atilde;o mais apenas jovens dan&ccedil;ando. S&atilde;o marionetes de um teatro global, onde o roteiro &eacute; escrito pelos influenciadores do momento. A dan&ccedil;a n&atilde;o &eacute; mais arte, mas um reflexo mec&acirc;nico de um comando invis&iacute;vel. O conte&uacute;do n&atilde;o instiga, apenas entret&eacute;m. O consumo se d&aacute; sem digest&atilde;o, sem cr&iacute;tica, sem pausa. Tudo &eacute; r&aacute;pido, instant&acirc;neo, fugaz. N&atilde;o h&aacute; espa&ccedil;o para o pensamento, apenas para a repeti&ccedil;&atilde;o.
E eu me pergunto: onde est&aacute; a autonomia? Para onde foi a espontaneidade? Quem segura os fios dessas marionetes modernas? O TikTok gira, os v&iacute;deos correm, os passos se multiplicam &ndash; e a sociedade dan&ccedil;a, obediente, sem notar que est&aacute; sendo conduzida.
&Eacute;, caro Foucault, voc&ecirc; tinha raz&atilde;o. O poder disciplinar n&atilde;o apenas molda corpos e mentes, mas agora se estende por algoritmos que alcan&ccedil;am a escola, a fam&iacute;lia e toda a sociedade. O pan&oacute;ptico se digitalizou &ndash; e as marionetes continuam a dan&ccedil;ar.
*Este material n&atilde;o reflete, necessariamente, a opini&atilde;o do Aratu On

&Eacute; muito comum, na tentativa de ajudar algu&eacute;m, sermos mal interpretados. Falar com carinho e, ainda assim, ver o outro se afastar. Nessas horas, a frustra&ccedil;&atilde;o aparece: &ldquo;mas eu s&oacute; queria ajudar&rdquo;. A gente se esfor&ccedil;a pra fazer dar certo, mas parece que tudo vira desencontro. Eu costumo dizer: inten&ccedil;&atilde;o boa n&atilde;o garante resultado bom.
Sua inten&ccedil;&atilde;o pode at&eacute; ser genu&iacute;na, mas se n&atilde;o vier acompanhada de escuta, presen&ccedil;a e sensibilidade, ela pode ser recebida como cr&iacute;tica, invas&atilde;o ou julgamento.
Isso acontece porque comunicar n&atilde;o &eacute; apenas dizer o que se sente. Comunica&ccedil;&atilde;o envolve o outro. Envolve perceber se o que voc&ecirc; est&aacute; dizendo est&aacute; sendo, de fato, recebido. E mais do que isso: se est&aacute; sendo compreendido.
Falar &eacute; importante. Mas escutar sustenta o di&aacute;logo. E escutar, aqui, n&atilde;o &eacute; s&oacute; ouvir palavras &mdash; &eacute; perceber o que est&aacute; por tr&aacute;s do tom, do sil&ecirc;ncio, do gesto. &Eacute; estar dispon&iacute;vel, de verdade, para o que o outro sente.
Na minha pr&aacute;tica, o grande diferencial est&aacute; em traduzir o que n&atilde;o est&aacute; sendo dito. &Eacute; muito comum encontrar incongru&ecirc;ncia entre o que a pessoa diz que quer e o que ela faz. As narrativas que cada um constr&oacute;i para sustentar suas decis&otilde;es (e indecis&otilde;es) s&atilde;o um universo que me dedico h&aacute; anos a estudar.
Algumas pr&aacute;ticas simples podem ser muito poderosas: ajustar o tom de voz, escolher bem as palavras, fazer pausas, permitir que o outro tenha espa&ccedil;o para existir&hellip; tudo isso tamb&eacute;m &eacute; comunica&ccedil;&atilde;o. E, muitas vezes, fala muito mais alto que o conte&uacute;do da fala em si.
N&atilde;o me canso de constatar, no dia a dia, o quanto podemos falar mais com menos palavras.
Voc&ecirc; n&atilde;o precisa deixar de ser verdadeira para se comunicar melhor. Mas pode considerar que a forma como voc&ecirc; entrega a sua verdade pode aproximar ou afastar. Comunicar bem n&atilde;o &eacute; apenas sobre clareza. &Eacute; tamb&eacute;m sobre cuidado.
N&atilde;o esque&ccedil;a do seu objetivo ao iniciar um di&aacute;logo por vezes dif&iacute;cil com algu&eacute;m, mas necess&aacute;rio.
Talvez o maior sinal de maturidade emocional seja quando voc&ecirc; entende que o foco n&atilde;o &eacute; ter a raz&atilde;o &mdash; &eacute; preciso saber chegar at&eacute; o outro.
