Incontinência Urinária: pode ser até 'engraçado', mas não é normal perder urina
Fazer xixi de tanto rir pode ser até engraçado, mas não é normal. A incontinência urinária atinge hoje cerca de 10 milhões de brasileiros de ambos os sexos, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia. E as mulheres apresentam pelo menos o dobro de possibilidades de ter uma incontinência urinária do que os homens. Então, o que é incontinência urinária?
Nada mais é do que a perda involuntária de urina. Quer dizer que você não tinha intenção de que saísse urina naquele momento e ela sai espontaneamente, alheia a vontade do paciente. Essa patologia, cada vez mais frequente no consultório, é mais comum de imaginarmos em pacientes idosas e na menopausa, achando que é normal perder a urina. Mas não é somente nessa fase que acontece.
À medida em que a gente diminui nossa reserva de hormônios e começa a acontecer uma atrofia vaginal, temos flacidez, perda de colágeno e da estrutura do assoalho pélvico. Não conseguimos fazer uma contração muito boa desse assoalho. Então, o esfíncter perde a capacidade de vedar com mais facilidade e muitas vezes acontece essa perda urinária que é tão dita como comum, mas não é para ser normal e existe tratamento.
Quanto mais precoce se intervém, mais fácil e mais rápida é a resolução desses problemas. Quais são os principais tipos de incontinência urinária? A incontinência urinária de esforço, que nada mais é do que qualquer esforço abdominal que vai fazer com que você perca urina. E aí vem as queixas mais comuns de sorrir, de espirrar, de tossir, de pular, qualquer impacto abdominal a paciente acaba perdendo urina. A segunda causa mais comum é a de urgência miccional. Como o nome diz, é urgência. A paciente, ao ter vontade de fazer xixi, ou ela vai com a maior rapidez possível ou acaba tendo escapes na roupa. Muitas vezes, aquela paciente que está desabotoando a roupa ou está chegando em casa e não consegue se controlar acaba perdendo urina.
O que percebemos é uma conjunção das principais queixas de incontinência urinária, que é o que se chama de incontinência mista. Essa paciente tem um pouco da incontinência de esforço e um pouco da incontinência de urgência. O diagnóstico da incontinência urinária normalmente é clínico, uma conversa do paciente sobre o seu histórico, a sua queixa e sobre seus hábitos de vida, o médico consegue definir ou traçar as suas propostas terapêuticas baseadas somente nessa anamnese.
O que é importante ser frisado? Alguns hábitos de vida como fumar, uso de bebida alcoólica, uso de cafeína ou chás que tem excesso de cafeína, refrigerantes, adoçantes artificiais, alimentos ricos em carboidratos, uso de medicamentos que funcionam como diurético ou o próprio diurético, todos eles vão interferir de uma forma negativa em relação à incontinência urinária. E é importante ser dita na sua anamnese ao médico.
Ainda sobre os hábitos de vida, pedimos para essa paciente fazer o que chamamos de diário miccional: que é anotar num papel todas as vezes que ela faz uma ingesta de líquido e todas as vezes que ela vai ao banheiro. Com isso, a gente consegue traçar se essa paciente acumula muito urina ou não.
Se a ingesta de líquido não está compatível com o volume urinário e a frequência que essa paciente vai ao banheiro, conseguimos traçar de uma melhor forma o tratamento dela. Não podemos esquecer alguns pontos importantes que são: infecção urinária existe, tem que ser descartada; a prisão de ventre estimula essa incontinência urinária e também tem que ser tratada; e o estresse emocional que o paciente vive também pode predispor e corroborar essa incontinência urinária.
Alguns problemas físicos subjacentes também podem estar implicados em favorecer a incontinência urinária. Algo funcional como a gestação ou o pós-parto, o envelhecimento natural, como a menopausa, como eu já citei anteriormente. Uma paciente que fez histerectomia está mais pré-disposta, o homem com câncer de próstata, um aumento dessa próstata, obstruções do trato urinário e nunca esquecer de distúrbios neurológicos causados por alguns tipos de doença como a Diabetes Mellitus, Esclerose Múltipla, AVC e Parkinson tem que ser descartadas e avaliadas se não estão interferindo na incontinência dessa paciente.
Se por um acaso, na história clínica, não ficar muito evidente o tipo ou precisar de algo mais específico para determinar o tratamento, existem exames que não são tão comuns, mas podem fazer parte do arsenal propedêutico. Como por exemplo, o estudo urodinâmico, a cistoscopia, que são exames invasivos e, em algumas vezes, pontualmente, são necessários serem solicitados.
Em relação ao tratamento, a gente sempre inicia tentando fazer um treinamento da bexiga dessa paciente. Muitas vezes, esse é o problema basal e precisamos readestrar a bexiga a urinar nos momentos ideais. Tratamentos com a fisioterapia, normalmente são bem indicados. E é sempre bom ter uma fisioterapeuta uroginecológica fazendo acompanhamento e avaliação, porque elas não fazem só o treinamento da musculatura, elas avaliam a contratividade, a força muscular e a propriocepção dessa paciente, que nada mais é do que ela ter noção do que aquela musculatura faz, se ela contrai, se ela relaxa, coisa que parece ser simples, mas a maioria das mulheres não tem esse controle dos esfíncteres. A fisioterapia faz isso de forma magistral.
Alguns exercícios são passados para paciente fazer esse fortalecimento. O mais comum é o Exercício de Kegel, mas existe uma série de atividades físicas e musculares de treinamento da musculatura que pode ser feita sob indicação da fisioterapeuta. Além da avaliação e orientação, ela pode fazer uma estimulação elétrica melhorando essa musculatura. Usamos em casos pontuais, medicamentos para ajudar a relaxar a musculatura da bexiga e evitar que ela faça contrações, de forma aleatória e em casos de hiperatividade.
Com o avanço da tecnologia dentro da medicina, hoje contamos com um arsenal tecnológico a disposição das pacientes para resolver e/ou melhorar esse quadro de incontinência sem necessariamente fazer o uso de medicamentos ou necessitando fazer treinamentos do assoalho pélvico. Dentre essa categoria tecnológica, se encontra o laser vaginal, a radiofrequência vaginal e o eletromagnetismo do Emsella, equipamento onde conseguimos fazer a polarização e despolarização do músculo do assoalho pélvico e, com isso, ela faz contrações supramáximas, fortalecendo o que não é possível se fazer humanamente com o treinamento isolado.
Com todo esse arsenal que temos hoje em mãos - como fisioterapia, medicações, mudança de estilo de vida diário miccional, eletromagnetismo, laser e radiofrequência – esperamos encaminhar menos pacientes para procedimentos cirúrgicos.
Entretanto, quando a paciente tem indicação - e hoje ainda se encontram pacientes que tem indicação cirúrgica - isso ainda será considerado o padrão ouro. Então, em pacientes com uma perda urinária com pressões muito baixas, podemos ajudar o assoalho pélvico, fazer uma boa coordenação motora, mas a indicação cirúrgica sendo formal a encaminharemos para cirurgia.
as, como disse anteriormente, nossa esperança é que em um futuro bem próximo a gente consiga evitar ou minimizar ao máximo a realização de procedimentos cirúrgicos nessas pacientes com incontinência urinária, por conta de um diagnóstico e tratamento precoces.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.