De tradição histórica a caráter social, mito do Rei Momo segue vivo no Carnaval de Salvador
Entre polêmicas e momentos de renovação, principal figura do Carnaval segue viva e movimenta a folia para além da data oficial
Bruno Concha/Secom PMS
Uma das tradições mais longevas da história dos carnavais, o Rei Momo segue vivo e imponente no Carnaval de Salvador. É certo os dias atuais não chegam as glórias passadas que fizeram da figura um dos principais símbolos da festividade de rua. Entretanto, o personagem segue relevante e com roupagens que se adaptam aos novos tempos da sociedade e da própria folia.
Com referência ao deus grego da zombaria, o Rei Momo passou a ser uma figura tradicional dos carnavais sul-americanos desde o século XIX. Na ocasião,o personagem simboliza a entidade que autoriza a “desordem” típica do carnaval, recebendo do prefeito as chaves simbólicas da cidade.
Em 1959, Salvador teve o seu primeiro Rei Momo e este foi o mais longevo regente carnavalesco da capital baiana. Na época, o concurso foi patrocinado pela rádio Excelsior e o funcionário público Milton Ferreira da Silva, o Ferreirinha, não só recebeu a coroa como afirmou que passaria apenas ao seu filho após sua morte.
Isto aconteceu até 1988, quando Ferreirinha faleceu e o seu filho, Ferreira Filho, o substituiu por apenas um ano. Em 1990, foi iniciado um concurso anual pela Federação das Entidades Carnavalescas e Culturais da Bahia, que passou a repassar o título ao vencedor de cada edição da competição.
“A partir daí, a Federação assumiu e começou a fazer o concurso. E na verdade foi aí que se passou na verdade a se ter um concurso para se ter o Rei Momo”, afirma Reginaldo Santos, coordenador e homenageado na atual edição do Rei Momo 2024.
Membro do Conselho Municipal do Carnaval de Salvador (Comcar), "Reginaldo do Carnaval" sempre teve uma relação de proximidade com o concurso e colabora até hoje com a realização, modernizando a imagem simbólica da figura festiva. O próprio dirigente, inclusive, participou ativamente de um movimento de revitalização que rendeu muita polêmica.
"Eu era presidente do conselho em 2008 e em um determinado momento a Federação chegou até mim e disse que não tinha apoio financeiro para manter o concurso. Eu propus de fazermos então, uma analise curricular para eleger o Rei. Até porque, naquela época, ninguém queria saber mais quem era o Rei Momo".
Na época, em 2008, a escolha de Clarindo Silva fez com que candidatos reclamassem da escolha por conta da fisionomia distinta do eleito em relação a figura habitual do Rei Momo. Segundo Reginaldo, o processo de renovação não só deu visibilidade como adaptou o concurso aos novos tempos.
"Começamos a buscar um notório e fizemos com Clarindo. Quisemos quebrar os paradigmas de que não tem essa questão de cor, de raça e nem de gordura. Quisemos quebrar logo esse tabu e veio toda essa polêmica. Mas isso foi bom para mostrar o valor do Rei Momo e que ele tem que existir no carnaval", completou.
A mudança surtiu efeito e deu novo gás ao título. Depois de outros notáveis como Gerônimo e Pepeu Gomes, o desafio do Rei voltou a ser disputado e agora estava atrelado as mudanças ocorridas na sociedade baiana e brasileira. Dentre uma das principais características dos atuais "reinados" está o forte apoio a participação em campanhas sociais, fruto de uma decisão tomada pelo organizador juntamente aos candidatos.
"Hoje, a comissão do Rei Momo é formada pelos próprios candidatos. Eles que decidem como acontece o concurso, discutem o regulamento e tudo é feito em conjunto. Hoje eles decidiram, por exemplo, que cada candidato tem 100 convites que são transformados em alimentos. E isso é uma meta que se ele cumprir, ganha cinco pontos da coordenação. Não é competição pra ver quem traz mais ou mais rápido, é meta", enfatizou Reginaldo.
Além da doação de alimentos, outra participação do Rei Momo é em relação a doação de sangue. Na véspera da folia, cada candidato se torna um captador de doadores e ajuda na campanha para aumentar o banco de sangue do Hemoba. Em 2023, esta parceria rendeu 948 novos doadores, captados antes, durante e depois da festa carnavalesca.
