A Dama: Única mulher do pagode baiano em projeto inédito de Xanddy fala sobre “perseguição” no gênero musical
Alanna Sarah já foi dançarina do programa "Universo na Laje", da TV Aratu, apresentado por Alex Lopes
Ela começou na dança, foi backing vocal e hoje está à frente da própria banda, acumulando presenças no Salvador Fest, Afropunk e Carnaval. Tudo isso em apenas cinco anos de carreira. Estamos falando de Alanna Sarah, mais conhecida como A Dama do pagode, que traz representatividade a um ritmo musical no qual a presença da mulher ainda é tímida.
Nesta segunda-feira (12/6), a artista de 28 anos celebra mais uma conquista, participando da gravação do novo projeto audiovisual de Xanddy Harmonia, com a música "Diferentona". "Xanddy é um cara muito na dele, e ter me chamado pra fazer parte disso, junto com ele, é surreal. Vai ficar marcado", afirma Alanna ao Aratu On. Em entrevista ao site, ela comentou sobre a parceria, carreira, referências e projetos futuros. Confira nas próximas linhas:
Início na música
Alanna começou sua carreira musical como backing vocal de bandas de pagode - algumas que nem estão mais no mercado -, e depois virou dançarina do extinto programa Universo na Laje, da TV Aratu, apresentado por Alex Lopes.
"A visibilidade começou ali, na TV, toda sexta-feira, e através disso entrei na banda 'O Pega', como backing vocal. O cantor, Big John, tinha uma música chamada 'Chefe é Chefe', aí fiz uma 'resposta', transformando em 'Dama é Dama'. Mudei a letra dele toda e aí me tornei 'a dama do Pega', dentro da banda", explica. Depois de um tempo, porém, viu que queria mais: "Queria ser além de uma backing vocal; além de estar atrás de um homem, sabe? Eu queria ser protagonista da parada, sacou?".
https://youtu.be/pjDal_jBNXM
A jovem, então, saiu da banda e foi tentar a carreira solo, já como "A Dama", mas ainda sem empresário. "Éramos só eu e meu amigo Jonatas Lima (JL), tentando achar alguma coisa, aí comecei a cantar todo final de semana em Cosme de Farias e no Nordeste de Amaralina, com toda banda que fazia show lá, fazendo participações. Eu não tinha música própria... fazia respostas de músicas e a galera do Cosme e do Nordeste começou a me abraçar", lembra, destacando que nesse momento contou com o apoio de Vinícius Amaral, do grupo "Hashtag", que a levava "pra tudo que é lugar onde ele ia cantar".
Mesmo assim, a cantora seguiu um tempo sozinha, mas sem esconder a decepção ao se lembrar das portas fechadas. "Ninguém acreditava, ninguém queria apoiar", afirma. Foi então que Alanna conheceu o baixista da Banda La Fúria, Henrique Dez, o primeiro que "abraçou" seu projeto e a empresariou, mas a relação dos dois "não deu muito certo", até que ela foi para a Inocente Produções, onde permanece.
Referências
Quem vê A Dama em cima dos palcos, hoje, não imagina que nem sempre ela quis essa posição. "Eu não achava que cantava. Achava que minha parada era a dança. Desde pequena sempre foi a dança, mas aí a vida me levou para outro caminho e só fui aceitando", resume.
A artista reflete, ainda, que apesar de saber de algumas mulheres que já estavam no ritmo, como Ayla Menezes e Rai Ferreira, não tinha proximidade com elas, nem conhecia seus trabalhos. Por esse motivo, também, era carente de referências. "A única que eu conhecia o trabalho era Rai Ferreira, porque ela era do grupo 'Os Africanos' e saiu pra se tornar a 'Madame', aí eu ia substituí-la, mas a vida me levou pra outro caminho", avalia.
