Bolsonaro discursa na Cúpula do Clima e pede "justa remuneração" por "serviços ambientais" prestados pelo Brasil
Alguns dados citados pelo presidente, entretanto, estavam incorretos ou incompletos, de acordo com agências de checagem.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou nesta quinta-feira (22/4) da Cúpula do Clima, evento virtual organizado pelo Governo dos Estados dos Unidos e que reune chefes de 40 países. Bolsonaro participou por videoconferência, do Palácio do Planalto.
Em seu discurso, o presidente disse que o Brasil se compromete a zerar até 2030 o desmatamento ilegal; reduzir as emissões de gases; buscar "neutralidade climática" até 2050, antecipando em dez anos o prazo anterior; e "fortalecer" os órgãos ambientais, "duplicando" recursos para fiscalização.
"Há que se reconhecer que será uma tarefa complexa. Medidas de comando e controle são parte da resposta. Apesar das limitações orçamentárias do Governo, determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais, duplicando os recursos destinados às ações de fiscalização. Mas é preciso fazer mais. [...] A solução desse 'paradoxo amazônico' é condição essencial para o desenvolvimento sustentável da região", disse ele.
Para resolver esses problemas da região amazônica, Bolsonaro pediu ajuda de outros países. "Diante da magnitude dos obstáculos, inclusive financeiros, é fundamental poder contar com a contribuição de países, empresas, entidades e pessoas dispostos a atuar de maneira imediata, real e construtiva na solução desses problemas", solicitou.
Ele falou sobre uma "justa remuneração" ao Brasil pela "conservação". "Da mesma forma, é preciso haver justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta, como forma de reconhecer o caráter econômico das atividades de conservação. Estamos, reitero, abertos à cooperação internacional", completou.
DADOS INCORRETOS
Alguns dados citados pelo presidente, entretanto, estavam incorretos ou incompletos. A perspectiva de neutralizar as emissões de gás carbônico até 2050 é bem menor do que outros países se propuseram a fazer. Neutralizar significa equiparar o lançamento de gás carbônico com o que é captado, mas diversas nações se propuseram a zerar as emissões em menos tempo.
Segundo o Estadão, em 2019, 15 nações tinham se comprometido a zerar emissões até 2050. A Suécia colocou o objetivo de neutralidade até 2045 e na Noruega a meta é zerar emissões até 2030. Butão e Suriname já têm emissões negativas.
Até 2050, data cidata por Bolsonaor, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assumiu o compromisso de carbono zero. O americano disse que a meta é cortar as emissões pela metade até 2030.
Um dos pontos mais discutidos e que não foi citado por Bolsonaro é o de o Brasil é o 3º maior consumidor de pesticidas em volume absoluto, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Além disso, o Brasil é o 7º maior poluidor dentre todas as nações. A atividade agropecuária é a maior fonte de gases do efeito estufa no Brasil, respondendo por 25% das emissões do País em 2018. Somando-se as emissões decorrentes do desmatamento (44%), por meio do qual muitas áreas se tornam pastos ou áreas para agricultura, a atividade agrícola responde por 69% de todas as emissões de gases do efeito estufa do País.
"Temos orgulho de conservar 84% de nosso bioma amazônico e 12% da água doce da terra”, disse Bolsoanro. Segundo o Estadão Verifica, este número é exagerado, pois no ano passado, estima-se que 20% dessa área já tenha sofrido algum nível de degradação por fogo ou exploração madeireira. O presidente ainda ignorou em seu discurso o fato de o Brasil ser o campeão em perda de florestas no mundo.
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