Taxas de cancelamento nos apps fazem procura por táxis aumentar em Salvador: o que vale mais a pena? Aratu On testou
O Aratu On fez um mesmo trajeto, utilizando carro por aplicativo e táxi, para saber como tem sido a percepção dos motoristas e passageiros acerca desse cenário de oferta e demanda.
Um assovio, um aceno e talvez um “siga aquele carro”, ou “pro aeroporto, por favor”. Não há uma comédia romântica que se preze, situada em Nova York (EUA), sem uma cena do(a) protagonista pedindo um táxi. O transporte, que embalou o maior hit musical de Angélica (Vou de Táxi), no final dos anos 80, virou até uma série de filmes, sendo um deles protagonizado pela brasileira Gisele Bündchen, que, ironicamente, é considerada a primeira ubermodel do mundo (o termo significa algo como ‘a maior de todas’, em alemão).
Inclusive, quando a empresa Uber surgiu, com a proposta de oferecer um serviço de excelência aos clientes, por valores ‘mais em conta’, trazia essa referência do significado da palavra em alemão. Quem não se lembra que, no começo, muitos motoristas usavam até roupas formais?
A então novidade, entretanto, não foi bem aceita pelos taxistas, que passam por mais burocracia e têm mais gastos com o carro e a profissão. Ainda assim, o aplicativo se popularizou e outros tantos vieram também, a exemplo do 99 Pop, InDriver, Waze Carpool e o Lady Driver, exclusivo para mulheres.
O que veio depois todo mundo sabe. Com maior concorrência, seguido da pandemia de Covid-19, entre outros motivos, os taxistas foram, cada vez mais, parando de ser procurados pelos clientes, seja por empresa ou nos pontos das ruas. Porém, nos últimos meses, com a chuva de cancelamentos nos apps e valores acima do normal, tornou-se comum, novamente, pedir um táxi.
Observando tal situação, o Aratu On fez um mesmo trajeto, utilizando carro por aplicativo e táxi, para saber como tem sido a percepção dos motoristas e passageiros acerca desse cenário de oferta e demanda. Queremos ressaltar que a intenção, aqui, não é criar ou reforçar uma rivalidade entre as categorias, afinal, só você sabe o que é melhor para você, seja em relação à economia, praticidade, conforto ou qualquer outra questão.
EXPERIÊNCIA
No dia 27 de setembro, a social media Carla Galrão e a jornalista Juana Castro, ambas do Aratu On, embarcaram rumo à experiência. A primeira chamou um carro via aplicativo, enquanto a segunda ligou para pedir um táxi, praticamente na mesma hora, por volta de 15h15. Os locais de partida e destino foram os mesmos - da TV Aratu, na Federação, ao Shopping da Bahia, no Caminho das Árvores.
O valor da corrida de Carla logo apareceu na plataforma e o veículo chegou em pouco mais de cinco minutos; Juana ligou para uma empresa, aguardou cerca de um minuto e meio para falar com uma atendente, forneceu nome, local de partida e telefone para contato. Ao final da chamada, recebeu uma mensagem no WhatsApp com os dados do taxista e a informação de que ele poderia chegar em até dez minutos.
Carla chegou ao shopping às 15h38, enquanto Juana parou no mesmo lugar às 15h45. A corrida da social media custou R$ 16 e a da jornalista ficou por R$ 30. No caminho, as duas conversaram com os motoristas.
JÁ TEM UM UBER TE ESPERANDO LÁ FORA
Há cerca de um ano e meio, Eduardo Mascarenhas, de 29 anos, começou a ‘rodar’ como motorista de aplicativo - Uber e 99, neste caso. Ele já dirigia, mas trabalhava em uma locadora. Agora, como autônomo, levando passageiros para diferentes lugares, viu a renda mensal aumentar.
“Hoje em dia, um salário mínimo não dá para fazer nada, e no app você tem a liberdade de conseguir aquele dinheiro. Se tem conta de luz pra pagar amanhã, dá pra você correr hoje e fazer esse dinheiro, ter esse tipo de controle. Assalariado, não. Tem que esperar um mês”, explica.
Mascarenhas acredita que os apps são mais seguros para condutor e cliente, pelo fato de terem “uma grande empresa por trás”, em possíveis intercorrências. “Se a gente ficar muito tempo parado, o aplicativo já pergunta o porquê, se a gente quer acionar a polícia”, exemplifica.
Ele percebe a volta da procura por táxis, mas isso, segundo Eduardo, não fez com que as buscas por aplicativos diminuíssem. “Acredito que [pegam táxi] por causa da pressa. O mundo está muito no prático, no que está alcance, mas tem a questão financeira também”, analisa.
