NEW HIT: Cinco anos após condenação por estupro, cantores continuam na ativa em bandas de pagode
NEW HIT: Cinco anos após condenação por estupro, cantores continuam na ativa em bandas de pagode
Por Heloísa Gomes.
No dia 26 de agosto de 2012 nove integrantes da New Hit foram presos na cidade de Ruy Barbosa (a 321 km da capital, Salvador). Eles foram acusados de praticar um estupro coletivo dentro do ônibus do grupo. As vítimas eram fãs que foram curtir a micareta na qual banda de pagode se apresentou na cidade. Assim como qualquer admirador, de acordo com o depoimento das vítimas, elas entraram para pedir autógrafos e fotos aos rapazes.
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SOBRE O CASO:

As vítimas foram submetidas a humilhações e piadas dos agressores, conforme depoimento.
Consta na decisão judicial que dentro do veículo as vítimas foram submetidas a “atos libidinosos”. A peça descreve com detalhes o que aconteceu lá dentro. Há relatos de “conjunção carnal praticada com extrema violência e em alternância, entre outras provas do crime, a comprovação de que uma das vítimas era virgem”. Além de serem violentadas, as meninas ainda ouviram xingamentos e piadas maldosas.
Em 2015, a juíza Márcia Simões Costa da Comarca de Ruy Barbosa condenou os integrantes da banda a 11 anos e 8 meses de prisão em regime fechado. Os condenados foram: Alan Aragão Trigueiros, Edson Bonfim Berhends Santos, Eduardo Martins Daltro de Castro Sobrinho, Guilherme Augusto Campos Silva, Jefferson Pinto dos Santos, Jhon Ghendow de Souza Silva, Michel Melo de Almeida, Weslen Danilo Borges Lopes e William Ricardo de Farias. Também foi condenado sob mesma pena o ex-policial militar Carlos Frederico Santos de Aragão.
Passados apenas dois anos da sentença, eles estão em liberdade à espera de um novo julgamento.
A deputada Luiza Maia (PT), que acompanha o caso desde a denúncia, se diz chocada com essa brecha possibilitada pela lei. ?Isso é um equívoco da justiça. Banaliza a prática de estupro. É um absurdo! A liberdade deles e a clausura delas é uma provocação às mulheres, zombaria. Mas nossa cultura machista tira a responsabilidade de quem agride?, diz.
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NA ATIVA
A maioria dos jovens condenados por estupro seguem na ativa na carreira musical. A banda foi dissolvida, mas eles continuaram em outros grupos de pagode se apresentando e fazendo shows em Salvador e, também, no interior do estado.
Eduardo Martins Daltro de Castro Sobrinho, ?DUDU?

Divulgação de shows com as bandas em que o cantor Dudu se apresentou.
Ex- vocalista da New Hit, ele nunca parou. Assim que a banda chegou ao fim teve várias oportunidades no meio artístico. Passou pelas bandas ?Quarteto Fantástico?, ?Pagodão? e ?Oz Bambaz?. Sem muito sucesso, Dudu hoje é backing vocal da banda do vereador Igor Kannário (PHS). Hoje, Eduardo parece estar longe das redes sociais, sua última atualização do perfil no Facebook foi em 2013.
“Eles estarem abrigados em outras bandas é uma afronta. Principalmente na banda de um representante do povo, um vereador”, opina Luiza Maia.
Dudu não foi encontrado pelo Aratu Online para dar sua versão sobre a guinada na carreira.
Weslen Danilo Borges Lopes, ?GAGAU?

O dançarino também oferece aulas de ritmo.
O ex-dançarino é menos discreto que o vocalista. Ele mantém suas redes sociais ativas e em seu perfil no Instagram informa que é dançarino de Igor Kannário, além de oferecer serviço como professor de dança.
Guilherme Augusto Campos Silva ?GUIGA?

Guiga é o dançarino da esquerda, sem boné.
Também ex-dançarino da New Hit, Guiga abandonou as redes sociais, mas não os palcos. Ele se apresenta com a banda Psirico. Em 2015 chegou a dividir o palco com a cantora Anitta em uma participação feita pela artista pop no show da banda de pagode liderada por Márcio Vitor.
Jhon Ghendow de Souza Silva

Jhon em show da La Fúria.
O músico continua no cenário artístico também como compositor. Hoje ele faz parte da banda La Fúria e segue normalmente a agenda de shows do grupo de pagode enquanto aguarda julgamento do recurso.
Alan Aragão Trigueiros ?ALANZINHO?
Fora do cenário artístico o ex-dançarino atua como instrutor de dança em uma academia de Salvador.
Os outros integrantes da banda não foram localizados pela reportagem, assim como o ex-policial militar que foi demitido após a condenação. Todos os acusados estão soltos aguardando posicionamento da justiça que entendeu que não era necessária a prisão dos réus até que o processo fosse finalizado. ?O processo ainda cabe outros recursos e não existe previsão de julgamento?, conta a advogada das vítimas, Dra Cristina Lima.
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A CONDENAÇÃO DAS VÍTIMAS

Vítimas de estupro coletivo acolhidas pelo conselho tutelar na época do crime. Foto: Luiz Tito / Ag. A Tarde
A morte social é uma espécie de cárcere. Com os dedos da culpa apontados para elas por quase cinco anos, as jovens optaram pela reclusão absoluta após o episódio ocorrido no ônibus da banda.
?Chamar um estupro de ?erro? é minimizar o sofrimento das vítimas… É muito mais fácil desacreditar as meninas, culpar, querer justificar por A+B que elas permitiram isso, que queriam arrancar dinheiro. É muito mais difícil acolhê-las. É mais fácil ainda, depois do crime virar as costas para elas? acredita Paula Dutra, feminista e ativista do Coletivo Minissaia.
Hoje, com 21 anos, as jovens vivem marginalizadas, longe do convívio social, ?as meninas não conseguiram estudar porque ir à escola era uma tortura. As pessoas zombavam, apontavam, então elas não foram mais. Agora uma delas permanece na Bahia com a família, mas não sai de casa e a outra jovem mora fora do estado nas mesmas condições. É doloroso para elas viverem assim, enquanto eles seguem suas vidas tranquilamente?, conta a advogada.
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?Eu penso muito nas vítimas e nos traumas que elas sofreram e sofrerão a vida toda. Gostaria de abraça-las e fazer com que elas entendam que não são culpadas de nada. Espero que a população não continue deixando pra lá e acorde sobre quem são os verdadeiros culpados?, diz Paula Dutra.
Sem prazo para julgamento em um processo que ainda cabe alguns recursos, as esperanças vão se esvaziando. Ainda assim, garante a advogada das vítimas, há esperança de ver a justiça se cumprir numa sentença satisfatória aos verdadeiros culpados.
*Publicada originalmente às 13h28
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