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Dia do Bibliotecário: profissionais defendem importância das bibliotecas para transformação social

Bibliotecárias baianas Soraia Alves e Ivana Lins explicam as tarefas da profissão, as mudanças para o mundo digital e destacam importância social das bibliotecas

Por Lucas Pereira

Dia do Bibliotecário: profissionais defendem importância das bibliotecas para transformação socialCréditos da foto: Bia Lago/Aratu On
Muita gente não sabe, mas nesta terça-feira, 12 de março, é comemorado o Dia do Bibliotecário, profissional responsável pela organização e gerência dos acervos em bibliotecas. Ao pensar nessa figura, uma das primeiras imagens que vêm à mente é a de uma mulher, de meia altura, coque e óculos na ponta do nariz, de expressão fechada e que mantém, de maneira zelosa, o silêncio nesse ambiente de livros e prateleiras. Porém, a função de um bibliotecário vai além do que se imagina, não se esgotando apenas em folhas encadernadas.
A escolha da data é por essa ser o dia do nascimento de Manuel Bastos Tigre (1882 - 1957), que é considerado o primeiro bibliotecário concursado do Brasil, tendo assumido a direção da Biblioteca Central da Universidade do Brasil.
Foram necessárias algumas horas de conversa e um passeio pelos corredores da Biblioteca Central da Bahia, localizada na região dos Barris, para conhecer mais sobre esse universo da biblioteconomia, área do conhecimento em que se formam os bibliotecários. Para começo de conversa, mais que amar livros e literaturas diversas, os profissionais dessa área precisam “gostar de gente, gostar de interagir com as pessoas”, conforme explica a diretora da Biblioteca Juracy Magalhães Júnior, em Itaparica, Soraia Alves.
“A gente tem que desmistificar essa imagem de que o bibliotecário é essa pessoa pacata, séria, que se resume a isso. Esse profissional precisa ser antenado, estar por dentro das transformações atuais, ele é multifacetado. E precisa gostar de gente, não tem como ser bibliotecário e não gostar desse contato”, destaca a diretora.
Sobre as responsabilidades de um bibliotecário, Soraia lista a sequência de atribuições: “Ele recebe doações de livros da comunidade, faz licitações para a compra de livros através de processos. Quando esse livro chega na biblioteca, ele faz a catalogação e a classificação desse livro. Ele faz um estudo do perfil de usuários onde ele está inserido e em cima disso ele começa a disponibilizar o acervo, de acordo com aquele perfil. Além disso, é ele quem prepara a programação cultural do espaço”.
[caption id="attachment_305497" align="aligncenter" width="643"] Soraia Alves | Foto: Bia Lago[/caption]
Mais que essa grande atuação nos processos de catalogação do conhecimento, a função de produtor cultural e estimulador da leitura fazem desses profissionais "indispensáveis" para a sociedade, defende Soraia. Ainda assim, há pouca visibilidade para quem está do outro lado do balcão.
"As pessoas não sabem, mas os bibliotecários, principalmente os de bibliotecas escolares, começam a fomentar esse incentiva a leitura na primeira infância, e isso vai repercutir aqui no fundo. Então a gente vai ter uma criança leitora que automaticamente vai acessar as outras bibliotecas e ela vai ser um consumidor de livros, podendo ser também um próprio escritor".
Para a professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e Superintendente do Sistema Universitário de bibliotecas da Ufba, Ivana Lins, o trabalho feito nas bibliotecas pode não ser tão percebido, mas está lá nas pesquisas, matérias jornalísticas, estudos e histórias.
"Em todos os lugares onde eu já passei, eu me sinto muito útil; vejo todos os dias que meu trabalho é muito útil para a sociedade, e eu me sinto motivada a trabalhar por isso. É um desafio, porque é uma profissão que não é muito percebida socialmente, mas quando a gente puxa o saldo total, a gente sabe que é importante", declara a professora.
FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA
Com quatro anos de duração, o curso de biblioteconomia “acompanha toda a produção do conhecimento humano, desde dos primórdios da humanidade até agora, nos livros eletrônicos”, conta Ivana.
