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'E assim de repente…': Carrie Bradshaw e amigas retornam em spin-off de Sex and the City

Colunista On: Enoe Lopes PontesPesquisadora, jornalista e crítica de cinema e séries
'E assim de repente…': Carrie Bradshaw e amigas retornam em spin-off de Sex and the CityDivulgação

Big ou Aidan? No início dos anos 2000, essa pergunta assolava a comunidade de fãs da série Sex and City. Mais de 20 anos depois, o público descobre que a resposta para a Carrie era sim e sim. Ainda que de forma trágica, Bradshaw não precisou escolher e garantiu relacionamentos com os dois amores de sua vida. No entanto, os roteiristas acertam em And Just Like That…, porque eles mostram que todas as escolhas do passado têm consequências profundas no presente.


Mas, essa espiral de amores profundos versus decepções vindas do resultado das escolhas de outrora não aparecem somente para Carrie. Todas as suas amigas, Miranda, Charlotte, Nya, Lisa e Seema estão completamente enredadas em conflitos que são frutos de todos os caminhos percorridos por elas desde as suas juventudes. Este é um dos pontos mais altos da temporada, inclusive.


Sejam as personagens que existem desde Sex and city ou do ano anterior de And Just like that…, há agora um aprofundamento da construção e elaboração de cada papel. Entre as piadas, risadas e questões sexuais curiosas – esta sempre foi a premissa deste universo ficcional –, agora, o seriado também mostra que a vida não é tão frugal para as mulheres, mesmo para as ricas de Nova Iorque.


Os privilégios delas estão ali postos, são admitidos em voz alta neste spin-off, porém o explorar camadas vem disso, de lembrar que elas são mulheres, acima dos 50 anos, bem sucedidas para a sociedade capitalista e que tudo isso vem com um preço, principalmente quando o tema são relacionamentos heterromâticos. No entanto, nem ao menos Miranda escapa desta lógica!


Depois de começar seu namoro com Che, a impressão é que elus teriam um processo mais fácil de adaptação. Mas, pelo contrário, a vida de Che não se encaixou com a de Miranda e os shippers da dupla podem ficar até frustrados com o que acontece com o casal durante os novos episódios. Contudo, mesmo que com um desfecho negativo entre elus, o desenvolvimento desta relação é também um dos pontos mais bem realizados da temporada.


Isto porque há um equilíbrio entre qualidades e defeitos de Miranda e Che, mesclado aos seus conflitos individuais e da própria temática do segundo ano de And Just like that. A sensação é de que o tema que circunda todos os subplots é “sacrifícios”. Neste sentido, a condução do enredo que os autores trazem é eficaz por não perder a personalidade individual de cada personagem, mas conectando-as nesta grande premissa.


Para que isto funcione completamente, o elenco foi fundamental. A união e a química de cada uma das mulheres centrais da trama é essencial, mas a entrada das novas atrizes: Karen Pittman (Nya), Nicole Ari Parker (Lisa) e Sarita Choudhury (Seema) neste spin-off foi um empurrão necessário para manter o equilíbrio da dinâmica do grupo e para fortalecer as dinâmicas das personagens antigas que permaneceram.


Visto que cada uma das novas amigas é mais próxima de uma das mulheres do trio original, as subtramas se conectam e impulsionam umas as outras. O destaque aqui, no entanto, fica para Nicole. Fazendo o papel de Lisa, ela consegue imprimir múltiplas reações e relações com microgestos e coloridos sutis do texto. É uma construção bem delicada e sutil, para uma Lisa tão cheia de problemas graves, como gerenciar uma família grande, sendo uma artista famosa e importante, bem como perder um bebê, em uma gravidez em uma idade inesperada.


E já que os assunto dos anos de vida foi mencionado, And just like that… também carrega uma importância para o seu público, que geralmente não possui enredos diversificados para sua faixa etária. Nesta produção, é possível encontrar mulheres de 50+ com objetivos, momentos, etnias, raças, relações etc muito distintas. É uma representação um tanto elitista, porque todas elas são bem afortunadas financeiramente.


Todavia, já é satisfatório ver conflitos humanos, reais e intensos para gerações que vão, no geral, sendo deixadas de lado ou tratadas como indivíduos sem sexualidade, viço, tesão, paixão. Estes elementos não faltam para este grupo, que tem Carrie como líder e uma líder que parece, finalmente, estar amadurecendo emocionalmente. A era Aidan finalmente chegou e Bradshaw enxergou, de fato, que ele sempre foi a melhor escolha.


Todas as pistas do amor de Carrie por Aidan estão no ecrã. A direção e a fotografia compõem luz e quadro para convocar a sensação de romance e amor verdadeiro, com planos fechados nos discursos emocionados e mais abertos nas interações físicas do casal. A cenografia insere elementos de temperaturas mais quentes também. As pistas deste amor OTP (One true pairing = match perfeito) estão sempre em cena, mas sem esquecer dos tons melancólicos como o ciano e o verde piscina.


Por que? Porque Carrie já teve seu tempo de viver tudo que poderia com Aidan e agora, por mais que os dois se amem, os obstáculos de ser 50+ não são os mesmo de quando eles estavam nos seus 30+. Então, And Just like that… segue todos os passos que fizeram Sex and the city bem sucedida, porque procura mostrar os problemas, soluções e emoções de um período específico na vida. No entanto, ela arrisca mais, é mais profunda e corajosa, fazendo-a valer cada minuto do tempo de quem assiste, porque vai mais longe neste olhar sobre as vivências humanas.


A sua segunda temporada, nesta lógica, consegue ser ainda maior e melhor. Carrie Bradshaw e suas amigas continuam aventureiras, sim. Mas, elas também estão mais conscientes de seus poderes e forças, sabem mais sobre a vida, habitam o mundo contemporâneo e se entregam com menos medo. Ah, mas sem deixar de pedir um bom drink, com uma bela taça. Pois, e assim de repente, as coisas mudam, mas também não deixam de ser o que realmente são!


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Enoe Lopes Pontes

Enoe Lopes Pontes

Doutoranda e mestre em Comunicação, formada em Artes Cênicas e em Comunicação Social, Enoe Lopes Pontes é pesquisadora, jornalista e crítica de cinema e séries. É membro da ABRACCINE e do Coletivo Elviras. Cinéfila desde os 6 anos, sempre procurou estar atenta para todo tipo de produção, independentemente do gênero, classificação ou fama. Do cult ao pipoca, busca observar as projeções com cuidado e sensibilidade. Filmes preferidos: Hiroshima Mon Amour e Possession.

Enoe integra a equipe do Coisas de Cinéfilo, como crítica.

Instagram: @enoelp

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