Saúde

Mães na Pandemia: produtora conta desafios da maternidade durante período de distanciamento social

Mães na Pandemia: produtora conta desafios da maternidade durante período de distanciamento social

Por Juana Castro

Mães na Pandemia: produtora conta desafios da maternidade durante período de distanciamento socialarte/Vivian Alecy/Aratu On

Planos alterados, incertezas e novas perspectivas. Desde que decretada a pandemia do novo coronavírus, pessoas no mundo todo precisaram lidar com uma série de desafios, e o “novo normal” afetou a vida de milhões delas, independentemente de terem sido, ou não, contaminadas.


Pensando nisso, decidimos contar, nesta semana, três histórias de mulheres que, de alguma forma, tiveram suas rotinas - e até angústias - modificadas pelo atual cenário, e como elas têm feito para seguir em meio às mudanças.


Nesta quarta-feira (21/10), você vai conhecer a história de Ana, que deu à luz seu primeiro filho durante o período de medidas restritivas e distanciamento social.


Boa leitura!


***

"Como é que eu vou parir em meio à uma pandemia?"


Essa não foi a primeira preocupação da produtora de eventos e arte-educadora Ana Negreiros, 30, quando descobriu que estava grávida do primeiro filho. Mas passou a ser uma questão recorrente a partir de março, no segundo trimestre de gestação, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou pandemia de Covid-19.


Além de receios comuns na vida de uma gestante, como a saúde do filho e possíveis riscos da gravidez, havia, agora, mais dúvidas a respeito de uma doença nova e a busca por informação, prevenção, contágio e cura.


“Mais medo. Um vírus que ninguém sabia como lidar, com uma restrição muito severa”, relata Ana. “Diziam ‘fique em casa’, mas não explicavam a gravidade, o nível, e o vírus foi ficando. Um mês, dois meses… ‘e aí, como vai funcionar o sistema de saúde?’; ‘como eu vou parir em meio à uma pandemia?’”.


Nos meses que antecederam a chegada da criança, Ana precisou, então, mudar alguns planos. Sem chá de fraldas. Enxoval? “A sorte é que morava em São Marcos, onde tem muitas lojas de bebê. Escolhi algumas coisas, pelo Instagram, e só fui à loja para buscá-las. Em dois dias resolvi tudo”. Segundo ela, por um lado foi bom, pois só comprou o que realmente precisava e conseguiu economizar.


Além disso, o parto humanizado, que tanto sonhou, não saiu exatamente como o imaginado, e apenas ela e o marido puderam ir ao Centro de Parto Humanizado Mansão do Caminho. No dia 16 de junho de 2020, Airon Landê veio ao mundo. Saudável e forte. 


QUESTÃO FINANCEIRA


Em meio ao turbilhão de novidades da mamãe de primeira viagem, outras preocupações foram surgindo, ainda na gravidez. Como dito no início da matéria, Ana é produtora de eventos, e o marido trabalha em um restaurante, dois dos setores mais afetados pelas restrições impostas pela pandemia. 


Ele, inclusive, sem conseguir faturar bem em Salvador, foi trabalhar na Praia do Forte, em Mata de São João. Volta para casa a cada 15 dias e, na maior parte do tempo, Ana fica com a mãe, que “se mudou” para o lar do casal, no Jardim Santo Inácio, na capital baiana. “Ela veio em momento propício, para me ajudar com o bebê”, conta a produtora.


“Logo no começo, houve dificuldade financeira. Não consegui receber auxílio, por alguns motivos, e aí a gente recebeu ajuda de algumas pessoas. A Lei Aldir Blanc [que garante ações emergenciais ao setor cultural durante a pandemia] veio só agora. Até então, as pessoas comiam o quê?”, questiona.


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Com esses desafios, Ana precisou se reinventar, mas garante que isso não foi novidade para ela, “pela questão da negritude, mesmo”. 


“Empreendedorismo não é uma coisa nova. A sua mãe empreende quando está na cozinha, quando olha para a geladeira e fala ‘não tem nada pra comer’, e aí junta o que tem, joga na panela… é uma forma de empreender”, reflete. “Do limão a gente faz uma limonada e outras coisas, como uma torta ou um drink. Para saciar a nossa fome, a gente não pode ter vergonha”, completa.


Então quando Ana, que faz recitais poéticos e oficinas pela própria loja (Cantinho da Pretah), de acessórios afro, separou “algumas batas para montar uma arara bem colorida” e percebeu que não podia mais expor seus itens, recorreu à tecnologia: “Fiz o quê? Um saldão pela internet! Consegui vender 70% dos produtos!”.


TECNOLOGIA E GRUPO DE APOIO


A empreendedora reconhece, porém, que nem todo mundo tem essa facilidade de mexer nas redes sociais, mas encontrou uma verdadeira aliada nessas plataformas, e não só para os negócios. 


“Tenho grupos no WhatsApp, de mães pretas, onde a gente troca informação sobre maternidade, fraldas, puerpério e a pandemia, também”, afirma. Por lá, inclusive, consegue ajudar outras mulheres, doando roupas que o filho não usa mais, porque está crescendo, por exemplo. 


Para dar uma aliviada “no mental”, como diz, as redes sociais aparecem novamente, nos atos de ver e seguir páginas e personalidades que a animam, como o pintor Zaca Oliveira e o escritor Alex Simões, ambos baianos, que “sempre têm relatos divertidos do cotidiano”.


FUTURO 


Aos poucos, a situação atípica provocada pelo coronavírus parece dar “trégua”. “O cenário geral já foi mais desesperador”, analisa Ana, considerando os testes de vacinas e a possibilidade de sair um pouco mais de casa, “com controle”.


Contudo, nem isso a isenta de angústias. “Fico pensando muito em escola. Airon, que nasceu agora, vai entender, mas e as outras crianças? Como eu vou falar que não pode abraçar? É nosso; é instintivo”, pontua.


Ela conta, ainda, que quando faz alguma entrega de seus produtos para algum amigo, por exemplo, tem vontade de abraçar, mas fala: “vamos fazer o símbolo de Wakanda [referência ao filme Pantera Negra] que a gente se sente abraçado”. 


“São muitas questões, mas a gente vai aprendendo a mediar. É preciso reaprender a viver”.



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