Klester Cavalcanti lança livro sobre feminicídio em Salvador

Klester Cavalcanti, jornalista e escritor, lança seu novo livro sobre feminicídio “Matou Uma, Matou Todas”; obra expõe cenário brutal da violência contra a mulher no Brasil

Por Laraelen Oliveira.

O jornalista e escritor Klester Cavalcanti, um dos principais nomes no jornalismo literário do país, desembarca em Salvador nos dias 27 e 28 de novembro de 2025 para lançar seu novo livro, “Matou Uma, Matou Todas”, obra que expõe a face mais brutal da violência contra a mulher no Brasil. O lançamento contará com debates, rodas de conversa e sessão de autógrafos em três espaços da cidade: Museu Geológico da Bahia, Casa da Mulher Brasileira e Livraria LDM do Shopping Bela Vista.

Todo feminicídio é um homicídio, mas nem todo homicídio de uma mulher é feminicídio. O que o diferencia é a motivação de gênero/Foto: Divulgação/Biblioteca do Senado Federal 

A obra reúne seis casos de feminicídio apurados ao longo de seis anos de investigação, período em que Cavalcanti analisou mais de 17 mil páginas de documentos oficiais, assistiu a 90 horas de vídeos e examinou cerca de 2 mil fotos, compondo um retrato devastador de um crime que mata cerca de 1.492 mulheres por ano no Brasil de acordo com dados divulgados em 2024 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Caso Vilma Góes: um crime emblemático na Bahia

Entre os episódios narrados no livro está o assassinato da soteropolitana Vilma Góes, morta pelo ex-marido dentro da boate Hippopotamus, no antigo Hotel Othon Palace, na década de 1980. O crime ocorreu diante de inúmeras testemunhas e, ainda assim, o réu foi absolvido.

Em entrevista, Cavalcanti descreveu o episódio como “grotesco” e um retrato evidente do machismo estrutural da época. “É inconcebível que um homem que mata duas pessoas em público, sem negar o crime e até afirmando que não se arrepende, seja absolvido”, afirma. Ele ressalta que entender casos como o de Vilma é essencial para compreender como a impunidade alimenta a violência de gênero.

Com mais de 30 anos de carreira, Klester Cavalcanti já venceu três vezes o Prêmio Jabuti e é reconhecido internacionalmente por seus trabalhos em direitos humanos/Foto:Redes Sociais 

A história marcou profundamente a família da vítima, especialmente a sobrinha e afilhada, Carla Góes, que fundou o Instituto Um Novo Olhar, no qual promove a reconstrução facial e oferece atendimento médico e psicossocial para mulheres vítimas de violência doméstica.

Seis anos de investigação: “Eu precisava escrever este livro”

Segundo Cavalcanti, a ideia do livro começou a amadurecer em 2017, quando percebeu que notícias sobre feminicídio se tornavam cada vez mais frequentes. “Quanto mais eu lia, mais certo eu ficava de que precisava fazer esse trabalho”, contou. A primeira entrevista para o livro foi realizada em 2019. Durante todo o processo, o autor conciliou a escrita com sua rotina em redação, trabalho que ele descreve como uma “paixão e um vício saudável”.

Entre seus sucessos estão “O Nome da Morte”, traduzido em mais de 20 países e adaptado para o cinema, e “Dias de Inferno na Síria”/Foto: Divulgação/Biblioteca do Senado Federal 

O jornalista reforça que, embora as mulheres demonstrem maior interesse pela obra, são os homens que mais precisam lê-la, já que 97% dos feminicídios são cometidos por eles. Ele próprio reconhece que cresceu em um ambiente machista, realidade comum à educação masculina brasileira. “Se eu tivesse lido um livro como o meu há 30 anos, eu teria sido outra pessoa”, refletiu.

Casos que chocam: quando a impunidade fala mais alto

Além do episódio de Vilma, Cavalcanti destaca outros casos que revelam o descrédito às vítimas. Um deles é o de Beatriz Milano, morta pelo noivo, um médico, que usou conhecimentos de medicina para cometer o crime. Mesmo condenado, três anos depois ele já prestava serviços em postos de saúde, atendendo mulheres, situação revertida apenas após pressão da família e a aprovação de uma lei municipal proibindo contratações de condenados por feminicídio. “É absurdo, grotesco”, resumiu o escritor.

Durante a entrevista, Cavalcanti também expressou preocupação com a persistência de discursos que minimizam a violência de gênero, inclusive entre mulheres. Para ele, isso reforça que a mudança cultural ainda é um desafio profundo. “Hoje você ainda precisa explicar para algumas pessoas o que é feminicídio. É um muro gigante, presente em todas as gerações”, lamentou.

Programação de lançamento em Salvador

Museu Geológico da Bahia

  • Data e Horário: 27 de novembro às 14 horas;
  • Local: Museu Geológico da Bahia – Círculo de Ideias sobre Violência no Trabalho, Sociedade e Feminicídio;
  • Evento promovido pela Força Sindical, com participação de representantes do MPT, TRT, secretarias estaduais e municipais e especialistas como Carla Akotirene e Petilda Vazquez;
  • Mediadora: jornalista Mariana Paiva;
  • Entrada gratuita;

Casa da Mulher Brasileira

  • Data e Horário: 28 de novembro às 13 horas;
  • Local: Casa da Mulher Brasileira – Roda de Diálogo sobre Feminicídio;
  • O lançamento contará com a participação de representantes da OAB, Judiciário e Secretaria Municipal;
  • Mediação: Joana Rego;
  • Entrada gratuita;

Livraria LDM – Shopping Bela Vista

  • Data e Horário: 28 de novembro às 18h30;
  • Local: Livraria LDM – Shopping Bela Vista;
  • Será feito um debate entre Klester Cavalcanti e escritora convidada sobre feminicídio no Brasil;
  • Mediação: Mariana Paiva;
  • Entrada gratuita;

Lançamentos literários recentes 

O psicólogo Alessandro Marimpietri lançou o livro Manual de Desinstrução para Tempos de Incertezas, publicado pela Editora Vestígio, que aposta na poesia e na filosofia como caminhos diante da ansiedade contemporânea.

O ator e escritor baiano Lázaro Ramos participou de um passeio educativo com crianças do Instituto Odara Oriheti Ayomide para marcar o lançamento do livro infantil Descobrindo a Minha História. A atividade percorreu locais ligados às diásporas afro-atlânticas no Centro Histórico de Salvador.

A pesquisadora e mestra em antropologia pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Gabriela Machado Bacelar Rodrigues, lançou no Museu de Arte da Bahia (MAB), o livro “Contramestiçagem Negra e Colorismo”, sobre o debate racial contemporâneo no Brasil, abordando as tensões entre identidade negra, colorismo e as políticas de reconhecimento racial.

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