Traficante impõe “silêncio” na Vila Moisés após doze mortes em operação da PM
Traficante impõe “silêncio” na Vila Moisés após doze mortes em operação da PM
A operação da Polícia Militar que resultou na morte de 12 pessoas no bairro do Cabula, em Salvador, ainda é motivo de polêmica e discussão. Quase vinte dias se passaram e o caso continua sem uma explicação plausível, já que familiares das supostas vítimas afirmam que elas não tinham envolvimento com o crime e, inclusive, há a confirmação de que nove delas não possuíam antecedentes criminais.
De acordo com o Capitão Bruno Ramos, do Departamento de Comunicação Social da PM-BA, a situação, no entanto, não exime os envolvidos da culpa. “Não precisa ter passagem pela polícia para se cometer crime. De acordo com nossos policiais, eles foram recebidos a tiros e por isso reagiram. Não há nada que desabone, até então, a conduta dos PMs”, considera o oficial.
A operação está sendo investigada pelo Ministério Público, através de seis promotores de justiça. Um deles, Davi Gallo, foi a campo apurar os fatos e se surpreendeu com o que encontrou na Vila Moisés, localidade onde aconteceu a operação. ?É uma comunidade liderada por um traficante violento. Ele manda ali com mãos de ferro. Cheguei no fim da tarde na Vila e era uma Vila fantasma. Não tinha ninguém?, relatou, acrescentando que os poucos que ali estavam não comentavam o assunto.
O promotor disse, ainda, que lá existe uma praça onde há três chuveirões de alumínio, colocados pelo traficante, um local em que são promovidos churrascos por ele. Gallo declarou ter se sentido envergonhado diante do que viu. “Na Vila Moisés a Lei que rege os moradores é a do tráfico e não a do Estado, a do código penal. O traficante implantou o toque do silêncio. Ninguém pode comentar o que aconteceu ali na madrugada do dia 06 de fevereiro”, afirmou, surpreso com a existência de uma comunidade refém do medo em Salvador.
Segundo Davi Gallo, é cedo para avaliar o que pode ter acontecido naquele dia. “Estamos aguardando laudos de pericias e eles demoram. Solicitamos perícias das mãos das vitimas, dos policiais e outros laudos. Temos duas versões: a da polícia, que todos já conhecem e de pouquíssimas pessoas, parentes das vítimas, que sequer viram o que realmente aconteceu, muitas nem moram no local e a maioria afirmou não ter visto e sim ouvido falar?, disse.
Entre os familiares que choram pelos seus mortos está Marina Lima, a avó de Natanael um adolescente de 17 anos. ?Ele estava com bermuda azul, de brim, e uma etiqueta escrito Mido. Estava de costas e parecia meio jogado entre a dezena de corpos que se espalhavam pela foto?. Foi essa a visão que lhe fez ter certeza que o jovem era um dos doze mortos, já que ela mesma tinha costurado a etiqueta na bermuda, conforme relatou. Ela disse que se não tivesse sido executado com uns nove tiros, estaria, no dia anterior dando entrada na documentação para ser menor aprendiz.
A informação oficial da PM dá conta de que, no dia da ação, policias da Rondesp teriam percebido a presença de cerca de 30 homens armados, alguns com uniformes semelhantes ao do Exército e carregando mochilas, na localidade. Ao tentar abordar o grupo que pretendia arrombar uma agência da Caixa Econômica Federal, os policiais teriam sido recebidos a tiros.
De acordo com o promotor, até a próxima semana, uma reconstituição do fato vai acontecer na Vila Moisés. Assista a uma cobertura deste caso, logo mais no programa “Que Venha o Povo” da TV Aratu.