Morre, aos 68, Johan Cruyff: O homem de duas listras que mudou as quatro linhas
Morre, aos 68, Johan Cruyff: O homem de duas listras que mudou as quatro linhas
Taticamente, melhor que Pelé.
O futebol se despede de Johan Cruyff. Aos 68 anos, o holandês morreu nesta quinta-feira (24/3) vítima de um câncer no pulmão, diagnosticado ano passado.
O jogo inteligente perde aquele que comandou uma revolução dentro das quatro linhas, capaz de subverter regras e propor um novo desenho na prática do esporte. Cruyff era capitão e cérebro da ‘Laranja Mecânica’, carrossel holandês que praticou o melhor futebol no Mundial de 1974, comandando pelo lendário treinador Rinus Mitchell — morto há 11 anos.
Um delírio torpe onde jogadores não mantinham posições fixas: marcavam, atacavam e se moviam em bloco. Usavam o impedimento como uma arma favorável para deixar, propositadamente, o adversário em posição irregular. Um desordenamento calculada. Lisérgico.
Por uma destas ironias eternas que marcam vários episódios do futebol, Cruyff — capitão daquele time — não pode erguer a taça da Copa. A Holanda perdeu a final contra a Alemanha por 2 a 1, de virada, em Munique.
De consolação, coube àquele time o espaço reservado aos grandes escretes que ficam marcados pelo signo amargo da derrota, mas lembrados pelo todo sempre pela injustiça acometida pelo acaso.
O uniforme que Cruyff jogou o Mundial de 74 tinha apenas duas listras sobre os ombros. Todo o resto do time jogava com três. A Seleção da Holanda era patrocinado pela Adidas (conhecida pela marca de três listras). Cruyff tinha um patrocínio exclusivo da Puma. Condicionou sua participação no torneio à confecção de um uniforme diferenciado. Aceitaram.
Por falta de similar acordo diplomático-comercial, em 1978, Cruyff não disputou o Mundial quatro anos depois, no qual a Holanda ficou novamente com o vice-campeonato (perdendo desta vez para a Argentina).
Por clubes, defendeu as camisas do Ajax (da Holanda) e do Barcelona (da Espanha). Pregou sempre o futebol coletivo e o uso das qualidades técnicas e habilidades em prol do conjunto; o jogo bem jogado.
Depois de se aposentar, viria a tornar técnico aprofundado sua filosofia de jogo coletivo no Barcelona. Foi tetracampeão espanhol entre 1990 e 1994. Levou o clube da Catalunha ao título inédito da Liga dos Campeões, em 1992. Comandou o brasileiro Romário, na temporada 1993-94, e sempre defendeu o Baixinho em polêmicas controversas que minimizavam sua importância por conta do seu ímpeto.
Como um rebelde que entende a necessidade da revolução, das mudanças e da inevitabilidade em provocar suspiros que mudem o senso comum, Cruyff viveu com eternas duas listras no uniforme.
Apenas duas, mas suficientes para provocar mudanças em outras quatro linhas.