Hoje, 26 de julho, é Dia dos Avós. Ao longo dos anos, vem se modificando o perfil de quem tem netos e netas e a expectativa é de que as mudanças continuem acontecendo.
Uma tendência observada é que as pessoas estão se tornando avós mais velhas. Isso porque as mulheres estão escolhendo ser mães mais tarde. É o que aponta a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Ana Carolina Bertho, com base em dados disponibilizados pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Além disso, segundo ela, está aumentando o número de mulheres sem filhos na população brasileira. O Brasil sai de um patamar de 6,12 filhos por mulher em 1950 para 1,61 filhos por mulher em 2024, segundo a ONU.
No futuro, com o aumento da expectativa de vida – em 1950, era de 46,8 anos, em 2022, chegou a 75,5 anos – a proporção de idosos que serão avós deverá ser reduzida.
"Teremos mais idosos, mas vai aumentar a proporção de idosos sem netos. Além disso, no passado, uma pessoa chegar aos 60 anos de idade já era considerado um velhinho, uma velhinha; hoje não, já que elas estão muito mais ativas", diz.
MERCADO DE TRABALHO
Segundo a pesquisadora, se for pensar nos anos 1950, a maior parte das mulheres estudava, casava e ficava em casa. Isso vem se modificando, com o aumento da participação do gênero no mercado do trabalho, o que trouxe uma outra mudança no perfil das avós.
"Essa figura da 'avó cuidadora' foi desaparecendo, porque a avó continua trabalhando. Muitas mulheres acima de 60 anos estão em plena atividade laboral", pontua.
Isso não é um problema em si, segundo ela, tanto para a qualidade de vida dos avós, quanto para a relação com os netos e será refletido mais no perfil das avós, do que dos avôs, que já vinham ocupando posições no mercado de trabalho no passado.
APOSENTADORIA
Com o aumento da idade mínima da aposentadoria, os avós estarão menos presentes e disponíveis, ainda que possam ter tempo de qualidade com seus netos, de acordo com a pesquisadora. O problema consiste nas situações em que o idoso passe a ser o único provedor da família.
"Em situações de crise econômica, em que a família fica desempregada, o idoso é o único com a renda garantida pela aposentadoria, e acaba ficando responsável pelas finanças da casa, o que comprometer a qualidade de vida dos idosos", ressalta.
TECNOLOGIA
Na visão de Nara Dutra, da Sociedade Brasileira Geriatria Gerontologia de SP, a pessoa que se torna avô ou avó vai desenvolver o seu papel a partir das relações que teve ao longo da vida, ou seja, de como criou seus filhos, como se preparou para o envelhecimento e para desempenhar outras funções sociais.
Ela enxerga a tecnologia pode facilitar a proximidade entre avós e netos, "ainda que em alguns casos afaste".
"A gente precisa valorizar o papel dessas pessoas que se dedicam aos cuidados dos seus netos. E esse papel no ambiente familiar é muito importante, acredito que ele vai ser cada vez mais valorizado ao longo do tempo", ressalta.
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Ap&oacute;s o marido morrer, Solange Alfano, de 74 anos, quase entrou em depress&atilde;o. Para evitar que a m&atilde;e se tornasse uma entre os 11 milh&otilde;es de brasileiros diagnosticados com a doen&ccedil;a, ela a incentivou a voltar a conviver com outras pessoas da idade dela e, o mais importante de tudo: movimentar o corpo.

&ldquo;A minha filha disse: &lsquo;N&atilde;o, minha m&atilde;e, a senhora vai fazer agora tudo o que a senhora gostava de fazer antes de conhecer o meu pai&rsquo;. Ela saiu por aqui tudo, procurando um lugar de dan&ccedil;a de sal&atilde;o. A&iacute;, foi que eu me empolguei e entrei na dan&ccedil;a de sal&atilde;o. Adoro dan&ccedil;ar, adoro!&rdquo;, conta ela.

Com o come&ccedil;o da pandemia de Covid-19, as aulas de dan&ccedil;a pararam e n&atilde;o voltaram - mas, depois de tomar a quatro doses da vacina, Solange continuou -. &Agrave;s sextas-feiras, ela frequenta serestas. &ldquo;Me distrai muito. E &eacute; uma coisa para o corpo, n&eacute;? Eu n&atilde;o fico totalmente parada, eu movimento o corpo&rdquo;.

Al&eacute;m de fazer amizades por meio da dan&ccedil;a, Solange conheceu um novo amor, com quem est&aacute; namorando h&aacute; quase oito anos. &ldquo;Estamos vivendo, nos distraindo&rdquo;. Casar novamente? Sem chances. Agora, a idosa, que mora sozinha, quer mais &eacute; aproveitar a vida. Ela, que j&aacute; est&aacute; aposentada h&aacute; 21 anos, tamb&eacute;m preferiu continuar no emprego na secretaria de uma escola. Para ela, que tamb&eacute;m costura, para a fam&iacute;lia e por encomenda, e cuida da casa sozinha, deixar de ser ativa n&atilde;o &eacute; uma op&ccedil;&atilde;o.