Se essa reflex&atilde;o fez sentido pra voc&ecirc;, continue me acompanhando nas redes sociais: @decidaseexpressar e @gamatai. Porque tem muita coisa que a gente pode transformar &mdash; s&oacute; mudando o que cresce aqui dentro.
E n&atilde;o se esque&ccedil;a: o que voc&ecirc; sente, pensa e quer importam.&nbsp;
Decida se expressar. At&eacute; a pr&oacute;xima!

O modelo de neg&oacute;cios de sacoleiro, que tradicionalmente envolve a compra de produtos para revenda, pode ser impactado pela crescente fiscaliza&ccedil;&atilde;o e pelas mudan&ccedil;as nas taxa&ccedil;&otilde;es, especialmente no contexto de compras internacionais online.
Avaliar a sustentabilidade e a rentabilidade desse formato requer algumas considera&ccedil;&otilde;es e c&aacute;lculos, a exemplo do custo de aquisi&ccedil;&atilde;o. &Eacute; fundamental calcular o custo total dos produtos adquiridos, incluindo pre&ccedil;os de compra, frete, impostos de importa&ccedil;&atilde;o e eventuais taxas alfandeg&aacute;rias.
Sobre o pre&ccedil;o de venda, &eacute; importante estimar o valor com base no mercado e nos concorrentes. Esse pre&ccedil;o deve cobrir todos os custos e proporcionar uma margem de lucro adequada. Por falar em margem de lucro, fique atento: para n&atilde;o usar um percentual aleat&oacute;rio, sempre, no final, calcule tamb&eacute;m o seu percentual de retorno para facilitar o entendimento e, posteriormente, poder comparar com o mercado, a fim de n&atilde;o ficar t&atilde;o fora do escopo.
No volume de vendas, analise a quantidade de produtos vendidos e projete as vendas futuras, para assegurar um fluxo de caixa positivo. Avalie se o volume atual &eacute; suficiente para sustentar o neg&oacute;cio, considerando poss&iacute;veis aumentos de custo.
Na qualidade de contador e empreendedor, oriento manter-se atualizado sobre as mudan&ccedil;as nas taxa&ccedil;&otilde;es sobre importa&ccedil;&otilde;es e vendas locais. Inclua todos os custos operacionais, como marketing, log&iacute;stica, armazenamento e qualquer plataforma online que utilize para realizar vendas. Fa&ccedil;a simula&ccedil;&otilde;es com diferentes cen&aacute;rios de taxa&ccedil;&otilde;es para prever como a rentabilidade pode ser afetada e se o seu neg&oacute;cio permanecer&aacute; vi&aacute;vel.
Considere formalizar o neg&oacute;cio - talvez migrar para o regime de MEI ou outro mais adequado - para acessar benef&iacute;cios fiscais e aumentar a confiabilidade com fornecedores e clientes.
*Este material n&atilde;o reflete, necessariamente, a opini&atilde;o do Aratu On

Ruptura &eacute; <a href="https://aratuon.com.br/coluna/filmes-e-series" target="_blank" rel="noopener">uma s&eacute;rie disruptiva</a>. Seja em sua premissa ou estil&iacute;stica, essa &eacute; uma produ&ccedil;&atilde;o que se arrisca e procura rasgar os moldes engessados de obras feitas por canais streaming. Produzida pela Apple e criada por Ben Stiller, assim como a sua primeira temporada, o seriado segue com uma trama complexa e elaborada narrativamente em seu segundo ano.&nbsp;
Com uma hist&oacute;ria que mostra funcion&aacute;rios de uma empresa que se dividem em duas personalidades, a de dentro e de fora do trabalho - sendo que uma n&atilde;o tem lembran&ccedil;a da outra - os novos epis&oacute;dios fomentam e desenvolvem o arco da Lumon, companhia que engendra todo esse sistema, e seus funcion&aacute;rios.&nbsp;
O risco de se enrolar no que fora criado anteriormente era grande, mas os acontecimentos da segunda temporada de Ruptura s&atilde;o amarrados e possuem um foco bem n&iacute;tido, que toma o tempo quase correto para acontecer. Agora, o p&uacute;blico entende e descobre o que ocorre, de fato, na atividade que o protagonista Mark (Adam Scott) desempenha e onde sua esposa foi parar.
