Entrevista: Tierry fala sobre polêmica com música "Cracudo"; "coração de pedra não se vende em boca"
Entrevista: Tierry fala sobre polêmica com música "Cracudo"; "coração de pedra não se vende em boca"
"Se eu virar 'cracudo' [...]". Certamente você já deve ter escutado este refrão na rádio ou até mesmo no YouTube. Ele foi criado pelo cantor e compositor Tierry. Basicamente, o personagem está mal depois que a pessoa amada se foi. O hit foi lançado em novembro e o videoclipe oficial saiu há cerca de duas semanas, batento um bom número de 2,5 milhões de visualizações. Fez sucesso também nas rádios.
Só que a letra deu polêmica. Especialistas dizem que é um claro estímulo ao uso de drogas, afinal se o rapaz virar "'cracudo' [vai] fumar esse 'seu' coração de pedra nem que venda tudo". Um dos críticos é o produtor musical Jesus Medrado. "O termo 'cracudo' não parece estar disposto de forma pejorativa, mas talvez tenha caído como “uma grande piada de mal gosto”, relatou durante entrevista ao Aratu On.
Medrado ainda fez uma breve volta histórica sobre o uso da droga no Brasil. "O crack veio com intuito do extermínio da população preta e pobre no país. Romantizar isso é péssimo". "[Os males do crack] são quase que irreversíveis para os seres humanos. Assim como a depressão, pois quando ele afirma que está 'dentro do poço' é claramente alguém que está precisando de ajuda", acrescentou.
A opinião é reforçada pelo bacharel em Direito, músico e compositor Peu Alves. "O que tem que ser incentivada é a construção da relação sendo os dois envolvidos, dois inteiros, que juntos decidiram caminhar nesta vida. Caso uma das partes não queira mais, por mais doloroso que seja, há de ser incentivado que siga sua vida. Já era um inteiro antes desta chegar, e assim será caso a outra parte partir".
"Existe muita gente no Planeta Terra realmente engajada na melhora do ser-humano, trazendo diversas formas da pessoa se curar, ser uma pessoa melhor. A sensação que é trazida ao ouvir a canção 'Cracudo' é de que não devemos alimentar ninguém a chegar no fundo do poço, ainda que de brincadeira, devemos focar na evolução do ser-humano, e não corroborar com pensamentos de fracasso", argumentou.
A equipe do Aratu On ouviu também o próprio Tierry para saber como foi o processo de composição. Ele abriu o jogo sobre as críticas. Confira:
Aratu On: qual foi sua inspiração?
Tierry: Vi um meme na internet, mais precisamente no Instagram Poesia Urbana. Nele as pessoas escrevem frases nas cadeiras dos ônibus. A minha produção costuma ler muito na internet, analisar as composições de sucesso e ver o que o povo fala e expressa nas redes sociais. E aí surgiu a ideia de falar com essas pessoas que tem relacionamentos onde querem o outro, mas o outro não quer a gente, por exemplo. Queria fazer algo que fosse o ápice da sofrência, dizer para essas pessoas o que ninguém disse, algo inédito, profundo e poético.
AON: Qual a ideia que você quer levar para música?
T: Justamente um relacionamento que não deu certo, a dificuldade de perdoar e dar oportunidde para o outro. As pessoas costumam se identificar com "Se eu virar cracudo, vou fumar esse seu coração de pedra nem que eu venda tudo. Se eu virar manguaça, eu vou pegar esse seu coração de gel e tomar com cachaça".
AON: A música possui alguma crítica social?
T: Meu clube tem uma campanha muito grande, todo mundo fala do álcool, craque, maconha e existe a questão importante contra o suicídio e deixamos isso claro no final do vídeo - "Nada vence o amor próprio, ligue 188", número do Centro de Valorização a vida -. Passamos por momentos difíceis na vida, como eu passei com o meu filho [Adriel, de 4 anos] e me apeguei a Deus sem precisar entrar em uma depressão. Por isso fazemos a campanha contra a depressão, ninguém nessa vida vale destruir a vida da gente.
AON: Qual o retorno que você está obtendo nos shows?
T: Atualmente eu sou o artista mais tocado na Bahia depois de Léo Santana, inclusive hoje a canção [Cracudo] é mais pedida na Piatã FM, rádio número um da Bahia. Isso é um fenômeno e fico feliz com o meu público, eles sabem que se trata de uma poesia inteligente e devo isso a internet, que tornou tudo mais democrático. Sabemos que a sociedade é conservadora, algumas pessoas procuram coisa, mas é uma poesia inteligente de bom gosto. Vários hits têm polêmica, inclusive o meu, o que é bom (risos).
AON: Críticos falam sobre uma possível associação ao uso do crack, o que voce diz sobre isso?
T: Nunca foi relacionado a isso. Usuário de craque é craqueiro e cracudo é uma forma poética para falar de pessoas que gostam de outras e não são correspondidas. Amo alguém, mas a pessoa não me ama por ter um coração de pedra assim como coração de gelo, tudo são metáforas que usamos. Vivemos em um país demorático e sem censura, por isso utilizamos da licença poética para falar sobre qualquer assunto.
AON: Conversamos com alguns críticos que falaram que a letra da música pode ser vista como uma piada de mal gosto, já que fala de uma certa forma sobre o uso do crack. Quando você fala que está dentro do poço, de acordo com eles, isso aumenta essa visão de dependência. Como você responde?
T: Não se vende coração de pedra em nenhuma boca, continuo a dizer que precisamos ver o lado bonito da metáfora. Toda boa música de 'sofrência' vai falar da depressão. Estou falando de relacionamento e que bom que as pessoas entendem isso e respeito a opinião do crítico, mas acredito na opinião do povo que está comigo. E realmente acho que eles [os críticos] não têm o que criticar.
*Sob supervisão do editor, Jean Mendes
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