&ldquo;Desde 1989 que eu trabalho nessa escola, e estou at&eacute; hoje. Me aposentei, e continuo trabalhando l&aacute;. Eu tenho prazer em ir para a escola. O conv&iacute;vio com os colegas&hellip; voc&ecirc; j&aacute; pensou, voc&ecirc; sentada dentro de uma casa, olhando para quatro paredes sem fazer nada? &Eacute; terr&iacute;vel. Eu sou uma mulher que gosta de fazer muita coisa. Eu costuro, fa&ccedil;o bolo. Eu n&atilde;o gosto de ficar parada, n&atilde;o&rdquo;.

DEPRESS&Atilde;O

De acordo com a psic&oacute;loga Ana&iacute;de Magalh&atilde;es, &eacute; comum que as pessoas esperem que, com o avan&ccedil;ar da idade, os idosos parem a vida. Mas, como aponta a profissional, essa expectativa, al&eacute;m de irreal, n&atilde;o &eacute; saud&aacute;vel: &ldquo;Com uma alta idade, existe um desloque de papel social. O idoso, ele passa a parar de trabalhar, passa a mudar suas atividades e h&aacute;bitos. Por&eacute;m, &eacute; preciso ainda dar oportunidade para continuar, pois a vida deles n&atilde;o acaba com a idade&rdquo;.

Segundo a &uacute;ltima Pesquisa Nacional de Sa&uacute;de, realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&iacute;stica (IBGE), os idosos lideram o ranking das pessoas mais afetadas pela depress&atilde;o no Brasil. A faixa et&aacute;ria mais atingida &eacute; a de 60 a 64 anos: 13% dessa popula&ccedil;&atilde;o sofre com o transtorno, mais do que o dobro dos cidad&atilde;os em geral. De acordo com a Organiza&ccedil;&atilde;o Mundial da Sa&uacute;de (OMS), 5,8% dos brasileiros t&ecirc;m a doen&ccedil;a.

Como explica a psic&oacute;loga, esse quadro cl&iacute;nico pode vir do fato de as pessoas come&ccedil;arem a se sentir&nbsp;incapazes &agrave; medida que v&atilde;o envelhecendo: incapazes de trabalhar, de amar, de se divertir e de aprender coisas novas. &ldquo;Os problemas mais comuns s&atilde;o os de depress&atilde;o e ansiedade. Esses quadros s&atilde;o motivados principalmente pelo sentimento de os idosos se sentirem incapazes. Por exemplo, por acharem que est&atilde;o esquecendo de tudo. De fato, o idoso tem um quadro de esquecimento mais comum, por&eacute;m nunca &eacute; &lsquo;de tudo&rsquo;&rdquo;.

A presen&ccedil;a constante da figura da morte na vida de quem est&aacute; cada vez mais velho tamb&eacute;m contribui para o crescimento dessa melancolia que, mais tarde, pode virar uma depress&atilde;o. N&atilde;o s&oacute; a morte de amigos e entes queridos, como foi o caso de Solange, mas a pr&oacute;pria morte tamb&eacute;m, que parece cada vez mais pr&oacute;xima.

&ldquo;Por conta da alta idade, uma s&eacute;rie de quest&otilde;es surgem. Medos e inseguran&ccedil;as s&atilde;o comuns. A perda de amigos, pela morte ou dist&acirc;ncia, tudo afeta. &lsquo;E agora? Para onde a minha vida vai?&rsquo;. E isso n&atilde;o vem s&oacute; com a idade, mas, principalmente, com a aposentadoria, para aqueles que conseguem deixar os trabalhos. Somada &agrave;s d&uacute;vidas citadas, uma outra surge: a d&uacute;vida da morte. &lsquo;Como construir uma vida agora?&rsquo;&rdquo;, explica Ana&iacute;de.

E, com o envelhecimento progressivo da popula&ccedil;&atilde;o, pensar em formas de evitar o nosso adoecimento mental se torna ainda mais urgente: de acordo com a OMS, at&eacute; 2050, a taxa de idosos no mundo vai saltar de 12% para 22%. Falando em n&uacute;meros absolutos, vamos passar de 900 milh&otilde;es para 2 bilh&otilde;es de pessoas da terceira idade em 28 anos.

E j&aacute; estamos come&ccedil;ando a ver uma mudan&ccedil;a na Bahia: segundo proje&ccedil;&otilde;es do IBGE, o estado tem expectativa m&eacute;dia de vida de 74,76 anos. Em 2050, deve chegar a 78,27. E, falando em velhinhos, a capital baiana guarda um dado curioso: segundo o &uacute;ltimo Censo, realizado em 2010, Salvador &eacute; a cidade que mais tem centen&aacute;rios no pa&iacute;s. Na &eacute;poca, eram 3.578 moradores com, no m&iacute;nimo, 100 anos de idade.

