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The Last of Us: a série de zumbi que pega o espectador pelo coração

Colunista On: Enoe Lopes PontesPesquisadora, jornalista e crítica de cinema e séries
The Last of Us: a série de zumbi que pega o espectador pelo coraçãodivulgação

Entre explorar todos os perigos oferecidos por um universo distópico e pós-apolítico, e investigar relações íntimas, pessoais e profundas, a primeira temporada de The Last of Us entrega um resultado geral positivo e surpreende ao ir além do óbvio. Adaptado do videogame homônimo, a série conta com nove episódios e é uma obra da HBO. Apesar de não ser uma produção extensa, é possível enxergar um equilíbrio narrativo dentro de toda a sua proposta ambiciosa, porque há espaço para tudo.


Entre flashbacks, cenas de susto e horror, ação e lutas, desenvolvimento de personagem, plot twists etc nada é abordado aleatoriamente e com pouca atenção. Neste sentido, ainda que existam idas e vindas da tensão e da continuidade da linearidade da história, The Last of Us consegue criar uma progressão do clima de suspensão, mesmo que não vá diretamente ao ponto. Talvez, este seja o seu grande ganho.


Devido ao fato do passado de algumas personagens ser detalhadamente investigado, o espectador cria um laço cada vez maior com o que está sendo mostrado e, a partir disso, o estabelecimento da atmosfera de medo pode ir tomando conta do público. Este recurso funciona porque até mesmo os coadjuvantes são interessantes, apresentando camadas e complexidade, bem como carisma.


Um exemplo, é o casal do 01x03 - Por muito, muito tempo. Ainda que a dupla somente apareça neste episódio, a ligação entre eles faz com que aconteça uma espécie de imersão e apego ao enredo. O mesmo pode ser dito sobre o 01x07 - O que deixamos para trás, que, diferente do 01x03, traz uma das figuras centrais do enredo, mas gera o mesmo efeito.


Ambos se valem de flashbacks para fomentar a construção de mundo ficcional, mas também para fazer se alastrar esta aproximação de quem assiste com o que está na tela, o que cria empatia com as personagens. A bravura aparece bastante aqui, porque neste episódios mais focados nos relacionamentos (românticos ou não) do que na ação (física), os diretores e montadores não temem o tempo dilatado.


As situações levam a duração que elas precisam e quadros com menos cortes se tornam uma realidade. No entanto, esta característica não é ruim. Pelo contrário, é ela que fortalece os momentos e os episódios mais sanguinolentos, por exemplo. No entanto, esta característica da série é curiosa de observar, porque não há um balanço exato entre o dilatado e o acelerado.


Pelo contrário, existem muito mais sequências que olham para o íntimo e para as relações, com longas planos de conversas, mais do que aqueles rápidos, com ataques dos zumbis, tiros e facadas, inclusive. Mas, esta estratégia acaba por funcionar, porque, na verdade, no final das contas, esta é uma obra de terror e o elemento principal para que uma produção deste gênero funcione é que o espectador se importe com as personagens.


Este é um dos motivos que a tensão somente cresce a cada episódio. Além disso, aqui o público não é subestimado. É perceptível que este material conta com traços de refinamento quando as escolhas da equipe são observadas. Um exemplo são saltos temporais que são revelados através de imagens, sem diálogos ou sem cartelas, como na saída de Ellie e Joel da cidade de Tommy.


Quando a dupla chega ao local, a neve está espessa e funda. Depois, quando eles vão embora, ela já está bastante derretida. Nada necessita ser reiterado, há muita informação distribuída em quadros únicos. Assim, acontecem estes instantes satisfatórios que, mesmo despercebidos por quem acompanha o seriado, eles estão ali e serão sentidos pelo espectador, mesmo que não diretamente.


Mas, ainda que seja majoritariamente elegante em sua tecnicidade, The Last of Us possui escapadelas, com alguns diálogos expositivos ou encaminhamentos óbvios (o final de Tess, é um exemplo disso). Contudo, mesmo que a obra tenha defeitos, eles são de pequeno porte. Conseguindo adaptar um videogame, mantendo a sua estilística e espírito, mas adicionando desenvolvimentos importantes, que aumentam a complexidade da trama, The Last of Us empolga e emociona.


Seja pela parceria tocante de Ellie e Joel, pelas atuações de um elenco orgânico e afinado ou pelo corajoso trabalho dos diretores e montadores, esta é uma temporada redonda e bem realizada.


https://youtu.be/lW5kiEUVlpo

*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Enoe Lopes Pontes

Enoe Lopes Pontes

Doutoranda e mestre em Comunicação, formada em Artes Cênicas e em Comunicação Social, Enoe Lopes Pontes é pesquisadora, jornalista e crítica de cinema e séries. É membro da ABRACCINE e do Coletivo Elviras. Cinéfila desde os 6 anos, sempre procurou estar atenta para todo tipo de produção, independentemente do gênero, classificação ou fama. Do cult ao pipoca, busca observar as projeções com cuidado e sensibilidade. Filmes preferidos: Hiroshima Mon Amour e Possession.

Enoe integra a equipe do Coisas de Cinéfilo, como crítica.

Instagram: @enoelp

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