Quem foi Tiradentes? Herói da Inconfidência teve imagem ligada a Jesus

No dia 21 de abril de 1792, Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, foi executado por enforcamento no Rio de Janeiro. Mais de dois séculos depois, seu nome segue celebrado como símbolo de luta pela independência e justiça no Brasil. A data de sua morte se tornou feriado nacional, e sua figura permanece no imaginário popular como um dos maiores heróis da história do país.

Tiradentes foi um dos principais nomes da Inconfidência Mineira, movimento ocorrido entre 1789 e 1792 que buscava a independência da Capitania de Minas Gerais do domínio português. O grupo reunia intelectuais, religiosos, militares e poetas que contestavam os altos impostos impostos pela Coroa Portuguesa, entre eles Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Inácio José de Alvarenga Peixoto.

Historiadores apontam o movimento como o primeiro com o objetivo de ser independente, de fato, de Portugal, ainda que a revolta não tenha sido colocada em prática. A organização foi delatada por um dos integrantes, o coronel Joaquim Silvério dos Reis, e os envolvidos foram presos e julgados, incluindo Tiradentes, um dos inconfidentes mais ativos.

De acordo com o jornalista Lucas Fiqueiredo, autor do livro "O Tiradentes", Joaquim José da Silva Xavier foi responsável por articular alianças e angariar apoios ao movimento, tornando-se um líder operacional e ideológico. Depois que foi preso, em 10 de maio de 1789, no Centro do Rio de Janeiro, assumiu toda a culpa pela conspiração, atitude que foi interpretada como um sacrifício pessoal em prol dos companheiros. Daí, então, a consagração como mártir.

A pena, então, foi exemplar. Além do enforcamento, no dia 21 de abril de 1792, Tiradentes teve o corpo esquartejado e a cabeça exposta em praça pública em Vila Rica (hoje Ouro Preto). Os membros dele foram espalhados pela estrada que ligava a cidade ao Rio de Janeiro, a fim de evitar novas tentativas de rebelião.

Mas quem foi, de fato, Tiradentes?

Joaqui nasceu na Fazenda do Pombal, no atual município de Ritápolis, Minas Gerais. Não se sabe ao certo sua data de nascimento, apenas que foi batizado em 12 de novembro de 1746. Ainda jovem, exerceu diversas profissões, entre elas a de tropeiro e minerador. O apelido “Tiradentes” surgiu de sua atuação como prático de odontologia - profissão que teria aprendido com um tio, Sebastião Ferreira Leitão, que era cirurgião-dentista. 

Aos 29 anos, ingressou na carreira militar e se destacou por sua coragem e dedicação. No Rio de Janeiro, conheceu o naturalista José Álvares Maciel, influenciado pelas ideias iluministas europeias, com quem passou a discutir os abusos fiscais da Coroa e a necessidade de independência do Brasil.

A construção da imagem de Tiradentes como herói, no entanto, ganhou força quase um século após sua morte, durante a transição do Império para a República, em 1889. Na ausência de retratos reais de Joaquim José da Silva Xavier, artistas republicanos criaram uma representação idealizada do mártir, inspirada na figura de Jesus Cristo. 

Ao jornal Estado de Minas, o biógrafo Lucas Figueiredo disse que o que se sabe é que Joaquim "era um homem branco, de pai e mãe declarados como brancos, que aos 40 anos já tinha cabelos brancos. E ponto final".

A imagem criada do homem de olhos claros, barba longa, cabelos soltos e traços simétricos não foi aleatória. Ao contrário: foi pensada para remeter à iconografia cristã, como explicou o historiador André Figueiredo no livro "Em Busca de Um Rosto: a República e a Representação de Tiradentes".

“Um personagem que morreu por ter sido traído por um amigo, o Silvério dos Reis, à semelhança da trágica história de Jesus Cristo”, disse Figueiredo à BBC Brasil. 

*Com informações da National Geographic