CONHEÇA A VIGOREXIA: A doença condenada pelo Papa Francisco e que provoca obsessão e ansiedade pelo corpo perfeito
CONHEÇA A VIGOREXIA: A doença condenada pelo Papa Francisco e que provoca obsessão e ansiedade pelo corpo perfeito
“Numa época em que o cuidado com o corpo se tornou uma obsessão e um grande negócio, tudo o que é imperfeito tem de ser escondido, uma vez que ameaça a felicidade e a serenidade de poucos privilegiados e põe em risco o modelo dominante”. A frase acima foi proferida pelo Papa Francisco no último domingo (12/6), em sua tradicional celebração dominical, no Vaticano.
Coincidência ou não, cai como ‘uma luva’ na situação vista em diversas academias Brasil afora na busca pelo corpo ideal. É importante ressaltar que a reportagem do Aratu Online não condena aqueles que enxergam em qualquer tipo de atividade física um caminho para se ter uma vida saudável.
Ao contrário, aproveitamos a ‘deixa’ do papa Francisco para fazer o alerta e mostrar uma doença grave e ainda pouco conhecida, que surge quando a linha tênue entre beleza e saúde é ultrapassada ….
Prazer, o nome desta doença é Vigorexia.
Apesar de o nome ser para lá de estranho, a vigorexia nada mais é do que um distúrbio de ansiedade. Formalmente conhecido como transtorno dismórfico corporal (TDC), trata-se de uma obsessão em conseguir o corpo “perfeito”. Psicólogos o caracterizam por uma incompatibilidade entre o corpo de uma pessoa e a imagem que ela tem de si mesma. Popularmente falando é aquele homem ou mulher que mesmo sendo grande e musculoso(a), vê-se ” pequeno(a)” na frente do espelho.
A pessoa age de forma obsessiva em função dessa percepção. Com o objetivo de camuflar o defeito imaginado ? que pode ser do corpo inteiro ou de apenas uma pequena porção dele -, checa constantemente a própria aparência no espelho, escova excessivamente o cabelo, exagera nos cuidados estéticos.
?A dismorfia é capaz de causar enormes estragos na autoestima dos pacientes?, ressaltou Joana de Vilhena Novaes, psicóloga e coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC do Rio de Janeiro. O TDC acomete cerca de 2% da população global ? no Brasil, seriam cerca de 4 milhões de pessoas.
“Já passei por uma fase que meu pai queria que eu fizesse tratamento com um psicólogo”, revelou Carla Sanches, que flertou com a vigorexia. A fonoaudióloga conta ainda como era sua rotina diária. “Só pensava em ficar com o corpo que idealizava. Malhava e não bebia um gole de água se não tivesse na minha dieta”.
Em matéria publicada pelo site britânico BBC, Rob Willson, presidente do conselho da Fundação de Distúrbio de Dismorfia Corporal, faz o alerta. “Esta ansiedade e preocupação em demasia podem deixar alguém deprimido a ponto de levar ao uso de anabolizantes e até mesmo ao suicídio”.
“Pois é… num determinado momento, eu percebi que tem padrões musculares que não se alcança somente com alimentação e muita malhação. Cheguei a tomar hormônios em níveis bem baixos”, revela Carla.
LESÕES MUSCULARES
Os riscos à saúde causados pela vigorexia vão além do uso de esteroides e anabolizantes ? que, por sua vez, aumentam o risco de AVC (Acidente Vascular Cerebral), infarto e morte súbita. O médico Ortopedista, Marcos Lopes, descreve, por exemplo, um pouco do cenário que encara dia a dia em sua clínica.
“Por essa busca incessante pelo ‘corpo perfeito’ recebo em minha clínica, por exemplo, muitos pacientes com graves lesões musculares, dores na região da coluna, nas articulações, dificuldade de até mesmo em andar. Não é bom fazer musculação todo dia. O organismo, a musculatura precisa de descanso para evitar desgastes, possíveis lesões”, ressalta Lopes, que se mostra surpreso. “O mais irônico é que se tratam de mulheres e homens jovens”, afirma.
Confira os principais sintomas causados pelo excesso de atividade física:
? Fadiga persistente
? Ritmo cardíaco elevado, em estado de repouso
? Maior suscetibilidade a infecções
? Maior incidência de lesões
? Irritabilidade
? Depressão
? Perda de motivação
? Insônia
? Perda de peso
Segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), a faixa etária mais acometida pela vigorexia é a dos 15 aos 20 anos. Uma das possíveis explicações é que nessa fase o cérebro está em plena ebulição. Os estudos mais consolidados indicam ainda uma origem neurológica para o transtorno.
O cérebro dos pacientes com TDC sofre de um descompasso de substâncias como noradrenalina, dopamina e serotonina, sobretudo nas regiões relacionadas a visão e ao gerenciamento de emoções. Tais compostos estão associados, por exemplo, aos mecanismos de recompensa, ansiedade, motivação e humor.
TRATAMENTO
Dificilmente o indivíduo vítima de vigorexia aceita que está fora de controle e/ou precisa de ajuda. Por isso, diante desta situação o apoio da família e amigos é fundamental. ?Os mais próximos precisam tentar diminuir a tensão e a cobrança sobre a vítima. Pode, por exemplo, chamá-la para se alimentar em lugares diferentes, propor atividades recreativas, e até mesmo atividades físicas diferentes?, explica o educador físico, Marcus Pereira.
Por sua vez, este profissional tem um papel chave nos primeiros passos contra a doença já que está acompanhando a rotina na academia, e muitas vezes pode identificar com antecedência sintomas da doença na vítima. Além do educador físico, a luta contra o distúrbio ainda exige o auxílio de um psicólogo, nutricionista, médico clínico e fisioterapeuta.
“Não que eu seja contra a atividade física na busca por uma melhor forma. Quem não quer se sentir mais bonito? Gosto de ver as pessoas cuidando do seu corpo. Porém, chegamos a um ponto, em que o bonito não é determinado por nós, mas sim por uma sociedade que quer vender beleza, e nos diz que o ideal é ser perfeito! O indivíduo que pratica atividade física na busca por esse ideal não entende que, na verdade, está buscando o inalcançável. O treino vai tomando o espaço do lazer, do trabalho, da família,… ao ponto de que o principal propósito da atividade física, que é a saúde, se perde e deixa de ser importante. É preciso equilíbrio”, opinou Pereira.
E foi justamente esse equilíbrio, que fez Carla Sanches mudar o ritmo de vida. “Podem não acreditar, mas encontrei (o equilíbrio) na minha ‘conta’ numa rede social. Postava minhas fotos, que tirava na academia, no meu instagram e as pessoas começaram a comentar… diziam que ‘era um exemplo para elas’. Isso me fez mudar muito! Pois, não queria passar uma coisa que não era. Então hoje, estou satisfeita com meu corpo, mantenho minha alimentação saudável e não fico na neurose de academia. Estou satisfeita, feliz e não me permito ‘NÃO’ mais viver… por que equilíbrio é vida “, concluiu.