Segundo ela, no bacharelado na área, o estudante terá "a oportunidade de conhecer um pouco da filosofia, um pouco da história da arte, além das disciplinas mais técnicas, como a catalogação e classificação", dando ao profissional um "perfil multifacetado".
[caption id="attachment_305498" align="aligncenter" width="662"] Ivana Lins/Acervo Pessoal[/caption]
O primeiro curso de biblioteconomia no Brasil foi inaugurado em 1915, promovido pela Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Como pré-requisito para ingresso, os interessados deveriam concluir o curso de Humanidades e se submeterem a um exame de admissão. A formação tinha duração de um ano e era composta por quatro disciplinas: Bibliografia, Paleografia e Diplomática, Iconografia e Numismática. Na Bahia, o curso chega à Ufba em 1942, primeiro nas regiões Norte e Nordeste.
Um bom curso é indispensável para a formação de um profissional capacitado, porém, a bibliotecária Soraia acredita que é a prática que possibilita um entendimento completo desse universo.
"Para ser um bom bibliotecário, você não aprende apenas em uma faculdade não: É na prática! Na faculdade, a gente aprende a parte técnica e acadêmica da profissão, mas o bibliotecário se destaca a partir do momento que busca outras alternativas, fazer o diferencial".
ATUAÇÃO
E quem acha que o bibliotecário atua apenas na biblioteca, está enganado. De acordo com as entrevistadas, uma vez formados, esses profissionais têm possibilidade de atuação em áreas como indústrias, escritórios, editoras, arquivos e outros locais onde haja necessidade do trato de dados, especialmente materiais de memória e conhecimento. "Quando você quer procurar um assunto, um tema, e você vai em um buscador, você vai recuperar a informação. Não se engane, no Google, nessas plataformas de busca de informação, há uma equipe de bibliotecários trabalhando", conta a professora Ivana.
Além disso, pela lei 12.244/2010, conhecida como a “Lei da Universalização das Bibliotecas Escolares”, universidades e institutos federais, obrigatoriamente, devem ter um espaço como esse em suas dependências. O que garante a presença da figura do bibliotecário no dia a dia dos centros de ensino e pesquisa.
[caption id="attachment_305500" align="aligncenter" width="728"] Letreiro na Biblioteca dos Barris | Foto: Bia Lago[/caption]
IMPACTOS DO DIGITAL
Para quem acredita que a digitalização de materiais chegou para acabar com os livros físicos e que, em um futuro próximo, bibliotecas e acervos físicos serão reduzidos à memória, Soraia traz uma perspectiva oposta, e tem o apoio da professora Ivana.
"[O mundo digital] impactou, mas não dissociou, pois quem gosta de ler, lê em qualquer suporte. Eu vejo que a digitalização chegou para agregar às nossas bibliotecas, trazendo esse suporte de livros digitais, especialmente para outros públicos, principalmente em termos de acessibilidade", diz a diretora.
Por sua vez, a professora do curso de biblioteconomia da Ufba conta que essa imersão digital é feita durante a graduação, preparando os futuros bibliotecários: "Então eu tenho que ter habilidades de fazer uso das tecnologias de comunicação e informação, eu tenho que estar atualizado nessa demanda social. Enquanto bibliotecário, eu também tenho que ter um olhar especial para as pessoas com deficiência, pessoas que não são letradas, essas ferramentas permitem uma inclusão maior desses públicos ao mundo da leitura".
NÃO SÃO SÓ LIVROS
A responsável pela Biblioteca Pública da Ilha de Itaparica reforça que a troca de conhecimentos no ambiente da biblioteca vai muito além dos livros, passando também pelas experiências mais lúdicas: "O conhecimento não está só nos livros, ele está em diversos suportes, através de atividades culturais. É a contação de histórias, são bate-papos, rodas de conversas, peça de teatro. A biblioteca é lugar de tudo."
Soraia defende que a biblioteca é "um veículo de transformação social", já que essa mudança vem, diz a bibliotecária, através da troca de conhecimentos e atividades culturais. Para ela, esse é um motivador para os profissionais da área.
"A missão é dura, mas o amor que nós temos pela profissão nos motiva. Eu trabalho para uma comunidade, para o povo. A luta é difícil, mas se a gente ama e gosta do que faz", declara Soraia.
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