"É um momento importantíssimo de solidariedade. O Rei Momo não é somente festa, mas sim solidário. E juntamente com os guardiões e todos os outros candidatos que participaram do concurso do Rei Momo no carnaval de Salvador, é um momento importante que a gente está muito feliz em poder ajudar e contribuir para o bem do próximo" afirma Alan Nery, eleito como Momo do Carnaval de Salvador em 2024. Além das doações, tanto ele como os guardiões (posto determinado ao segundo e terceiro colocado do concurso), também participaram de doações para instituições e hospitais como o Martagão Gesteira, o Aristides Maltez e as Obras Sociais Irmã Dulce.
Mas o que faz uma pessoa hoje se candidatar ao cargo de Rei Momo? É só pelo quesito da diversão ou pelo valor da premiação que é dado ao vencedor do cargo? Hoje, a premiação de 10 mil reais enche os olhos de espectadores e curiosos sobre o assunto. Mas, segundo Reginaldo, o valor monetário é irrisório em relação ao investimento que cada candidato investe para se tornar o governante da folia soteropolitana.
"Em relação ao investimento que cada candidato faz para se tornar Rei Momo, é muito pouco. Eles não entram no concurso por conta do prêmio, pois gastam muito mais para custear as vestimentas e a coroa. Se for pensar isso como forma de remunerar e de custear, o cara tem que fazer um absurdo, é muito caro aquela roupa e ainda toda agenda de carnaval louca de subir e descer a cidade todos os dias. Você tem compromisso e para cumprir o compromisso, eu acho que é pouco isso", finaliza Reginaldo
Para a disputa do Rei Momo desse ano, oito candidatos concorreram para mostrar quem mereceria o título de chefe da folia. E pela quarta vez, segunda consecutiva, Alan Nery levou o título. Novidade em edições passadas e retornando este ano, dois outros candidatos levaram os títulos de guardiões, que acompanham o Rei durante a festa na capital baiana.
“Estou bastante feliz e prometo um reinado de muita animação. Em 2024 estão sendo homenageados os blocos afros e, com certeza, será um ano de comemoração e com muita mudança e muita novidade. Os blocos afro fazem parte da história do Carnaval da Bahia e eu estarei lá junto com todo mundo homenageando os 50 anos deles”, complementou o atual Rei Momo.
Acompanhe nossas transmissões ao vivo no www.aratuon.com.br/aovivo. Siga a gente no Insta, Facebook e Twitter. Quer mandar uma denúncia ou sugestão de pauta, mande WhatsApp para (71) 99940 – 7440. Nos insira nos seus grupos!
Com referência ao deus grego da zombaria, o Rei Momo passou a ser uma figura tradicional dos carnavais sul-americanos desde o século XIX. Na ocasião,o personagem simboliza a entidade que autoriza a “desordem” típica do carnaval, recebendo do prefeito as chaves simbólicas da cidade.
Em 1959, Salvador teve o seu primeiro Rei Momo e este foi o mais longevo regente carnavalesco da capital baiana. Na época, o concurso foi patrocinado pela rádio Excelsior e o funcionário público Milton Ferreira da Silva, o Ferreirinha, não só recebeu a coroa como afirmou que passaria apenas ao seu filho após sua morte.
Isto aconteceu até 1988, quando Ferreirinha faleceu e o seu filho, Ferreira Filho, o substituiu por apenas um ano. Em 1990, foi iniciado um concurso anual pela Federação das Entidades Carnavalescas e Culturais da Bahia, que passou a repassar o título ao vencedor de cada edição da competição.
“A partir daí, a Federação assumiu e começou a fazer o concurso. E na verdade foi aí que se passou na verdade a se ter um concurso para se ter o Rei Momo”, afirma Reginaldo Santos, coordenador e homenageado na atual edição do Rei Momo 2024.
Membro do Conselho Municipal do Carnaval de Salvador (Comcar), "Reginaldo do Carnaval" sempre teve uma relação de proximidade com o concurso e colabora até hoje com a realização, modernizando a imagem simbólica da figura festiva. O próprio dirigente, inclusive, participou ativamente de um movimento de revitalização que rendeu muita polêmica.
