Prestes a celebrar 50 anos de banda, Armandinho compartilha histórias da jornada
Líder "natural" da banda, como preferiu denominar, ele deixou claro que não exerce uma função de mandatário dentro do grupo formado pelos irmãos Macêdo
A trajetória histórica da Banda Armandinho, Dodô & Osmar se confunde com os primórdios da música carnavalesca baiana e, por isso, festejar a longevidade do grupo é, também, manifestar gratidão por toda contribuição dos pioneiros no enriquecimento da maior festa popular do planeta.
Às vésperas da comemoração, o guitarrista Armando Macedo bateu um papo com a nossa reportagem e compartilhou com o Aratu On algumas histórias e considerações importantes, observadas nessa caminhada de 50 anos.
Líder "natural" da banda, como preferiu denominar, Armandinho deixou claro que não exerce uma função de mandatário dentro do grupo formado pelos irmãos Macêdo: André (vocal), Aroldo (guitarra), e Betinho (baixo).
Ele acredita que o destaque pode estar relacionado ao fato de ter iniciado uma carreira independente, antes da concepção da banda. "Eu conduzo porque sou o solista e cantor. Eu nunca tive essa coisa de eu mando, eu quero!", frisou.
PRIMEIRO CANTOR DE TRIO
Em 1974, o grupo já arrastava multidões pelas ruas de Salvador, mas no ano seguinte, destacou Armandinho, o trabalho começou a ganhar novo formato. Naquele momento, acontecia a comemoração dos 25 anos da criação do trio elétrico, idealizado por Dodô e Osmar. Mas a participação de um saudoso convidado fez surgir uma grande inovação na Festa de Momo.
Jubileu de Prata foi a música que homenageou aquele aniversário. Na ocasião, coube ao cantor e compositor Moraes Moreira imortalizar a participação de um vocalista como puxador de foliões. "Moraes pegou o microfone que meu pai só pegava pra dar boa noite [...] aí ele cantou, o povo ajudou e meu pai declarou: o primeiro cantor de trio elétrico".
Armandinho conta como Moraes Moreira se torna primeiro cantor de trio elétrico. pic.twitter.com/Z8EPXv0SOF
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O ano de 1975, sem dúvida, foi decisivo para o reconhecimento nacional do trabalho da banda. Armandinho lembrou da influência de Moraes nesse sentido. O fundador dos Novos Baianos incentivou a ida do filho de Osmar para o Rio de Janeiro com a ideia de gravar um disco e aquela iniciativa seria sinônimo de novos ares .
Armando lembrou que eles buscaram a Continental e lá contou a história do trio elétrico para o presidente da gravadora, que aprovou e resolveu produzir um LP. "Agora, eu tenho que trazer toda a minha galera e até os inventores do trio", exigiu o filho de Osmar, fazendo nascer o primeiro disco da banda.
ATRAVÉS DE GERAÇÕES
Mesmo inserido em um cenário que se renova com grande frequência, a música dos cinquentenários segue contagiando os amantes do Carnaval. A Bahia é um celeiro de artistas do ramo e na festa popular há sempre algo diferente e inovador. Contudo, o trio elétrico Armandinho, Dodô e Osmar não deixa de ser uma atração esperada na festa.
O segredo, diz o guitarrista, é a música! Ele afirmou que o seu trabalho não é estático, tão pouco um produto consumido apenas no Carnaval. Armandinho pontuou que continua levando 0 seu som pelo mundo e isso é importante na perpetuação do sucesso.
"Qualquer lugar que eu chegue tocando, não precisa ter nenhum conhecimento de trio elétrico, de história nenhuma", reforçou.
A música é o segredo do sucesso da banda Dodô e Osmar, segundo Armandinho. pic.twitter.com/GIHxkv72bq
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'DESAFILHO'
Ao longo de uma trajetória de 50 anos, certamente, muitos momentos foram marcantes para os irmãos Macêdo. Juntos, viveram experiências desafiadoras e icônicas no carnaval da Bahia. Uma delas, o famoso Encontro de Trios, foi por muito tempo um registro de encerramento da Festa.
Armando comentou como era emocionante ver a Praça Castro Alves, já na madrugada da Quarta-Feira de Cinzas, totalmente, tomada por milhares de pessoas, além de vários trios elétricos, engarrafados pela multidão, que se despedia da folia.
O momento costumava reunir artistas baianos como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby, e, a cada ano, nomes de novas gerações iam se incorporando ao movimento, até que começou a perder força e terminou pelos idos dos anos 90.
Mas entre os inúmeros acontecimentos relevantes da história, Armando revelou que sente saudades mesmo é do tempo do velho Osmar. “Meu pai era um cara que estava sempre bolando uma coisa e ele inventou um tal de Desafilho: o desafio do pai com o filho”, contou, emocionado, descrevendo as performances que os dois realizavam juntos pelos palcos.
“Ele tirava a camisa, cobria o cavaquinho, fazia um monte de coisas [...] Ele fazia esse show em qualquer praça, em qualquer lugar, em qualquer estado. Onde chegava prendia a multidão, assistindo a minha relação com ele, de pai com o filho”, lembrou.
Em sua trajetória musical, as lembranças mais marcantes para Armandinho são suas performances ao lado de Osmar. pic.twitter.com/piAvsNBE3I
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COMERCIALIZAÇÃO DO CARNAVAL
Apesar de toda importância, contribuição e feitos pela folia baiana, Armandinho lamentou as dificuldades em busca de apoios, encontradas por todo o grupo durante a caminhada, desde a invenção do trio elétrico. "Sempre foi uma luta muito grande pra meu pai! Era um desgaste danado!", salientou.
O músico pontuou que o carnaval virou uma festa de negócio e nunca houve uma atenção dedicada a Dodô e Osmar. Lembrou de um episódio ocorrido em 1994, quando seu trio foi barrado pela polícia, tentando deixar a Avenida Sete de Setembro, contornando em direção à Rua Carlos Gomes, no Centro de Salvador.
Ele ressaltou que seu pai estava presente, na ocasião, e a justificativa passada para Osmar foi a ausência da banda entre os relacionados em uma lista oficial, que constava os nomes das atrações autorizadas. "A polícia disse: olhe, quando passar o último bloco, vocês entram!", lembrou o guitarrista.
Armandinho comentou, ainda, que os espaços na fila dos trios que desfilam no circuito da festa, passaram a ser disputados pelo poder econômico. Daí, segundo ele, a grande participação, nos últimos anos, de atrações que não têm relação com a história do Carnaval e com os ritmos genuinamente baianos.
Aproveitando a "deixa", Armando fez uma comparação desse panorama do carnaval da Bahia com o a realidade da folia momesca em Pernambuco. Lá, ressaltou Macêdo, a consideração dos organizadores com os artistas locais costuma ser diferente. "Os caras estabeleceram que é lei assegurar a tradição deles! Aqui é difícil fazer uma homenagem a Dodô e Osmar, porque os caras não deixam.
Armandinho destaca que o Carnaval virou uma festa de negócio e nunca houve uma atenção dedicada a Dodô e Osmar. pic.twitter.com/DoCas0Eiio
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