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ESPECIAL VIDAS ADAPTADAS: A curiosa história da jovem que não conseguia ouvir a própria voz

ESPECIAL VIDAS ADAPTADAS: A curiosa história da jovem que não conseguia ouvir a própria voz

Por Juana Castro

ESPECIAL VIDAS ADAPTADAS: A curiosa história da jovem que não conseguia ouvir a própria vozArte / Leow Lopes - Aratu Online

Aratu Online iniciou na última terça-feira (25/7) uma série especial sobre doenças misteriosas e as vidas adaptadas dos seus portadores. Levamos em consideração enfermidades que fogem ao senso comum e mudam a forma de percepção de quem precisa conviver com ela.


No primeiro episódio contamos a história de Rômulo Alessandro, de 37 anos, que sofre com parosmia traumática. Ou seja, não consegue sentir o cheiro das coisas.


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No segundo, mostramos como a aposentada Eliete Souza vive com prosopagnosia. Isto significa que ela não memoriza o rosto de ninguém — nem de quem conhece há longas datas.


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Nesta terceira reportagem da série, contaremos a história de Nayane Cruz, 24. Ela sofre de hiperacusia e zumbido. Traduzindo: hipersensibilidade a sons de baixa intensidade seguido de barulho ininterrupto.


“Até a minha própria voz me incomodava”



A história da vida de Nayane e como conseguiu se adaptar às condições você confere nas próximas linhas.


Boa leitura!


***


A vida da estudante de serviço social Nayane Cruz, de 24 anos, sempre esteve ligada ao som. Das músicas ouvidas no volume máximo, em fones de ouvido, às gravações em estúdio da sua banda na adolescência, a jovem era facilmente encontrada em ambientes com bastante estímulos sonoros.


Certa vez, há aproximadamente dois anos, ela foi a um local cujo som estava nas alturas – como de costume -, mas percebeu algo diferente ao voltar para casa. Ouvia um ‘apito’ constante. Não havia pausas. Esperou um, dois, três dias… Mas o barulho não passava. Incomodada com a situação, Nayane recorreu a alguns médicos otorrinolaringologistas e teve o diagnóstico: zumbido e hiperacusia.


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Considerado um sintoma, o primeiro é um som semelhante a um grilo, chiado, entre outros, ouvido apenas por aquela pessoa, pois não vem de uma fonte externa. Segundo dados de 2016 da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 28 milhões de brasileiros sofrem com o problema, que pode estar associado a diversos fatores, como alterações na tireoide, no açúcar, colesterol, perda auditiva e até mesmo o estresse. No caso de Nayane, foi em decorrência de um trauma acústico devido à exposição sonora, assim como a hiperacusia.


Esta, por sua vez, é a hipersensibilidade a sons rotineiros. Isto fez com que a jovem não suportasse o barulho da água que caía da torneira ou o movimento dos talheres durante as refeições, por exemplo. “Até a minha própria voz me incomodava”, relatou.


Confira o relato da jovem no vídeo abaixo:



Por conta disso, ela se isolou. “Deixei de frequentar alguns ambientes, de estar com amigos e até de conversar com minha família. Foi um momento bem complicado”, relembra.


Ela iniciou um tratamento medicamentoso, mas por não surtir o efeito desejado, buscou uma nova ajuda. Foi quando a especialista em zumbido e hiperacusia, a otorrinolaringologista Clarice Saba, entrou em sua vida.


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A médica percebeu a condição de Nayane como específica e tentou uma nova forma de tratamento. Além de remédios, a jovem começou a fazer uma terapia sonora conhecida como TRT (sigla em inglês para Tinnitus Retraining Therapy), que é uma espécie de ‘retreinamento’ do ouvido. Nela, com o auxílio de uma fonoaudióloga, são colocados alguns aparelhos auditivos que emitem sons de baixa intensidade para que o cérebro consiga se reabituar aos ruídos. “Foi a partir daí que eu tive um alívio em relação ao zumbido e à hiperacusia”, lembrou a estudante.


Ao Aratu Online, Dra. Clarice falou que o tratamento auditivo para cada paciente deve ser ‘personalizado’. “Meu trabalho é identificar qual é a causa e ver a melhor maneira de tratá-lo”, disse a médica, que ressaltou a importância de o portador do sintoma seguir tudo conforme a recomendação. “Não adianta a causa ser uma alteração na glicemia e o paciente não seguir a dieta”, explicou a otorrino.


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Foto: Reprodução/Facebook


Um dos medos de Nayane era que o zumbido nunca passasse, o que a deixava mais aflita e atenta à situação. “O fator psicossomático faz ele se tornar melhor ou pior para a gente. Quanto mais focamos em algo, mais o corpo o percebe”, disse a jovem. Com a terapia sonora e auxílios como sons ambientes na hora de dormir, o ruído foi, aos poucos, indo embora. Pela noite, inclusive, era o momento que mais a incomodava, pois o silêncio direciona o foco para o zumbido, pela falta de estímulos sonoros.


Por esse medo e aflição muitas vezes provocados pelos problemas auditivos, Dra. Clarice alerta que é preciso um acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, na maioria dos casos, pois o paciente pode precisar de uma psicoterapia, por exemplo. “Sou contra a ideia de que o zumbido não tem cura”, falou a médica. “Se não conseguirmos combater 100% as causa do sintoma, trabalharemos, então, na devolução da qualidade de vida ao paciente, por meio de outros tratamentos que mascarem os ruídos”, afirmou.


VIDA ADAPTADA



Foto: Reprodução/Facebook


“Hoje, entendo que a nossa audição é bastante frágil, então evito me expor a sons altos”, contou Nayane. Nada de ficar perto do palco, em shows, ou boates, locais em que as ondas sonoras não conseguem se expandir muito. Além disso, ela não deixa de ter acompanhamento médico. “Com ajuda, tratamento específico e tudo mais, consegui me reanimar e viver de maneira saudável, como tenho vivido hoje”, afirmou a estudante.




Para o que sentia, a jovem diz que se considera ‘90% melhor’ em relação aos sintomas. “Já não tenho mais o zumbido constante. Raramente, se estiver em um local sem estímulo sonoro nenhum, eu ouço, mas se eu der atenção a isso que passo a ouvir, de fato”, concluiu Nayane. A hiperacusia também melhorou bastante, e embora às vezes tenha a hipersensibilidade, não é a mesma preocupação de antes.

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