"Eu era presidente do conselho em 2008 e em um determinado momento a Federação chegou até mim e disse que não tinha apoio financeiro para manter o concurso. Eu propus de fazermos então, uma analise curricular para eleger o Rei. Até porque, naquela época, ninguém queria saber mais quem era o Rei Momo".
Na época, em 2008, a escolha de Clarindo Silva fez com que candidatos reclamassem da escolha por conta da fisionomia distinta do eleito em relação a figura habitual do Rei Momo. Segundo Reginaldo, o processo de renovação não só deu visibilidade como adaptou o concurso aos novos tempos.
"Começamos a buscar um notório e fizemos com Clarindo. Quisemos quebrar os paradigmas de que não tem essa questão de cor, de raça e nem de gordura. Quisemos quebrar logo esse tabu e veio toda essa polêmica. Mas isso foi bom para mostrar o valor do Rei Momo e que ele tem que existir no carnaval", completou.
A mudança surtiu efeito e deu novo gás ao título. Depois de outros notáveis como Gerônimo e Pepeu Gomes, o desafio do Rei voltou a ser disputado e agora estava atrelado as mudanças ocorridas na sociedade baiana e brasileira. Dentre uma das principais características dos atuais "reinados" está o forte apoio a participação em campanhas sociais, fruto de uma decisão tomada pelo organizador juntamente aos candidatos.
"Hoje, a comissão do Rei Momo é formada pelos próprios candidatos. Eles que decidem como acontece o concurso, discutem o regulamento e tudo é feito em conjunto. Hoje eles decidiram, por exemplo, que cada candidato tem 100 convites que são transformados em alimentos. E isso é uma meta que se ele cumprir, ganha cinco pontos da coordenação. Não é competição pra ver quem traz mais ou mais rápido, é meta", enfatizou Reginaldo.
Além da doação de alimentos, outra participação do Rei Momo é em relação a doação de sangue. Na véspera da folia, cada candidato se torna um captador de doadores e ajuda na campanha para aumentar o banco de sangue do Hemoba. Em 2023, esta parceria rendeu 948 novos doadores, captados antes, durante e depois da festa carnavalesca.
"É um momento importantíssimo de solidariedade. O Rei Momo não é somente festa, mas sim solidário. E juntamente com os guardiões e todos os outros candidatos que participaram do concurso do Rei Momo no carnaval de Salvador, é um momento importante que a gente está muito feliz em poder ajudar e contribuir para o bem do próximo" afirma Alan Nery, eleito como Momo do Carnaval de Salvador em 2024. Além das doações, tanto ele como os guardiões (posto determinado ao segundo e terceiro colocado do concurso), também participaram de doações para instituições e hospitais como o Martagão Gesteira, o Aristides Maltez e as Obras Sociais Irmã Dulce.
Mas o que faz uma pessoa hoje se candidatar ao cargo de Rei Momo? É só pelo quesito da diversão ou pelo valor da premiação que é dado ao vencedor do cargo? Hoje, a premiação de 10 mil reais enche os olhos de espectadores e curiosos sobre o assunto. Mas, segundo Reginaldo, o valor monetário é irrisório em relação ao investimento que cada candidato investe para se tornar o governante da folia soteropolitana.
"Em relação ao investimento que cada candidato faz para se tornar Rei Momo, é muito pouco. Eles não entram no concurso por conta do prêmio, pois gastam muito mais para custear as vestimentas e a coroa. Se for pensar isso como forma de remunerar e de custear, o cara tem que fazer um absurdo, é muito caro aquela roupa e ainda toda agenda de carnaval louca de subir e descer a cidade todos os dias. Você tem compromisso e para cumprir o compromisso, eu acho que é pouco isso", finaliza Reginaldo
Para a disputa do Rei Momo desse ano, oito candidatos concorreram para mostrar quem mereceria o título de chefe da folia. E pela quarta vez, segunda consecutiva, Alan Nery levou o título. Novidade em edições passadas e retornando este ano, dois outros candidatos levaram os títulos de guardiões, que acompanham o Rei durante a festa na capital baiana.
“Estou bastante feliz e prometo um reinado de muita animação. Em 2024 estão sendo homenageados os blocos afros e, com certeza, será um ano de comemoração e com muita mudança e muita novidade. Os blocos afro fazem parte da história do Carnaval da Bahia e eu estarei lá junto com todo mundo homenageando os 50 anos deles”, complementou o atual Rei Momo.
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