Entre recordes e desafios: PIB da Agropecuária pode recuar 1,7% neste ano
Foto: arquivo pessoal/Daniela Cotrim
Não foram poucos os desafios enfrentados pelos brasileiros nos dois últimos anos. O prolongamento inesperado da pandemia da Covid-19 provocou intensas mudanças no cenário produtivo e econômico nacional, o que exigiu de todo o setor produtivo da carne um extenso trabalho, a fim de reforçar a qualidade e a segurança do produto que chega à mesa não só dos brasileiros, mas de consumidores de todo o mundo. Diante deste cenário, a força da pecuária brasileira foi posta à prova e passou de forma clara e assertiva neste duro teste, cumprindo a sua missão, reforçando a sua posição de protagonismo no mercado mundial e destacando-se por mais recordes do setor.
De acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC, 2022), o Brasil encerrou o ano de 2021 com um recorde no volume de carne bovina exportada. Foram um total de 2,4 milhões de TEC (toneladas em equivalente em carcaça) embarcadas, o que correspondeu a US$ 9,2 bilhões, representando uma alta de 8,4% em relação ao ano anterior, levando o país a mais um recorde. Esse feito é resultado de um importante trabalho envolvendo pecuaristas, o Ministério da Agricultura e o setor privado o qual, em conjunto, reforçaram questões sanitárias a níveis internacionais, conquistando a confiança do mercado externo e mantendo o país com o título de maior exportador mundial de carne, representando 16% do comércio internacional.
Todos os esforços, mesmo em meio ao cenário de crise, sustentaram a ascensão da pecuária nacional. Em 2019, o PIB da Pecuária de Corte representou 8,4% da economia brasileira; já em 2020 passou a representar 10% do PIB brasileiro. Ressalta-se que isso ocorreu mesmo com todo cenário de declínio de faturamentos dos outros setores em virtude da pandemia. Em 2021 o setor conseguiu mais recordes de representatividade, alcançando a marca de 10,5% do PIB nacional, movimentando R$ 913,14 bilhões. Assistimos, então, um biênio caracterizado como sendo um dos melhores da história do agronegócio brasileiro, que superou todas as expectativas.
Estes resultados são frutos de um amplo exercício de melhoria contínua envolvendo tecnologia e qualificação de mão de obra, diversos elos do setor pecuário, englobando milhares de profissionais e abrindo espaço para novos interessados no agronegócio. De acordo com dados fornecidos pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Esalq/USP), em 2021 a população ocupada com o agronegócio somou 18,45 milhões de pessoas, representando um aumento de 5,5%, ou 958 mil pessoas, frente ao ano de 2020. Desta forma, a participação do agronegócio no mercado de trabalho nacional foi de 20,21%.
Apesar dos recordes do último biênio, o ano de 2022 vêm apresentando baixas. O PIB do setor apresentou recuo de 2,48% nos primeiros seis meses do ano. O cenário é fundamentado, especialmente, pela alta expressiva dos custos com insumos, tanto na agropecuária quanto nas agroindústrias, e reforçado pela conjuntura de guerra da Rússia contra a Ucrânia, culminando em impactos significativos no mercado de combustíveis e fertilizantes. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresentados hoje (22/09), deve haver uma redução de 1,7% no PIB da Agropecuária Brasileira neste ano. Contudo, vale ressaltar que o Ipea levou em consideração apenas as atividades “da porteira para dentro”, desconsiderando os demais elos da cadeia.
O setor reconhece os desafios, mas ressalta que o resultado em 2022 ainda pode ser considerado favorável. De acordo com nota expressa da Cepea/Esalq-USP em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estima-se que a participação do setor no total fique em por volta de 25,5% em 2022, pouco abaixo dos 27,5% registrados em 2021. Nos encontramos a aproximadamente 100 dias para encerramos o ano de 2022 e as perspectivas para a agropecuária brasileira, Safra 2022/2023, seguem firmes.
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