ÚLTIMO LANCE: "Pode ter evitado algo maior", diz Nonato sobre gol perdido dez anos após tragédia
ÚLTIMO LANCE: “Pode ter evitado algo maior”, diz Nonato sobre gol perdido dez anos após tragédia
O Aratu Online iniciou na última quinta-feira (16/11) uma série especial sobre os dez anos da tragédia na Fonte Nova, que resultou na morte de sete pessoas, no dia 25 de novembro de 2007. Na época, Bahia e Vila Nova-Go estavam na terceira divisão do Campeonato Brasileiro. Em campo, o empate sem gols entre as duas equipes garantia a baianos e goianos o acesso à Série B.
Aos 35 minutos do segundo tempo, a tragédia.
Parte do piso da arquibancada no anel superior do estádio desaba e dezenas de torcedores caem de uma altura de 15 metros, o equivalente a um prédio de cinco andares. Alguns, pelo lado de dentro do estádio. O restante, na parte externa. Destes, um ficou gravemente ferido e outros sete morreram.
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Márcia Santos Cruz, 27 anos; Jadson Celestino Araújo Silva, 25 anos; Milena Vasquez Palmeira, 27 anos; Djalma Lima Santos, 31 anos; Anísio Marques Neto, 27 anos; Midiã Andrade Santos, 24 anos, e Joselito Lima Jr, 26 anos, saíram de suas casas para ver o Bahia e não retornaram.
Nesta quarta – e última – matéria do especial Último Lance, conversamos com o ex-jogador do Bahia, Raimundo Nonato de Lima Ribeiro, mais conhecido como Nonato, atualmente com 38 anos, um dos protagonistas da fatídica partida.
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“De certa forma, fizemos parte de tudo isso”
Boa leitura!
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Nonato era ainda um aspirante a jogador de futebol, aos 16 anos, quando deixou o time paraense Tuna Luso para tentar a sorte no Esporte Clube Bahia. Deu certo. Ali, o garoto do pequeno município de Viseu, no Estado do Pará, passou da equipe de base para a principal e foi revelado para todo o Brasil.
Anos mais tarde, após um período difícil para o time, na terceira divisão do Campeonato Brasileiro, a partida contra o Vila Nova-Go poderia, enfim, devolver a alegria dos torcedores. O artilheiro Nonato, então com 28 anos, foi um dos principais nomes daquele jogo, pois perdeu um penalti ainda no primeiro tempo, para desespero da torcida.
Assista abaixo:
“Na hora fiquei triste, mas depois imaginei, sim, que isso pode ter evitado uma tragédia maior”, confessa. É que, para muitos, se o jogador tivesse feito aquele gol, a arquibancada poderia não ter suportado, logo no início, o provável agito da torcida – o que de fato aconteceu, na segunda parte do jogo, em meio à comemoração pelo acesso à série B -.
A disputa acabou e os fãs invadiram o campo, em festa. Algumas pessoas até levaram pedaços do gramado para casa. Contudo, o elenco do Bahia, assim como muitos torcedores, só tomou conhecimento do acidente algum tempo depois do ocorrido.
Ainda que passados dez anos, a memória parece recente para Nonato. “Lembro-me como se fosse hoje. Todo mundo invadindo o campo, comemorando o acesso… Descemos para o vestiário gritando e pulando. De repente, chegou alguém e contou, mas não sabíamos da gravidade”, conta.
“Tomamos banho para ir embora, mas não conseguíamos sair, pois estava cheio de carros da polícia, ambulâncias, e não tinha jeito de sair do vestiário. Esperamos por aproximadamente duas horas”, relembra. O próprio jogador teve que sair no veículo de um policial e só teve noção da proporção do acontecido – e das sete mortes – no dia seguinte, ao ver os noticiários.
“Todo mundo ficou triste por estar ali comemorando com seu time, ver o acesso do clube (que estava passando por um momento muito difícil) e, de repente, acontece uma coisa dessa”, reflete.
Apesar da dor, Nonato acredita que tudo na vida “tem um propósito”. “De certa forma, fizemos parte de tudo isso, então desejo força e fé para os familiares das vítimas. Aos que sobreviveram, torço para que deem valor à vida”, conclui Nonato.
Pós-tragédia
O dia 25 de novembro de 2007 também ficou datado na história de Nonato por ter marcado seu último jogo pelo Bahia. Logo depois, aceitou uma proposta para jogar no Japão, em 2008, e retornou ao Brasil no final desse mesmo ano, para integrar a equipe do Atlético-Go. Passou por outros times e está, atualmente, no Abecat [Associação Beneficente e Esportiva Catalana], de Goiás, que disputa seu primeiro ano profissional na terceira divisão do Campeonato Brasileiro.
No Estado, vive com a esposa e o filho mais novo, de sete anos. Além desse, tem mais três, de 19, 15 e 14 anos, que volta e meia falam sobre a tragédia na Fonte. “Os mais velhos comentam, porque eles vão para a escola, alguns lugares e as pessoas sabem que eles são meus filhos, então a gente sempre conversa sobre isso”, diz.
Questionado se pensa em encerrar a carreira, aos 38 anos, ele nega. “Até porque, esse ano, joguei as três divisões aqui em Goiás e fiz 28 gols, no total”, fala orgulhoso. Com esse saldo, ostenta a vice-liderança da artilharia nacional, atrás apenas de Henrique Dourado, do Fluminense.
Justiça
Ocupando o cargo mais alto da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), na época, o eterno ídolo da nação tricolor, Raimundo Nonato Tavares da Silva, o Bobô, foi acusado formalmente pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) de homicídio culposo, mas absolvido, posteriormente.
No primeiro julgamento do caso, em 2009, juiz substituto da 8ª Vara Criminal, José Reginaldo Nogueira, entendeu que não havia provas suficientes para condenar os réus, apesar de o laudo produzido pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) ter apontado falhas estruturais no antigo estádio.
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*Publicada originalmente às 8h (19/11)