Pesquisadores desenvolvem ‘protetor solar para plantas’ na Bahia

Protetor solar para plantas desenvolvido pela Embrapa é uma forma de aumentar a resiliência de sistemas agroalimentares

Por Júlia Naomi.

Em dias de calor intenso, o risco de desidratação e queimaduras solares aumenta, de modo que é preciso beber bastante água e reforçar a proteção solar. Com as plantas, não seria diferente. Pensando na adaptação da agricultura às mudanças climáticas, pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Cruz das Almas (BA) estão desenvolvendo um protetor solar para plantas.

Protetor solar para plantas é estudado em diversos cultivos desde 2021. Foto: Reprodução / Embrapa

“Quando a gente aplica esse protetor solar, ocorrem algumas mudanças na fisiologia da planta. Ela sente menos calor, menos sede e fica mais confortável no ambiente, mesmo que esteja com altas temperaturas e um pouco menos de água. Então ela vai conseguir produzir do mesmo jeito. É uma tecnologia que ajuda a adaptação”, explica Francisco Laranjeira, doutor em Fitopatologia e chefe-geral da Embrapa Mandioca e Fruticultura.

O produto, nomeado de Sombryt BR, ainda está na fase de testes e está sendo desenvolvido em parceria com a empresa de biofertilizantes Litho Plant, do Espírito Santo. Trata-se de um fertilizante mineral à base de carbonato de cálcio, que forma uma espécie de película invisível sobre a planta, protegendo-a contra a radiação solar e reduzindo a perda de água. Em testes realizados em todo o País, o protetor reduziu até 20% os danos físicos aos frutos.

Engenheiro agrônomo, Francisco Laranjeira assegura que o protetor solar para plantas poderá ser utilizado em cultivos orgânicos, além dos tradicionais. “Existem determinados compostos químicos que são aceitos para a produção orgânica. Ou seja, são aqueles compostos químicos que são praticamente inertes. Ou eles vão ser lavados pela chuva em algum momento e não vão estar no fruto que a gente vai consumir, ou simplesmente não fazem mal nenhum”.

+ Sabe o que é gastronomia agroflorestal? Chef de cozinha explica

Como é a ação do protetor solar para plantas?

Maurício Coelho, pesquisador à frente do estudo, demarca dois benefícios da aplicação do protetor solar: o aumento da resiliência da planta e a prevenção do dano físico a folhas e frutos. O primeiro aspecto melhora a eficiência da fotossíntese da planta, que se torna mais produtiva, apesar do calor. Já o segundo, evita a perda do valor comercial do fruto, devido à preservação de seu aspecto.

No Espírito Santo, drones estão sendo utilizados para aplicação do produto. Foto: Litho Plant

“O produto melhora o balanço energético da planta, tornando-a mais eficiente no uso de água e na realização de trocas gasosas, o que resulta em maior resiliência e produtividade”, explica o agrônomo, doutor em irrigação e drenagem.

O protetor solar para plantas foi utilizado no estudo para tese de doutorado do engenheiro-agrônomo Valbério dos Santos, defendida na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Ele observou a atuação do produto em sistemas de irrigação plena, irrigação com déficit moderado e ausência de irrigação, com resultados positivos em todas as circunstâncias.

“Foi bem interessante o resultado, principalmente na condição de sequeiro, chegando a 17% o aumento de produtividade, apesar de o produto ter influenciado nos três tratamentos. Identificamos uma melhoria nos indicadores fisiológicos da planta, que permaneceram mais estáveis, e também na qualidade do fruto em si”, descreve dos Santos.

+ Pesquisa detecta contaminação de mel vendido na Bahia

Pesquisas sobre adaptação de sistemas agroalimentares a mudanças climáticas

Francisco Laranjeira afirma que, há 50 anos, quando a Embrapa Mandioca e Fruticultura foi implantada em Cruz das Almas, não havia uma percepção sobre mudanças climáticas, mas que já havia uma preocupação em adaptar os sistemas de produção agrícola a climas extremos, a exemplo da seca. “Não é de hoje que fazemos trabalhos relacionados, por exemplo, à adaptação da mandioca a situações de maior déficit hídrico”, diz.

Em 2025, Embrapa completa 50 anos na Bahia, com a unidade Mandioca e Fruticultura. Foto: Léa Cunha

O chefe-geral da Embrapa Mandioca e Fruticultura também menciona a variedade de banana desenvolvida pela empresa de pesquisa, chamada BRS Princesa, que precisa de 30% menos água para ser cultivada em perímetros irrigados e tem capacidade para ser cultivada em mais regiões sem que haja irrigação, em comparação à banana prata e à banana nanica.

Laranjeira explica que o clima também afeta a ocorrência ou não de pragas e doenças. Enquanto climas secos propiciam a proliferação de insetos, a umidade torna o ambiente adequado para fungos, de modo que os pesquisadores podem trabalhar com mecanismos de melhoramento preventivo.

“O que significa isso? Que os trabalhos de busca de plantas resistentes, são feitos até antes das pragas chegarem. Isso é histórico e já deu grandes resultados para o Brasil. Um exemplo clássico é uma doença chamada sigatoka negra, causada por um fungo [Mycosphaerella fijiensis], e não existia no Brasil. Quando esse fungo chegou, pelo norte do país, já existiam variedades desenvolvidas pela Embrapa resistentes a esse fungo", detalha o pesquisador.

Pesquisas como essas propiciam a preservação dos cultivos e o aumento da disponibilidade e do acesso aos alimentos, combatendo o crescimento da insegurança alimentar. Apesar de, na América Latina e no Caribe, por exemplo, o Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição 2024 ter registrado queda nos índices de subalimentação, as Nações Unidas fazem um chamado para acelerar as ações que fortalecem a resiliência dos sistemas agroalimentares.

Bananeira com Sigatoka Negra. Foto: Foto: IMA/Divulgação

De acordo com o estudo, os índices de subalimentação na América Latina e no Caribe caíram de 6,6% em 2022 para 6,2% em 2023, o que significa que 2,9 milhões de pessoas deixaram de passar fome na região. Contudo, o Panorama destaca que eventos climáticos extremos e variabilidade climática ameaçam estas conquistas, pois colocam em risco a segurança alimentar de 74% dos países observados.

O relatório ainda mostra que a região estudada possui custo mais elevado para uma dieta saudável em comparação a outras partes do mundo, chegando a 4,56 dólares com paridade do poder de compra (PPC) por pessoa ao dia, enquanto a média global é de 3,96 dólares PPC. Desse modo, menos pessoas latino americanas e caribenhas têm acesso a este tipo de alimentação.

O relatório é um trabalho conjunto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPS/OMS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP, na sigla em inglês). 

Além de combater às mudanças climáticas, a urgência das Nações Unidas é tornar sistemas agroalimentares resilientes, para que dietas saudáveis se tornem acessíveis, de modo que a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição sejam combatidas.

Leia mais: Embrapa desenvolve sensor que avalia grau de maturação de frutas

Siga a gente no InstaFacebookBluesky e X. Envie denúncia ou sugestão de pauta para (71) 99940 – 7440 (WhatsApp).

Comentários

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Nós utilizamos cookies para aprimorar e personalizar a sua experiência em nosso site. Ao continuar navegando, você concorda em contribuir para os dados estatísticos de melhoria. Conheça nossa Política de Privacidade e consulte nossa Política de Cookies.