"Silvio Santos é eterno e não pode ser velado"
*Por Pablo Reis
Como a última imagem do brasileiro que mais mereceu o título de Homem Sorriso pode ser opaca, emudecida e de olhos encobertos? A família do maior comunicador da história do país acerta em evitar velório para o ícone. Silvio Santos é eterno, e jamais ficará no inconsciente coletivo nacional como um corpo velado, mesmo que a vontade de milhões fosse por um último adeus.
“Se minha mãe estivesse viva, hoje seria um dos piores dias da vida dela”, me confidencia o colega cinegrafista Zé Mário, ao fim da gravação de boletins sobre esse indesejado e dolorido fato. “Ela foi fã absoluta por 60 anos”. Quantas Marias estão se sentindo viúvas, quantas Patrícias ficaram órfãs, quantos Josés sentem que perderam um colega (de auditório ou não), quantos Pablos lamentam a perda de um ídolo?
Silvio Santos, o mito, não é apenas patrimônio da família Abravanel, mas toda uma nação. Portanto, zelar pela memória dele é compromisso de cada brasileiro, já que também nos tornamos um pouco parentes, ao longo de 60 anos de convivência diária.
Quem conhece a sede do SBT consegue entender um pouco melhor o porquê de ser chamado de gênio aquele que conseguiu ser camelô, empresário, banqueiro, showman até candidato a presidente da República sem ser contraditório. Em qualquer destas posições, havia o jeito Silvio Santos de ser. Até existe um memorial no SBT exibindo relíquias, objetos e momentos emblemáticos do ícone.
Só que não é no museu que está o maior tesouro do apresentador. Por estúdios, camarins, corredores e, sobretudo, entre as pessoas, há um espírito de Silvismo, um civismo impregnado de alegria.
Ao parar de respirar, ele deixa todo um segmento de televisão sem fôlego. Ao parar de bombear, sangue e novas ideias, ele cria um fosso que abala alicerces da mídia tradicional.
Em algum lugar, está sendo recebido com festa, ao som de “Silvio Santos vem aí”.
*Pablo Reis é jornalista e apresentador da TV Aratu