Em termos de dire&ccedil;&atilde;o, os melhores epis&oacute;dios continuam aqueles dirigidos por Stiller (2x01, 03, 04, 08 e 10), que emprega seu olhar para ampliar a constru&ccedil;&atilde;o de universo ficcional que elaborou. Quando Stiller est&aacute; no comando &eacute; quando a decupagem e a luz mais trabalham em fun&ccedil;&atilde;o da narrativa. Um exemplo &eacute; no uso da luz forte de dentro da Lumon, com as sombras e os planos/contraplanos de fora da empresa.&nbsp;
Essa estrat&eacute;gia cria uma dicotomia entre o discursivo e o visual. De um lado, a luta contra um sistema cruel, que se aproveita dos funcion&aacute;rios. Do outro, o da depend&ecirc;ncia emocional das personagens a este mundo corporativo que os destr&oacute;i, mas os distrai, &eacute; o que mais impulsiona a compreens&atilde;o das emo&ccedil;&otilde;es destas figuras. Stiller sabe revelar em imagem essas sensa&ccedil;&otilde;es. H&aacute; uma euforia cor de luz fluorescente na Lumon. &Eacute; artificial, mas agita.
<img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/14fa926a-5136-4084-95ac-ccebf3cc8ae9.jpg?width=1920&amp;height=1080" alt="Ruptura est&aacute; na 2&ordf; temporada">
Ruptura investe neste trato t&eacute;cnico e n&atilde;o economiza em mostrar sua grandiosidade financeira. Panor&acirc;micas e drones elevam essa impress&atilde;o de que a Lumon &eacute; antiga, perigosa e poderosa. As dimens&otilde;es dos pr&eacute;dios s&atilde;o grandes, s&atilde;o vistos em plano geral e o espectador embarca nesse mergulho na atmosfera lumoniana e tudo que a cerca, o que aumenta desejo de acompanhar a trama.
No entanto, dentro de toda a sua potencial e destreza de tecnicidade, &eacute; observ&aacute;vel que a s&eacute;rie escorrega em prender a aten&ccedil;&atilde;o em alguns momentos. Com exce&ccedil;&atilde;o do 2x08 que foca no passado e presente de Harmony Cobel (Patricia Arquette), todos os epis&oacute;dios contam com sequ&ecirc;ncias que poderiam ser enxutas para uma maior fluidez do enredo.
Toda a saga das cabras, por exemplo, &eacute; esgar&ccedil;ada quando se olha para o que elas de fato representam para o desenvolvimento da hist&oacute;ria. Alguns momentos dos subplots de Dylan George (Zach Cherry) e Irving Baliff (John Turturro) s&atilde;o repetitivos. Al&eacute;m disso, a escolha de concentrar todos os acontecimentos da trajet&oacute;ria de Gemma (Dichen Lachman) tamb&eacute;m aumenta o cansa&ccedil;o com a trama dela.
+ <a href="https://aratuon.com.br/colunista/enoe/filmes-e-series/adolescencia-nova-minisserie-da-netflix-e-pesada-sombria-e-intensa" target="_blank" rel="noopener">Adolesc&ecirc;ncia: nova miniss&eacute;rie da Netflix &eacute; pesada, sombria e intensa</a>
Caso o espectador fosse descobrindo aos poucos, o interesse poderia ser maior. A sensa&ccedil;&atilde;o &eacute; de que a obra fica dando voltas para ir direto ao ponto. Ainda assim, a segunda temporada de Ruptura vale a pena ser acompanhada. Al&eacute;m de revelar muitos dos mist&eacute;rios inseridos no ano anterior, as tramas dos coadjuvantes s&atilde;o ampliadas e entregam at&eacute; pontos altos da produ&ccedil;&atilde;o.
Um dos maiores destaque aqui &eacute; o ator Tramell Tillman (Seth Milchik). A constru&ccedil;&atilde;o de personagem do int&eacute;rprete impressiona, por sua composi&ccedil;&atilde;o de movimentos f&iacute;sicos e vocais. O acerto tamb&eacute;m vem dos roteiristas, que decidiram apostar em dar mais espa&ccedil;o para essa figura t&atilde;o complexa que &eacute; o Mr. Milchick. Ele fomenta o estranhamento com a Lumon, as reflex&otilde;es sobre a sociedade e ainda diverte por ter tantas express&otilde;es e gestos marcantes.&nbsp;
Confira o trailer da 2&ordf; temporada de Ruptura:
<iframe title="Ruptura &mdash; Trailer oficial da 2.&ordf; temporada | Apple TV+" src="https://www.youtube.com/embed/-m_DPp0Ht0o" width="695" height="391" frameborder="0" allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture; web-share" allowfullscreen="allowfullscreen"></iframe>
+ <a href="https://aratuon.com.br/colunista/undefined/filmes-e-series/duna-a-profecia-mostra-que-e-possivel-adaptar-e-com-alta-qualidade" target="_blank" rel="noopener">'Duna: a profecia' mostra que &eacute; poss&iacute;vel adaptar e com alta qualidade</a>
*Este material n&atilde;o reflete, necessariamente, a opini&atilde;o do Aratu On

A ideia de querer saber tudo soa quase ris&iacute;vel hoje em dia &mdash; fora de lugar e absurda. E, no entanto, esse &eacute; justamente o t&iacute;tulo de um artigo recente da The Economist sobre Tyler Cowen, o economista e escritor cuja curiosidade inquieta lhe rendeu uma legi&atilde;o de seguidores no Vale do Sil&iacute;cio.
