Hilton Coelho: Dom Quixote ou o radical anti-democracia?
O único adversário de Adolfo Menezes na Alba deu uma declaração ao Linha de Frente da Antena 1 que irritou demais os pares
Por Pablo Reis.
Uma maioria absoluta, em regime democrático, pode estar errada? E se essa maioria for composta só de legisladores e seja acusada justamente de agir contra a lei? Esse seria um dos possíveis resumos sobre a questão envolvendo o terceiro mandato consecutivo de Adolfo Menezes como presidente da Assembleia Legislativa da Bahia.
O deputado Hilton Coelho, do PSOL, não se incomoda em ser identificado como o parlamentar que “derrubou” Adolfo Menezes da cadeira de principal mandatário da Alba, onde sentaria pelo terceiro mandato consecutivo. Desde segunda (3), no momento da votação em plenário, ele já avisava que iria apelar ao Supremo Tribunal Federal, contra a eleição acachapante do colega do PSD. Adolfo só não teve o voto do próprio Hilton e do deputado Matheus Ferreira (MDB), que estava ausente.
A decisão liminar de Gilmar Mendes, reconhecendo o instrumento chamado “reclamação constitucional” foi surpreendente não pelo teor, mas pelo tempo. Nem Adolfo, nem Hilton, ou qualquer um dos outros 61 deputados, esperavam uma reviravolta em uma semana.
Logo que tomou conhecimento do documento assinado por Gilmar Mendes, Adolfo Menezes não escondeu a irritação. “O deputado Hilton Coelho, que só teve o voto dele, é o tipo de política que eles fazem, com radicalismo”.
A declaração de Adolfo Menezes, presidente afastado da Assembleia Legislativa da Bahia, por liminar do ministro Gilmar Mendes, do STF. "É o tipo de política que eles fazem, com radicalismo", disse Menezes, referindo-se ao deputado Hilton Coelho (PSOL), autor da reclamação ao STF pic.twitter.com/pJYD2rSXuI
— Pablo Reis (@opabloreis) February 11, 2025
Ao se tornar candidato de si mesmo, Coelho não surpreendeu. Ao levar às últimas consequências, desafiando mais do que o presidente, o próprio colegiado, o psolista colocou a própria sobrevivência política na Alba em risco. Fez um aceno ao público e não ficou bem com os colegas de palco do que eu vou chamar de “sindicato dos deputados”.
“Eu acredito que nós somos tão radicais quanto a interpretação de que nesse país a gente não pode ter pessoas que se estabeleçam no poder e fiquem definitivamente. Era isso que estava prestes a acontecer na assembleia legislativa, mergulhada numa irregularidade flagrante”, foi uma das declarações do parlamentar, ao programa Linha de Frente da Antena 1 Salvador (100.1 FM), minutos depois do anúncio, no início da noite de segunda (10).
Se a medida desagradou os pares, ela já era aguardada, mais dia, menos dia. Só que uma declaração revoltou boa parte dos deputados ouvidos por esta coluna. Logo depois de falar sobre direitos de trabalhadores, segurança pública e reforma da previdência, Hilton procurou concluir com uma frase polêmica.
“Agora a Assembleia Legislativa tem oportunidade de tentar se reerguer desse vexame, tem oportunidade de ter vergonha na cara. E refazer o processo eleitoral de maneira democrática.”
Na obra de Miguel de Cervantes, de 1605, Dom Quixote sai numa jornada quase solitária (acompanhado de um cavalo velho e magro do camponês Sancho Pança) e luta contra feiticeiros, monstros e seres fantásticos. Em determinado momento, ataca gigantes com uma lança, mas eles são moinhos de vento, cujas pás o derrubam insistente e facilmente.
Para muitos deputados, a saga de Hilton é quixotesca.