Mas Alanna se inspira, sim, em alguém, apesar de pertencerem a gêneros musicais diferentes: a cantora carioca Ludmilla, cujo rosto estampa uma tatuagem da baiana. "A história de vida da Lud é f*da, então me identifico muito, [com] todos os boicotes... A musicalidade da mulher também é f*da. É uma pessoa que começou como MC Beyoncé, ninguém acreditava ou apoiava, e se tornou esse mulherão, se tornou a Ludmilla. Não tem como não se inspirar e admirar", frisa.
Conquistas e representatividade
Apesar do pouco tempo de carreira - incluindo o período da pandemia de Covid-19 - e hits emplacados, a exemplo de "Pirraça" e "Soca Fofo", A Dama critica a forma com que as mulheres do pagode são recebidas pelo público, de forma geral. "Com cantores homens, já chegam abraçando, mas comigo e outras mulheres é uma crítica abusiva, perseguição. Não entendo", pontua.
Ainda assim, consegue colecionar momentos os quais considera grandes conquistas, como o show nos 15 anos do Salvador Fest (2022). "Nunca existiu uma mulher cantando pagode no palco da festa e eu estava ali representando", pontua.
O Carnaval de Salvador também foi memorável para ela, considerando o fato um "divisor de águas" na sua vida. "Eu nem sabia que estaria no Carnaval, aí, do nada, um mês antes, 'caiu' um Carnaval nos meus peitos e me tornei a revelação. Ali foi um divisor de águas na minha vida", completa.
Depois, o Afropunk, maior festival de cultura negra do mundo, realizado em novembro do ano passado, na capital baiana. "Naquele palco pisaram os maiores e eu estava ali, entre eles. É uma festa negra, de cultura, de tudo que acredito e defendo", enfatiza Alanna.
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Xanddy e A Dama
Com esses três "picos" (como ela diz) no currículo, A Dama chega nesta segunda-feira (12) como a única representante do pagode feminino no projeto "Nascendo de Novo", de Xanddy. O show é uma espécie de "Melhor Segunda" - ensaio de verão do cantor -, mas também celebra seu aniversário de 44 anos.
Junto com o anfitrião e o coletivo Afrobapho, eles vão embalar o público com a canção "Diferentona", e Alanna garante que será "incrível". "A forma que está sendo, toda uma preparação em cima de mim, daquilo que ele acredita que eu sou capaz... Então é muito mais do que uma participação, é um momento que vai ficar marcado na vida de muita gente, principalmente na minha", afirma. "A galera vai amar, vai abraçar, de verdade, porque ele [Xanddy] é um cavalheiro e está abrindo as portas para uma dama", completa.
https://twitter.com/aratuonline/status/1666496670991802391?s=20
O show acontece a partir das 19h, na Arena Daniela Mercury, na Boca do Rio, em Salvador, e conta ainda com os seguintes convidados: Péricles, Dilsinho, Léo Santana e João Gomes.
Projetos
Sem entrar em detalhes, a cantora revelou alguns projetos que estão em mente. A ideia é trazer um lado diferente, da Alanna compositora e se aventurando por outros ritmos musicais. "A galera detona muito a gente no pagode, né? Diz que a gente não canta... e está errada sobre isso. Sou compositora, cantora... então vou mostrar um outro lado da minha história", falou. "Cantar pagode está dentro de mim, é minha vontade, minha raiz, e quero viver dessa raiz, mas sei fazer outras coisas", acrescentou.
E se depender da esposa, Gabriela Messy, inspiração não vai faltar. "Sou muito bem casada, com uma mulher maravilhosa, e tenho várias músicas que fiz pra ela. Sempre pensando nela", completa, aos risos, entregando que já vem hit novo nesta semana.
Por fim, Alanna Sarah deixa um recado para as mulheres que, assim como ela, seguem carreiras dominadas por homens, e pede para que "não se frustrem com a frustração alheia". "Quero dizer que elas podem ser o que quiserem, independente da crítica. Que peguem essas críticas, se reconstruam através delas e se tornem cada vez maiores. Vão além e calem a boca dos críticos", conclui.
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