<img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/256e9c59-2aa5-4707-9db1-cafabfd0f803.png?width=2075&amp;height=1080" alt="Tyler Cowen (em casa?)">
Desde ent&atilde;o, n&atilde;o consegui parar de pensar nisso. N&atilde;o porque Cowen em si seja particularmente importante, mas porque essa frase soa cada vez mais estranha &mdash; quase c&ocirc;mica &mdash; em uma cultura como a nossa. Uma cultura em que o valor da curiosidade profunda e sustentada foi culturalmente deixado de lado em favor de demonstra&ccedil;&otilde;es superficiais de conhecimento. O suficiente para postar. O suficiente para argumentar. O suficiente para sinalizar.
Constru&iacute;mos um mundo otimizado para a velocidade, n&atilde;o para a profundidade &mdash; onde a aten&ccedil;&atilde;o &eacute; fragmentada, a mem&oacute;ria &eacute; terceirizada e a curiosidade foi reduzida ao ato de rolar a tela. O que estamos presenciando &eacute; uma mudan&ccedil;a na forma como nos engajamos intelectualmente: da reflex&atilde;o genu&iacute;na ("O que voc&ecirc; pensa?") para a opini&atilde;o perform&aacute;tica ("Qual &eacute; o seu 'take'?"). E a diferen&ccedil;a n&atilde;o &eacute; sutil.
"Takes" s&atilde;o r&aacute;pidos; pensamentos se desdobram devagar. &nbsp; "Takes" reagem; pensamentos voltam e reconsideram. &nbsp; "Takes" performam; pensamentos se envolvem.
No cerne desse contraste est&aacute; a diferen&ccedil;a entre a exibi&ccedil;&atilde;o superficial e o envolvimento profundo. Um "take" &eacute; calibrado para ser visto &mdash; ele quer causar impacto. Um pensamento, por outro lado, &eacute; mais silencioso e lento. Ele n&atilde;o busca plateia. Pensar de verdade &eacute; ser transformado pelo processo, &eacute; carregar o peso daquilo que se considera. N&atilde;o se trata de ser visto pensando, mas de permanecer com a pergunta muito depois que o momento passou.
E, no meio de tudo isso &mdash; &agrave; medida que a disciplina intelectual se enfraquece, e a fome por aprender de verdade &eacute; substitu&iacute;da pela conveni&ecirc;ncia de <a href="https://aratuon.com.br/variedades/imagens-estilo-ghibli-aprenda-a-fazer-no-chat-gpt-e-entenda-a-polemica" target="_blank" rel="noopener">comandos no ChatGPT</a> &mdash; estamos abrindo <a href="https://aratuon.com.br/geral/deep-seek-x-chat-gpt-plataformas-de-ia-conversam-entre-si-e-debatem-qual-e-a-melhor" target="_blank" rel="noopener">espa&ccedil;o para a intelig&ecirc;ncia artificial (IA)</a> em todos os cantos da vida. M&aacute;quinas que conseguem replicar o pensamento, mas n&atilde;o se importam com o pensar. M&aacute;quinas que conseguem recuperar qualquer fato, mas n&atilde;o sentem o prazer de descobrir um.
N&atilde;o me entenda mal &mdash; sou um grande defensor da IA. Uso bastante. Invisto nisso. Acredito que ela resolver&aacute; problemas que nenhum humano conseguiria enfrentar sozinho. Mas, quanto mais terceirizamos nossa intelig&ecirc;ncia, mais essencial se torna proteger aquilo que as m&aacute;quinas n&atilde;o conseguem replicar (pelo menos por enquanto) &mdash; nosso pr&oacute;prio desejo de compreender; nossa curiosidade. O risco n&atilde;o &eacute; que as m&aacute;quinas fiquem inteligentes demais &mdash; &eacute; que a gente pare de cultivar mentes que querem ser desafiadas, n&atilde;o apenas otimizadas.
