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Ruptura: 2ª temporada desvenda mistérios, mas poderia ser mais fluida

Enoe Lopes Pontes
Colunista On: Enoe Lopes PontesPesquisadora, jornalista e crítica de cinema e séries
Ruptura segunda temporadaDivulgação/Ruptura/Apple TV

Ruptura é uma série disruptiva. Seja em sua premissa ou estilística, essa é uma produção que se arrisca e procura rasgar os moldes engessados de obras feitas por canais streaming. Produzida pela Apple e criada por Ben Stiller, assim como a sua primeira temporada, o seriado segue com uma trama complexa e elaborada narrativamente em seu segundo ano. 

Com uma história que mostra funcionários de uma empresa que se dividem em duas personalidades, a de dentro e de fora do trabalho - sendo que uma não tem lembrança da outra - os novos episódios fomentam e desenvolvem o arco da Lumon, companhia que engendra todo esse sistema, e seus funcionários. 

O risco de se enrolar no que fora criado anteriormente era grande, mas os acontecimentos da segunda temporada de Ruptura são amarrados e possuem um foco bem nítido, que toma o tempo quase correto para acontecer. Agora, o público entende e descobre o que ocorre, de fato, na atividade que o protagonista Mark (Adam Scott) desempenha e onde sua esposa foi parar.

Em termos de direção, os melhores episódios continuam aqueles dirigidos por Stiller (2x01, 03, 04, 08 e 10), que emprega seu olhar para ampliar a construção de universo ficcional que elaborou. Quando Stiller está no comando é quando a decupagem e a luz mais trabalham em função da narrativa. Um exemplo é no uso da luz forte de dentro da Lumon, com as sombras e os planos/contraplanos de fora da empresa. 

Essa estratégia cria uma dicotomia entre o discursivo e o visual. De um lado, a luta contra um sistema cruel, que se aproveita dos funcionários. Do outro, o da dependência emocional das personagens a este mundo corporativo que os destrói, mas os distrai, é o que mais impulsiona a compreensão das emoções destas figuras. Stiller sabe revelar em imagem essas sensações. Há uma euforia cor de luz fluorescente na Lumon. É artificial, mas agita.

Ruptura está na 2ª temporada

Ruptura investe neste trato técnico e não economiza em mostrar sua grandiosidade financeira. Panorâmicas e drones elevam essa impressão de que a Lumon é antiga, perigosa e poderosa. As dimensões dos prédios são grandes, são vistos em plano geral e o espectador embarca nesse mergulho na atmosfera lumoniana e tudo que a cerca, o que aumenta desejo de acompanhar a trama.

No entanto, dentro de toda a sua potencial e destreza de tecnicidade, é observável que a série escorrega em prender a atenção em alguns momentos. Com exceção do 2x08 que foca no passado e presente de Harmony Cobel (Patricia Arquette), todos os episódios contam com sequências que poderiam ser enxutas para uma maior fluidez do enredo.

Toda a saga das cabras, por exemplo, é esgarçada quando se olha para o que elas de fato representam para o desenvolvimento da história. Alguns momentos dos subplots de Dylan George (Zach Cherry) e Irving Baliff (John Turturro) são repetitivos. Além disso, a escolha de concentrar todos os acontecimentos da trajetória de Gemma (Dichen Lachman) também aumenta o cansaço com a trama dela.

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Caso o espectador fosse descobrindo aos poucos, o interesse poderia ser maior. A sensação é de que a obra fica dando voltas para ir direto ao ponto. Ainda assim, a segunda temporada de Ruptura vale a pena ser acompanhada. Além de revelar muitos dos mistérios inseridos no ano anterior, as tramas dos coadjuvantes são ampliadas e entregam até pontos altos da produção.

Um dos maiores destaque aqui é o ator Tramell Tillman (Seth Milchik). A construção de personagem do intérprete impressiona, por sua composição de movimentos físicos e vocais. O acerto também vem dos roteiristas, que decidiram apostar em dar mais espaço para essa figura tão complexa que é o Mr. Milchick. Ele fomenta o estranhamento com a Lumon, as reflexões sobre a sociedade e ainda diverte por ter tantas expressões e gestos marcantes. 

Confira o trailer da 2ª temporada de Ruptura:

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Enoe Lopes Pontes

Enoe Lopes Pontes

Doutoranda e mestre em Comunicação, formada em Artes Cênicas e em Comunicação Social, Enoe Lopes Pontes é pesquisadora, jornalista e crítica de cinema e séries. É membro da ABRACCINE e do Coletivo Elviras. Cinéfila desde os 6 anos, sempre procurou estar atenta para todo tipo de produção, independentemente do gênero, classificação ou fama. Do cult ao pipoca, busca observar as projeções com cuidado e sensibilidade. Filmes preferidos: Hiroshima Mon Amour e Possession.

Enoe integra a equipe do Coisas de Cinéfilo, como crítica.

Instagram: @enoelp

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