"Tribunal da internet" após brincadeira de beijar amigo no TikTok acaba em filho de cantora morto; especialista explica
O menino havia participando de uma chamada tendência de momento, onde o internauta simula tentar beijar o melhor amigo para ver a reação dele.
O filho de 16 anos da cantora de forró Walkyria Santos, Lucas Santos, acabou tirando a própria vida na terça-feira (3/8) após receber inúmeros comentários homofóbicos ao divulgar um vídeo no aplicativo TikTok. O menino havia participando de uma chamada tendência de momento, onde o internauta simula tentar beijar o melhor amigo para ver a reação dele. A trend, que teve início em abril de 2020, já conta com mais de milhares de interações no Brasil.
Em uma outra postagem, Lucas deixa claro que é heterossexual e que possivelmente levaria uma bronca pela brincadeira. "Eu sempre deixei bem claro que a gente é só amigo, e eu não sabia que ia dar essa repercussão toda", justificou o menino. O corpo de Lucas foi encontrado já sem vida no quarto dele, na casa onde vivia, em Natal.
Explicação de Lucas Santos filho da cantora Walkyria Santos... pedjndo desculpas, vejam que absurdo! pic.twitter.com/xDSGvcxQ2v
— Dois palmos e 3 dedinhos! hahaha (@amigorecife1) August 4, 2021
Walkyria, que já foi vocalista da banda Magníficos, contou no Instagram que o adolescente já tinha demonstrado indícios de problemas psicológicos e culpou os seguidores que realizaram comentários maldosos pela tragédia. A cantora enfatizou que chegou a levar o filho no psicólogo após ele sofrer com as redes sociais em outro episódio.
"Estou aqui como mãe pedindo para que vocês vigiem, fiquem em alerta. Ele já tinha mostrado sinais. Eu já tinha levado em psicólogo e conversado várias vezes com ele. Foram os comentários deste TikTok nojento na internet que fizeram ele chegar a este ponto. Tenham cuidado com o que vocês falam, com o que vocês comentam. Vocês podem acabar com a vida de alguém.", suplicou a cantora muito abalada após a morte, na noite de terça-feira (3/8).
ESPECIALISTA ALERTA
Mas o que leva a essa atitude extrema? Em entrevista ao Aratu On, a psicóloga especialista em transtornos mentais de moderado a severo, Chabel Libório, explicou que cada pessoa pode apresentar sinais diferentes que podem ser considerados de alerta para problemas psicológicos e gatilhos.
"De maneira geral, a gente percebe que ele pode apresentar uma certa irritabilidade, isolamento, ficar preso nos pensamentos. No caso do Lucas, parece que ele estava muito preocupado com o julgamento do outro e isso foi algo que funcionou como fator de possiblidade de desencadear esse fato", iniciou
"A gente observa nos relatos dos jovens que eles sofrem com pensamentos invasivos que não dão conta. Uma ansiedade. A mãe [Walkyria] fala que ele já vinha demostrado sinais e que já tinha sido levado para um especialista. Possivelmente ele já estava neste isolamento social, muito focado nas redes sociais. Provavelmente, também, ele deveria ter tido esses episódios com pensamentos que ecoariam na cabecinha dele", prosseguiu.
Chabel Libório sustentou que a orientação é que os pais tenham ao menos noção e controle do que os filhos têm acessado na internet.
"Os pais e responsáveis ficam muito ocupados com o trabalho, os afazeres domésticos entre outras necessidades e, com isso, os adolescentes ficam muito presos as redes sociais. O fato de os filhos estarem muito nas redes sociais às vezes é confundido com 'ele está em casa, está protegido, não está fazendo nada só brincando no computador'. E não é bem assim. Via internet são passadas as normas de conduta entre os próprios adolescentes, que priorizam a aprovação de seus semelhantes de mesma idade", detalhou.
Enfatizando que precisaria ter conhecido a vítima para dar um parecer mais exato, a especialista entende que o adolescente supôs que as figuras referenciais, de mesma idade, não aprovaram a brincadeira e não suportou o juízo de valor dos outros jovens.
"Uma hipótese extremamente delicada é que ele tenha ficado muito fixado nesses pensamentos de modo que ele pode ter entrado em confusão daquilo que é real do que era muita dor para ele. Talvez ele tenha tentado se livrar da dor e não da vida", finalizou a psicóloga.
O sepultamento de Lucas acontece no Cemitério Vila Flor, em Macaína, às 10h desta quarta-feira (4/8).
*Sob supervisão do editor, Jean Mendes
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