AUTONOMIA

Para abrigar tantas pessoas mais velhas, &eacute; importante que as cidades estejam preparadas estruturalmente para isso. Se a pessoa n&atilde;o conseguir sair de casa para realizar atividades simples, al&eacute;m da sa&uacute;de mental, a sa&uacute;de f&iacute;sica tamb&eacute;m come&ccedil;a a ser comprometida, como ressalta Ana&iacute;de.

&ldquo;O isolamento faz com que o idoso se afaste da sociedade e dos la&ccedil;os. O estado precisa imaginar e projetar a cidade para esse idoso. Ele precisa sair para um mercado, conseguir fazer isso sozinho se quiser. As cal&ccedil;adas quebradas, com buracos, isso mant&eacute;m os idosos dentro de casa e contribui para a inatividade&quot;.&nbsp;

A fisioterapeuta L&iacute;via Coelho, especialista em idosos com doen&ccedil;a de Alzheimer, explica que, diferentemente de como era em um passado recente, hoje, ela v&ecirc; muito mais idosos ativos. E essa mudan&ccedil;a, como aponta a profissional, est&aacute; diretamente ligada ao aumento da longevidade da popula&ccedil;&atilde;o.

&ldquo;N&oacute;s temos uma ideia de que o idoso n&atilde;o serve mais para nada, &eacute; in&uacute;til, o que n&atilde;o &eacute;. Tem muitos idosos, quando a gente fala em atividade f&iacute;sica, que s&atilde;o muito mais ativos do que os jovens. &Eacute; uma realidade, hoje, totalmente diferente. O idoso precisa se mexer. Ele precisa se tornar ativo&rdquo;.

Entre as atividades f&iacute;sicas mais procuradas por pessoas acima de 60 anos est&atilde;o nata&ccedil;&atilde;o, hidrogin&aacute;stica e pilates. Nesses momentos, al&eacute;m do corpo, a cabe&ccedil;a tamb&eacute;m se transforma: &ldquo;Ele est&aacute; socializando, conversando com outras pessoas com hist&oacute;rias parecidas, interagindo. E v&ecirc; que a vida continua&rdquo;.

Para a profissional de sa&uacute;de, a palavra chave para um envelhecimento saud&aacute;vel &eacute; autonomia. &ldquo;O idoso &eacute; capaz de colocar um cal&ccedil;ado, de levar uma comida &agrave; boca, &eacute; capaz de tomar um banho sozinho. J&aacute; ocorreu situa&ccedil;&otilde;es de atendimentos meus em que a pr&oacute;pria fam&iacute;lia vinha ajudar o idoso a se levantar, por exemplo. E a fisioterapia est&aacute; a&iacute; para direcionar a pessoa nesses movimentos, n&atilde;o deixar o idoso acamado&rdquo;.

FAM&Iacute;LIA

Para Solange, ter a fam&iacute;lia por perto &eacute; e sempre foi essencial para ela se sentir motivada e empolgada com a vida. Hoje (26/7), no Dia dos Av&oacute;s, ela conta como a proximidade com a neta, Maria Eduarda Alfano, de 21 anos, &eacute; um presente. &ldquo;Eu convivo com essa pequena aqui desde quando estava na barriga da m&atilde;e dela. At&eacute; hoje, n&atilde;o tem quem fa&ccedil;a separar. Aqui &eacute; a minha riqueza&rdquo;.

Na velhice, como aponta Ana&iacute;de Magalh&atilde;es, existe o risco de a fam&iacute;lia querer &ldquo;proteger demais&rdquo; os mais velhos e limitar as suas escolhas e desejos - um grande erro. &ldquo;A fam&iacute;lia precisa entender a diferen&ccedil;a entre proteger e tirar a autonomia daquele idoso. Em uma pessoa de maior idade, ainda existem desejos, vontades, sonhos&hellip;. ent&atilde;o, o que for poss&iacute;vel, precisa ainda ser feito e vivido por essa pessoa. A fam&iacute;lia e o Estado s&atilde;o membros fundamentais no processo de dar oportunidade para continuar essa vida&rdquo;.

<center>p style=&quot;text-align: justify;&quot;&gt;<img alt="Solange Alfano e a neta, Maria Eduarda Alfano" src="https://storage.googleapis.com/aratu-backend/fotos/aratu_noticias/95928/mg/IMG_8239..jpg" style="width: 600px; height: 800px;" /></center>

E, na vida de Solange, o que n&atilde;o falta &eacute; incentivo. Como conta Maria Eduarda, a av&oacute;, que todo dia descobre como o mundo pode ser bonito, &eacute; uma &ldquo;caixinha de surpresas&rdquo;, um exemplo do que ela quer ser na velhice.

&ldquo;Minha av&oacute; &eacute; uma caixinha de surpresas, eu nunca sei qual vai ser o pr&oacute;ximo passo dela. Hoje em dia, eu vejo a trajet&oacute;ria dela de maneira muito bonita. Tenho muito orgulho de quem a minha av&oacute; se tornou e ainda se torna, porque, a cada dia, ela me traz uma novidade. Ela &eacute; tudo o que eu planejo ser. Ela &eacute; o sol da minha vida&rdquo;.

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