Esse ponto trazido pelo rapaz pesa bastante, tornando a viagem via app “mais barata e vantajosa para o passageiro”. Nas ruas, muitos dos entrevistados pelo Aratu On concordaram, mostrando que o fator econômico é, sim, uma das maiores preocupações dos clientes.
Em contrapartida, há uma queixa comum que ganhou força nos últimos tempos: os cancelamentos. Na última semana, a estudante Catarina Litieri, de 24 anos, esperou mais de uma hora por algum carro que a levasse da Avenida Antônio Carlos Magalhães à Pituba, uma corrida de três quilômetros e menos de dez minutos. “Tive que ir andando, de noite, com pouca movimentação nas ruas”, conta. Nesse caminho, especificamente, um ônibus também não a deixaria perto do local de destino.
Eduardo atribui os cancelamentos à violência. “Infelizmente, às vezes, o motorista está ali e o passageiro(a) pode ser uma pessoa do bem, mas ‘o cara’ não quer pagar pra ver. Nem é pelo valor [da corrida curta]”, pontua.
Sem grandes problemas, apenas com eventuais pneus furados e passageiros querendo colocar mais gente que o suportado pelo veículo, Eduardo pretende continuar dirigindo vinculado aos aplicativos. “O cara que sabe fazer conta consegue ‘fazer o dele’ ali, tranquilo, sem desespero”.
VOU DE TÁXI
De acordo com o taxista João Adorno, de 34 anos e há 10 anos na profissão, muita coisa mudou nos últimos anos. Antes, chegava a ganhar aproximadamente quatro salários mínimos por mês, enquanto hoje recebe a metade disso, no mesmo período. Ele atribui o fato não só à concorrência, mas também à crise econômica e à pandemia de Covid-19.
“Assim como outros setores, nossa categoria foi prejudicada, mas temos percebido o aumento da procura, graças a Deus”, diz, reforçando que o valor ganho depende do trabalho do profissional. “Hoje, se você for a qualquer mercado, vai ver pessoas aguardando por um táxi”, emenda.
Durante a conversa, João afirma que a frota de táxis de Salvador é a mais nova do país, e citando-se como exemplo, fala que já está em busca de um novo veículo, mesmo o seu, um Chevrolet Spin, de seis lugares, rodando há apenas três anos.
“Tenho plena convicção da qualidade do nosso serviço. É um diferencial. Muitos clientes que migraram para os apps estão retornando. E não só para a empresa de radiotáxi, mas as próprias pessoas na cidade, colocando a mão, procurando…”, afirma Adorno, destacando que o serviço pode ser melhor para cadeirantes, pessoas com mobilidade reduzida, com compras e até com animais de estimação.
A enfermeira Mercês Alexandre, de 53 anos, é uma cliente fiel desse modo de transporte. Para ela, pesam fatores como segurança, conforto e "o fato de motoristas de táxi serem profissionais na condução", conhecendo melhor a cidade. “Chegam prontamente onde eu estou e me levam prontamente ao meu destino, sem passar por desvios perigosos, atalhos, e escolhendo sempre caminhos mais seguros", pontua, acrescentando que tem certeza de que não ficará “na mão”. “Então, eu prefiro pagar a mais e obter segurança, conforto e qualidade de serviço”, conclui.
Por falar em pagamento, a corrida de táxi não é mais ‘só em dinheiro’. A maioria dos taxistas roda, atualmente, com maquinha de cartão e também aceita PIX. “O que for mais confortável pro cliente”, frisa João.
Outra curiosidade citada por ele é que a bandeira 1 está em R$ 4,81 desde 2015, na capital baiana. O valor é aquele que já começa ali no taxímetro e corresponde à quilometragem rodada no período de maior movimento. Já a bandeira 2, um pouco mais cara (20 a 40% superior), funciona quando há, teoricamente, menos demanda - das 21h às 6h, aos feriados e fins de semana. Cabe salientar que os preços variam de acordo com cada município.
Quando questionado sobre as ‘corridas curtas’, antigamente negadas com frequência pelos condutores, ele comenta que isso ainda existe, mas vem de uma minoria. "Infelizmente, em toda categoria ou setor, têm pessoas que não entenderam o propósito do que estão fazendo. [...] Se a gente está em uma avenida que tem um shopping, provavelmente o passageiro mora ali no entorno. O propósito de ser taxista é contribuir na mobilidade da cidade”.
Por fim, ele dá uma dica aos usuários de táxi. Em caso de problema ou dúvida, todo táxi credenciado na Prefeitura tem um número de alvará que pode ser consultado no site da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob). Para isso, basta digitar a letra ‘A’ seguida dos quatro números que aparecem na lateral do veículo. Dessa forma, o cliente poderá ver informações como o nome do motorista, placa e até a data de cadastro do automóvel.
Passo 1:
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