'Transexual não tem direito a viver?', questiona pai de vítima de agressão

Pai de mulher trans que morreu dias após agressão

Por Juana Castro.

“Será que uma transexual não tem direito a viver?”. Essa foi a pergunta de Edson Alves Pereira, pai de Alice Martins Alves, de 33 anos, durante o velório da filha, na segunda-feira (10). Ela foi agredida na região da Savassi, em Belo Horizonte (MG), em 23 de outubro, e morreu no último domingo (9), após dias internada.

Em entrevista à imprensa local, Edson falou que morava com Alice e relatou uma convivência próxima e afetuosa com a filha. “Perdi uma grande amiga, parceira, minha companheira de assistir filmes e tomar uma cervejinha em casa”, contou.

 

 

Segundo Edson, Alice estava em um restaurante na Rua Sergipe, na Savassi, quando atravessou em direção à Avenida Getúlio Vargas. “Três caras estavam esperando por ela. Agrediram violentamente. Quebrou o nariz, várias costelas, e parece que pisaram nas pernas dela, que ficaram roxas. Foi socorrida pelo Samu, não fizeram exames como radiografia ou tomografia. Ela foi encaminhada para a UPA Centro-Sul e em seguida chamou um Uber e foi para casa”, relatou o pai.

Durante a madrugada, ele foi ao quarto da filha e ouviu dela: “Pai, olha o que fizeram comigo”. Edson disse que tentou conseguir imagens de câmeras de segurança no local, mas não obteve retorno. “Depois que ela voltou para casa foi só luta. Ela começou a vomitar, não conseguia se alimentar, perdeu 13 quilos. Estava muito fraca e com muita dor”, afirmou.

Ao jornal Estado de Minas, Edson contou que Alice era vaidosa e gostava de se maquiar e sair sozinha. “Ela deitava no meu colo, eu fazia carinho na cabeça dela e toda hora ela falava: ‘pai, eu te amo’.” O pai também relatou que a filha frequentava com frequência a região da Savassi, especialmente o restaurante Rei do Pastel, e que, dias antes do ataque, havia demonstrado receio de sair de casa. “Há uns três meses ela falava: ‘ah pai, não vou sair, estou com medo’. Insisti para que ela saísse um pouco, já estava muito tempo só em casa, e acontece uma coisa dessas”, lamentou.

'Que ódio é esse?', questiona pai da vítima

Em entrevista à imprensa, Edson destacou que a relação com a filha foi marcada por aprendizado e aceitação. “No princípio tem um machismo, no qual fomos educados. Mas desde pequena ela já demonstrava essa tendência. Fui mudando o coração e aceitei. Ela é uma mulher trans”, disse. “Deixei de viver a minha vida para acompanhar a minha filha. Já enfrentei pessoas que questionavam ela usar o banheiro feminino. Que ódio é esse? Tem que respeitar, não existe tratamento. Eles têm direito de viver.”

Edson Alves, pai de Alice, mulher trans morta após agressão em BH

O crime

De acordo com o boletim de ocorrência registrado pela própria vítima em 5 de novembro, o ataque aconteceu na madrugada de 23 de outubro. Alice foi abordada por um homem acompanhado de dois outros que riam e zombavam durante a agressão. O agressor foi descrito como alto, branco, de cabelos castanhos escuros ou pretos, vestindo calça jeans e blusa preta. A vítima afirmou não conhecê-lo e disse que o ataque foi inesperado e sem motivo aparente.

Após o espancamento, Alice foi socorrida pelo Samu e levada à UPA Centro-Sul. Dias depois, exames realizados no Pronto Atendimento da Unimed Contagem revelaram fraturas nas costelas, cortes no nariz e desvio de septo. Segundo o pai, ela seguia debilitada e com fortes dores abdominais.

No sábado (8), médicos diagnosticaram uma perfuração no intestino, possivelmente causada por uma das costelas quebradas ou agravada pelo uso de anti-inflamatórios após a agressão. Alice passou por uma cirurgia de emergência, mas não resistiu à infecção generalizada.

A Polícia Civil de Minas Gerais investiga o caso como possível crime de ódio motivado por transfobia.

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