<img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/35a4c41a-bf10-4a14-aa13-76e69378ab1c.png?width=2075&amp;height=1384" alt="Imagem ilustrativa do ChatGPT | Cr&eacute;dito: Pexels">
H&aacute; uma distin&ccedil;&atilde;o crucial que precisamos fazer quando falamos de intelig&ecirc;ncia &mdash; uma que se torna cada vez mais importante &agrave; medida que os sistemas artificiais se tornam mais capazes. De um lado, h&aacute; a intelig&ecirc;ncia computacional: a habilidade de processar informa&ccedil;&otilde;es, detectar padr&otilde;es, otimizar resultados. Essa &eacute; a intelig&ecirc;ncia das m&aacute;quinas &mdash; eficaz, escal&aacute;vel e indiferente. Ela n&atilde;o precisa de curiosidade; s&oacute; precisa de dados de entrada. Por outro lado, a intelig&ecirc;ncia humana n&atilde;o &eacute; apenas uma capacidade t&eacute;cnica, mas um modo de consci&ecirc;ncia. &Eacute; moldada pela ambiguidade, guiada pela inten&ccedil;&atilde;o e constantemente reorganizada pela experi&ecirc;ncia. O que lhe d&aacute; profundidade n&atilde;o &eacute; apenas a capacidade de resolver problemas, mas o impulso de perguntar por que eles importam. Nesse sentido humano, intelig&ecirc;ncia e curiosidade n&atilde;o s&atilde;o a mesma coisa &mdash; mas est&atilde;o profundamente entrela&ccedil;adas.
Esse entrela&ccedil;amento importa porque a curiosidade &eacute; o que d&aacute; dire&ccedil;&atilde;o, autonomia e sentido ao pensamento. &Eacute; a curiosidade que escolhe o que aprender, quando insistir, como se importar. Ela resiste ao fechamento. Ela reabre perguntas. Ela torna a intelig&ecirc;ncia recursiva, e n&atilde;o apenas reativa. Mais importante ainda: a curiosidade &eacute; autogerada &mdash; n&atilde;o &eacute; uma rea&ccedil;&atilde;o a um comando, mas um comando em si mesma, um movimento interior em dire&ccedil;&atilde;o a algo que ainda n&atilde;o se conhece. Quando perdemos isso, a intelig&ecirc;ncia humana n&atilde;o desaparece &mdash; mas come&ccedil;a a entrar em modo de espera. Ela se achata. Perde o encantamento. At&eacute; <a href="https://aratuon.com.br/politica/deputado-questiona-contratacao-milionaria-do-hospital-albert-einstein" target="_blank" rel="noopener">Albert Einstein</a> &mdash; um homem n&atilde;o exatamente conhecido por falta de intelig&ecirc;ncia &mdash; foi direto ao ponto: &ldquo;N&atilde;o tenho talentos especiais. Sou apenas apaixonadamente curioso.&rdquo;
Nesse cen&aacute;rio, a ideia do &ldquo;homem que quer saber tudo&rdquo; j&aacute; n&atilde;o soa antiquada. Come&ccedil;a a parecer um ato silencioso de resist&ecirc;ncia &mdash; uma recusa a cair na passividade intelectual. N&atilde;o porque saber tudo seja poss&iacute;vel, mas porque querer saber &mdash; obsessivamente, irracionalmente, infinitamente &mdash; parece simplesmente certo.
Curiosidade, ent&atilde;o, n&atilde;o &eacute; uma peculiaridade pessoal ou um hobby intelectual. &Eacute; uma postura cultural, uma forma de se relacionar com o mundo &mdash; aberta, inacabada, em processo. Ela nos impede de nos tornarmos espectadores da nossa pr&oacute;pria intelig&ecirc;ncia &mdash; ou da intelig&ecirc;ncia de outra pessoa (!). Por isso acho que todos n&oacute;s dever&iacute;amos desconfiar um pouco de n&oacute;s mesmos &mdash; quando paramos de fazer perguntas, quando come&ccedil;amos a postar mais do que lemos, quando achamos que j&aacute; sabemos.
Vivemos numa &eacute;poca em que a intelig&ecirc;ncia pode ser simulada. Mas o interesse, n&atilde;o. Essa parte ainda &eacute; nossa. Se a quisermos.
Tradu&ccedil;&atilde;o de artigo de Alexandre Darz&eacute; originalmente publicado na <a href="https://substack.com/inbox/post/160222408?utm_source=share&amp;utm_medium=android&amp;r=aakpj&amp;triedRedirect=true" target="_blank" rel="noopener">plataforma Substack</a>
*Este material n&atilde;o reflete, necessariamente, a opini&atilde;o do Aratu On

Caboclo Coelho

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