Traição, líder atrás das grades e demarcação de território: os bastidores da "guerra" entre BDM e Katiara que já perdura meses
A briga - entre a Katiara e o Bonde do Maluco - está longe de ser uma novidade para as forças de segurança. É que os dois grupos apresentam sinais de tensão desde 2020.
Tiroteios, ônibus sem circular e muito medo. O roteiro, parecido com o de um filme de terror e ação, tem sido protagonizado na vida real por moradores do bairro de Valéria, em Salvador. Mas, afinal, o que está por trás da "guerra" que envolve duas facções criminosas?
A briga - entre a Katiara e o Bonde do Maluco - está longe de ser uma novidade para as forças de segurança. É que os dois grupos apresentam sinais de tensão desde 2020, quando o território de Águas Claras chegou a ser invadido por bandidos. Mortes foram registradas na época.
Agora, o local onde os confrontos acontecem é conhecido como Faixa de Gaza. Pichações - do BDM e Katiara - são vistas em muros, no intuito de demarcar território. Além disso, portões de moradores são completamente fuzilados. Imagens registradas com exclusividade pelo Grupo Aratu mostram o poder de armamento dos criminosos.
Tiroteio em Valéria assusta pela quantidade de disparos. pic.twitter.com/KrfTnBZtMd
— Aratu On (de 🏠) (@aratuonline) August 18, 2021
Após um novo confronto nesta quarta-feira (18/8), que levou muito medo, a Polícia Militar foi chamada e reforçou o policiamento na região, com emprego de unidades de outros bairros, a exemplo da 17ª Companhia Independente (CIPM/Uruguai), e especializadas, como a Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT/Rondesp BTS).
"Só sairemos quando darmos tranquilidade à população. Precisamos da comunidade para não abraçar essas ações criminosas", disse o comandante de Policiamento Regional da Capital BTS, coronel Paulo Guerra. A polícia apura se integrantes da facção Comando da Paz - do Nordeste de Amaralina - ajudam os suspeitos da Katiara na briga.
RACHA PROVOCOU CAOS
Uma história de traição desencadeou a guerra. A katiara é liderada pelo traficante Adilson Souza Lima, conhecido como "Roceirinho". Ele está preso desde 2012 e, desde esse período, viu sua organização ser "rachada" após ruptura com o antigo gerente, Lucas Campos Miranda, que se aliou a Tiago Souza Sampaio, do Bonde do Maluco, de acordo com investigações realizadas pela Polícia Civil e enviadas ao Ministério Público.
De acordo com o documento, obtido pelo Aratu On, “‘Roceirinho’ tinha como gerente Lucas, associado também a Ubiraci Oliveira, o 'Bira', e ao demais denunciados, colaboradores e traficantes que atuavam como jóqueis”.
Outro nome ligado ao chefe da Katiara é o de Eduardo Lemos Pereira, que é conhecido pelos apelidos de “Love” ou “Pitbull”. Segundo as apurações, foi ele quem perdeu o controle da região de Cajazeiras. Segundo a polícia, Lucas atuava como principal gerente de "Pitbull" quando integrava a Katiara.
"Ele migrou para o Bonde do Maluco, se associando ao denunciado Tiago Souza Sampaio. Como gerente, atuava coordenando os responsáveis pelas vendas diretas das drogas a consumidores finais. Adquiria e distribuía as drogas que eram disponibilizadas para venda", relataram as apurações.
Além de "Roceirinho", Lucas, Tiago, Ubiraci e Eduardo, outras oito pessoas foram identificadas pela polícia como responsáveis pela briga envolvendo o BDM e Katiara no bairro de Valéria.
HISTÓRICO
A Justiça mandou "Roceirinho" voltar para um presídio federal de segurança máxima em fevereiro de 2021. No mesmo mês, inclusive, cinco pessoas morreram em um intervalo de dois dias entre Valéria e Cajazeiras. No dia 5, a Secretaria da Segurança Pública anunciou a prisão de um suspeito de cometer quatro dos casos.
No dia 15 de dezembro de 2020, mesmo com casas perfuradas e medo, a PM negou, por meio de nota, a existência de troca de tiros no bairro de Valéria. A corporação ainda ressaltou na época que “o comércio encontrava-se aberto”.
Cerca de um mês antes, no dia 23 de novembro, guarnições da PM foram surpreendidas a tiros por homens armados e equipados com coletes balísticos enquanto trafegavam pela região de Nova Brasília de Valéria. Os criminosos estavam a bordo de dois veículos, que entraram na Rua do Sossego, e fugiram por um matagal.
Também em novembro, no dia 28, quatro pessoas morreram e uma ficou ferida, durante troca de tiros com policiais militares. Segundo a PM, as equipes estavam em deslocamento, quando se aproximaram para abordar um carro. No momento da abordagem, os cinco passageiros do veículo reagiram e atiraram contra os agentes. Houve troca de tiros, e na ação, os quatro dos suspeitos foram baleados.
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